Dentro das formulas regulamentares não poderemos escapar-lhe, mas com cautelas rigorosas podemos ser poupados á sua invasão
A gripe, ha 2 anos invadiu todos os povos que obedeceram ao regulamento de sanidade maritima internacional.
Foi por isso que ela nos arrebatou 3 mil vidas, deixou uma coorte de fatalidades perdurando. Teriam então desculpa. Hoje não. A experiencia dura, tem de corrigir a defeituosidade da lei maritima. É a suprema lei.
É na experiencia que se estuda e dela é que saem as leis.
Acima das imposições em nome de uma lei que terá de ser corrigida, esta o povo que em nome da experiencia e dos seus multiplos e caros interesses se defende.
Nem o conselho de saude de Lisboa nem o sr. ministro do trabalho teve razão
Porque tinhamos cá posto de desinfecção, hospital d’isolamento etc. não era licito impôr quarentenas aos navios, disseram.
Mas tudo isso mesmo tinhamos já nós em 1918. E por causa d’isso mesmo e da mesmissima legalidade maritima internacional, agora insinuada das estações superiores, de Lisboa, é que essas 3 mil vidas, quasi todas elas de gente dos campos, que à vida economica micaelense ficaram faltando tão abrutamente, constituiram uma inolvidavel hecatombe. Por causa de tudo isso mesmo é que toda a ilha se converteu n’um hospital – mas num hospital sem recursos em que os medicos se negavam aos enfermos por não poderem mais, em que as miserias, os faltas de agasalho, de pão, de carne, de medicamentos, de serviçais, eram tantissimos outros sofrimentos, hospital para o qual as estações centrais não se apressaram a enviar um navio com socorros.
E foram estrangeiros que a serviço tão humanitariamente importante se prestaram.
Mas com prevenções rigorosas poderemos evitar o mal
Num relatorio do sr. dr. Ricardo Jorge, que é o diretor geral de saude em Portugal, lê-se:
“Diz-se que na epidemia de 1889 a Australia preservou-se devido a um sistema de quarentenas. Nos portos das ilhas tem-se egualmente ensaiado este sistema em 1918 sem sucesso. Comtudo as pequenas ilhas das Flores, S. Jorge e Santa Maria que se isolaram das suas visinhas foram poupadas”.
Portanto o isolamento dos navios ou a recusa de comunicações poderão preservar-nos da nova epidemia.
É o que a reunião da Junta de saude no governo civil deste districto em 6 do corrente decidiu que achamos acertado para esse efeito, e que voltamos a aplaudir, reprovando as instancias empregadas junto dos parlamentares de Ponta delgada.
Tratava-se de uma decisão convicta e toda consciente.
Reprovamos egualmente o que se passou com o Funchal e o Britania, bem como o proceder de desacato e prepotencia por parte de certos passageiros que á autoridade de saude recusaram a mala, dizendo que – ou a mala e eles ou nada.
É de toda a dignidade da autoridade maritima que se não repita para com ela e o publico local fato identico.