(...) no país vizinho – O que pensam a seu respeito alguns especialistas espanhois
Do “Seculo” da noite:
“Temo-nos ocupado, em telegramas, de varios casos perfeitamente caracterisados da terrivel doença conhecida por “encefalite letargica” ocorridos em França e em Espanha.
A perigosissima enfermidade recrudesce naqueles dois países, apesar das medidas profilaticas postas em rigor e do ataque directo, com os recursos até agora conhecidos da sciencia. Na Espanha, pais visinho do nosso, a encefalite letargica alastra assustadoramente, recebendo-se em Madrid, diariamente, noticias de casos graves, manifestados em varios pontos da provincia. É grande o panico das populações e os medicos estão vivamente empenhados em combater eficazmente a doença. O dr. Cesar Juarres, cujo labor scientifico se acha espalhado em varios livros de reconhecido valor, em artigos de revistas e em conferencias diz o seguinte a respeito da referida doença.
“A encefalite letargica é sempre gripal, mas é preciso fazer distinção entre as complicações nervosas da gripe e a verdadeira encefalite letargica. Esta apresenta tres grupos de sintomas: primeiro, infecção gripal; segundo, letargia; terceiro, paralisia dos musculos dos olhos. O prognostico, nas formas claras de encefalite letargica, é gravissimo; nas duvidosas, leve. Eu observei seis casos de encefalite letargica, seguidos de morte, e quinze de complicações nervosas, morrendo apenas trez dos doentes. No diagnostico desta enfermidade tem havido muitos erros, tendo-se confundido com encefalite letargica muitos casos de natureza diferente. Convem distinguir certas formas de meningite gripal com sonolencia das quaes observei dois casos, tendo ambos bem nitidos os sintomas especiaes da meningite. Em todos os casos duvidosos, convem fazer a punção lombar, porque não é certo, como acreditava o dr. Neter, que nas encefalites haja sempre normalidade absoluta do liquido cefalo-raquiteano, pois são frequentes os casos de linfocitose.
O tratamento empregado por ele é a solução de urotropina em injecções intra-venosas.
Poucos trabalhos de laboratorio se têm feito em Espanha. Unicamente em Valença, que é onde se tem dado maior número de casos, se fizeram alguns, mas até hoje não se chegou a resultados praticos.” Tem agora a palavra o distinto medico madrileno, dr. Maranon:
“A doença de que se trata não deve chamar-se encefalite letargica, mas sim “meningoencefalite epidemica”. Sôbre a relação que tenha com a gripe, creio que é uma consequencia da infecção gripal. Ha semelhanças com o que se dá na paralisia geral a respeito da sifilis. Registam-se muitos casos que não são de verdadeira encefalite e a mortalidade é muito maior do que se cria a principio. Eu já observei 14 casos, dos quais 5 fatais. No hospital tive alguns casos ligeiros. Confunde-se muitas vezes a encefalite com a meningite tuberculosa, e para assegurar o diagnostico, o melhor é fazer a punção lombar e a analise do liquido cefalo-raquideano, notando-se, se se trata de enfalite, falta de albumina e aumento de açucar, e precisamente o contrario no caso de meningite. Não se póde dizer que a doença se manifesta com mais frequencia no homem que na mulher. Eu estou de acôrdo com o dr. Fernandez Sanz em tudo, menos no que respeita á febre, porque observei alguns casos com a temperatura normal. A encefalite epidemica póde atacar os doentes de gripe, mas parece lógico que sejam vitimas dela os que tenham predisposição para transtornos do sistema nervoso. Como tratamento, deve empregar-se a função [sic] lombar e as injecções intra-musculares de urotropina.” É isto o que dizem os ilustres medicos espanhois citados. Vê-se que em Espanha, como em França se trata de combater a perigosa enfermidade. Seria muito conveniente que se fossem cá tomando medidas para evitar a visita do terrivel hospede.