Duração de microbios atravez de seculos
Uma comunicação feita à Academia de Sciencias de Paris
Durante largo tempo foram sujeitas a desinfecção as correspondencias postais como susceptiveis de transmitir contaminações de qualquer especie infecciosa.
De certo tempo para cá as correspondencias que transitam pelos correios algumas das quais transportando amostras ou materias suscetiveis, deixaram de sofrer desinféções; a não ser excecionalmente, por um extremo de precaução, mas sem que o regulamento sanitario, ao menos de uma maneira geral o determine.
Tem sido considerado sem perigo d’inféção o papel. Aliás, como as malas e as cargas ter-se-ia imposto as correspondencias postais a obrigação de serem beneficiadas.
Não sabemos se tem sido bem definitivamente assentes as idéas a este respeito, se todos tem estado de acordo sobre a inocuidade e intransmissibilidade morbida das correspondencias. Mas ainda que tenham subsistido duvidas, a pratica sanitaria não tem compreendido rigorosamente, como se sabe, áquela especie de serviço proveniente de terras e paizes contagiados.
Todavia uma recente comunicação cientifica, a respeito da impregnação e existencias dos microbios põem bem a claro o perigo que os papeis oferecem e como são veiculos e habsiat de baterias.
Lemos a este proposito o que segue em uma revista que julgamos dever esclarecer suficientemente os perplexos e os incredulos.
Toda a gente sabe que os velhos livros e papeis são habitados por colonias de microbios de que podem vir perigosos contagios. Mas não se supunha que esses pequenos organismos durassem por tão longos anos, em estado de vida latente, passando ao de vida ativa logo que se encontrem em condições favoraveis de temperatura e de humidade.
Pois o sr. Galippe comunicou recentemente á Academia de Sciencias de Paris, que examinou papeis do seculo XVIII, encontrando neles uma flora abundante e variada que submetida aos classicos processos de cultura se comportou como qualquer colonia de microbios nascidos da vespera.
Ah! Mas isto não é nada. Com papeis do seculo XV sucedeu o mesmo e até um dos microorganismos, que o sr. Galippe ressuscitou, apresentava notaveis semelhanças com o terrivel bacilo do tétano.
O investigador subiu ainda na série das idades. Veneraveis manuscritos chineses, papiros egipcios do tempo dos Ptolomeus, o demonio. O resultado o mesmo mas seriam, na verdade, êsses microorganismos contemporaneos de mortalha donde os arrumaram, ou tinha sido envoltos nela em epoca posterior?
O sr. Galippe, para tirar o caso a limpo examinou, paralelamente,um papiro datando de 200 anos antes de Cristo e fragmentos da planta fresca. Pois encontrou a mesma disposição das celulas e fibras vegetais e, o que era importante para o problema que se apresentava, formas microbianas nos dois casos identicos.
O cumulo do contagio ser infetado por um microbio que já tivesse brincado nos labios de Berenice ou de Cleopatra!
[n.d.] - "Os microbios e os papeis - Porque se não contagiam as correspondencias postais?"
in Diário dos Açores
de 18 de Maio de 1920, nº. 8487, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1067.