São curiosas as confidencias que o dr. Graham Bell, inventor do telefone fez a um jornalista inglês, revelando-lhe a historia do seu grande invento.
A minha intenção – disse ele – era apenas estudar as diversas fórmas de vibrações produzidas pelos sons das diferentes vogais e invogais (consoantes), afim de que as crianças surdo-mudas chegassem a entender por meio da vista a significação do discurso, pela impressão que os seus diferentes sons gravaria em chapas sensiveis a estas vibrações. Durante o curso das minhas experiencias, puz em pratica a indicação do dr. Clarence J. Blake, distinto otologo de Boston, consistente em utilizar como fonoautografo o ouvido dum cadaver, conseguindo obter por este processo, sobre vidros fumados, magnificas impressões absolutamente claras e determinadas de vibrações produzidas pela voz humana. E precisamente as reflexões que fiz sobre este ouvido fonoautografo foi o que me sugeriu a ideia do primeiro telefone, pois foi então, com efeito, que eu cheguei a conceber o que hoje se conhece sob o nome de corrente ondulatoria elétrica. Dos meus estudos sobre a materia deduzi que se poderia produzir uma corrente ondulatoria pelas vibrações duma armadura colocada em frente dum electro-iman, sempre que estas vibrações correspondessem ás do ar, durante a duração do som.”
Em 1874, inventou e poz em pratica o modo de produzir vibrações por meio de voz humana, numa armadura de ferro, unindo esta, para o efeito, com uma membrana esticada.
Esta concéção teorica teve forma pratica no ano imediato, foi aceita em 1876 e começou a ser utilizada pelo publico do ano seguinte.
Sustentou o dr. Graham que, a esse tempo, o telefone estava ainda na sua infancia, porque embora já explorado havia trinta anos, o invento permanecia, na sua essencia, tal como quando ele o deu a conhecer, visto que os aperfeiçoamentos introduzidos só se referiam ao material secundario.
Todo o aperfeiçoamento do aparelho consistiria numa simplificação desse material.
O dr. Graham tinha como coisa provavel o virmos a disfrutar, mais cedo ou mais tarde, a telefonia sem fios.
E para terminar, registaremos o extranho [sic] paradoxo a que o ilustre inventor aludiu:
“Geralmente, consideram-me como um electricista, mas, em abono da verdade, devo dizer que inventei o telefone precisamente pela minha ignorancia da electricidade, porque a nenhum elétricista ocorreria nunca fazer as experiencias que eu fiz, pois que a um homem versado nestes assuntos teria parecido um disparate a ideia de produzir uma corrente utilizavel de elétricidade por meio da voz humana sobre uma chapa de metal. Portanto, a quem quer que tivesse sido apenas elétricista era impossivel haver inventado o telefone. Para isso, nada mais se requereria que um conhecimento pratico da natureza do som e da estrutura ou mecanismo da linguagem, amboas as coisas eu possuia desde a infancia.”
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