Esta doença é contagiosa; susceptivel de ser transmitida de pessoa para pessoa, de objectos sujos por productos de pessoas doentes, como o puz dos bobões, dos abcessos e das feridas e tambem algumas vezes pela expectoração.
Póde igualmente ser transportada pelos parasitas, as pulgas, os percevejos e pelas formigas, moscas, etc., e muitos pelos ratos e pelos morganhos.
O germen da peste é um pequeno ser só visivel ao microscopio, bacillo, microbio, que se encontra nos productos acima enunciados e tambem no sangue dos doentes.
Estes germens quando encontram condições proprias desenvolvem-se e reproduzem-se com uma rapidez e abundancia extraordinarias.
Penetram no nosso corpo principalmente pelas feridas e pelas simples excoriações.
Porque a doença é contagiosa, o primeiro cuidado a ter é evitar todos os contactos com as pessoas ou cousas vindas do local onde existe a epidemia, a não ser que se esteja bem garantido de que essas pessoas estão sãns e as cousas foram bem saneadas pela desinfecção.
Em segundo logar, conhecido como é actualmente, que entre as condições de desenvolvimento dos germens tem logar preponderante a falta de limpeza e a acumulação de immundices, claro que é outro preceito da maior importancia é cuidar como o maximo cuidado do saneamento individual e do domestico.
Para os contactos que se não possam evitar, a defeza está em subtrahir as condições que na sugidade encontrariam os germens para se desenvolverem.
Cumpridos estes preceitos fundamentaes, pelo modo que vae ser ensinado n’estas instruções, a sciencia experimentada garante por tal fórma a preservação pessoal e collectiva, que tem para si como o mais irrecusavel dos modernos aphorismos serem evitavais as doenças epidemicas.
É preciso que todos se convençam de que esra asseveração se funda em factos positivos e de que não é demais quanto façam na execução de que vae ser aconselhado; porque mais vale tomar precauções, que por excessivas cheguem a ser inuteis, do que expor-se a comprometer a saude por falta de previdencia, sempre condemnavel.
A par da diligencia com que cada um quer pôr-se ao abrigo do ataque do mal, é preciso considerar o empenho com que deve contribuir para o exito geral da prophylaxia da população.
Os cuidados de saneamento geral estão confiados ás auctoridades administrativas e sanitarias; mas a sua acção precisa sempre a garantir-lhe a eficacia o concurso da boa vontade e da acção individual.
Assim é que, quem ao cuidar da sua propria beneficiação afasta de si quanto é mau, para, mais ou menos a occultas, lhe dar vasão sem cuidar como, nem para onde, transgride os preceitos e annulla o beneficio procurado. Quem, por exemplo, despeje o lixo de sua casa para a via publica, ou o esconda no seu quintal ou o atire para os dos vizinhos, ou lance os despejos, as aguas de lavagens em sitios que podem ir enquinar as aguas de abastecimento e uso domestico, pratica sempre uma transgressão de policia sanitaria, mas, quando se trata da previsão contra uma epidemia, essa transgressão chega a ser um crime.
A execução de medidas aconselhadas é verdadeiramente um dever social, quando se trata de prophylaxia, como é dever denunciar e promover o necessario tratamento de todo o foco immundo de que tenha conhecimento, como é dever denunciar ás auctoridades os casos que cheguem ao seu conhecimento de doença suspeita de ser epidemica, muito embora a essas auctoridades e aos medicos pertença a fiscalisação especial da sanidade da povoação.
Um só caso de peste ou de outra doença epidemica occultado, póde originar a mais forte e mortifera das epidemias; esse mesmo caso denunciado e tratado convenientemente, por quem sabe, fica sem consequencias.
Em tão pouco está a sorte de uma população ameaçada por uma epidemia que devasta proximo.
A sciencia de hoje não tem receios de uma epidemia quando lhe dão os meios de exercer a sua acção, e para isso basta que lhe dêem conhecimento do primeiro caso da doença; é preciso que a população tambem se não amedronte, para o que basta que, cumprindo os seus deveres em tudo, não procure illudir a sciencia e confie nos resultados que ella lhe promette.
A população do paiz já tem a prova de que essa promessa não é vã.
Para lhe não lembrar senão o que diz respeito ás grandes epidemias, recorde-se dos dois casos de febre amarela, que ha annos se deram em Pedrouços e ali foram extinctos, sem propagação; saiba dos que têem ficado sepultados no Lazareto; tenha em vista a sequestração e extincção do cholera em Elvas, repare nos sete casos de cholera de 1865, na cidade do Porto...
Com taes garantias empenhem-se todos em cumprir o seu dever auxiliando as auctoridades competentes com a franqueza e a exactidão das suas declarações, em vez de se retrahirem nas contorsões de um medo insciente, que para tudo é prejudicial e a victoria dos esforços communs será certa.
[n.d.] - "Instruções contra a peste - Noções gerais - (extraidas do “Diario do Governo” de 1899, quando rebentou a peste no Porto)"
in Diário dos Açores
de 25 de Outubro de 1920, nº. 8618, p. 1 (col. 6-7). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1143.