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Texto da entrada (ID.1144)

Na previsão de uma epidemia de peste ou durante ella, a dois principios fundamentaes se reduzem os preceitos a seguir para evitar a doença: isolar-se dos vehiculos do contagio e destruir em si os elementos que seriam favoraveis ao desenvolvimento dos germens maus quando se não tenha podido evitar os contactos impuros.

O primeiro d’estes preceitos cumpre-se na medida possivel, pelo conhecimento dos vehiculos principaes dos contagios, para os evitar. Esses vehiculos são todos os productos vindos dos doentes, quer directamente quer indirectamente por intermedio das roupas e objectos que  por elles tenham sido sujos; são todos os objectos que, no momento, longe dos doentes se tenham tornado suspeitos porque n’alguma ocasião as pessoas que visitaram doentes, ou os objectos que estiveram em contacto com outros de uso dos enfermos; são os insectos, como os mosquitos, as pulgas, os percevejos, e as formigas; são os animaes roedores, como o rato, o morganho; são os gatos e portanto os objectos cujo contacto estes animaes mais procuram.

Convem por isso não esmagar ou pisar formigas ou os insectos, evitando o estar em logar onde elles abundem.

O segundo preceito cumpre-se pelos constantes e esmerados cuidados com que cada um deve tratar o seu corpo e que se resumem nos seguintes artigos:

1º Asseio do corpo mantido por banhos geraes ou pelo menos lavagens de todo o corpo e lavagens locaes com sabões, entre as quaes se devem preferir os que têm na sua composição substancias antisepticas, como são os de acido phenico, sublimado corrosivo, etc. Estas lavagens devem ser feitas com liquidos antisepticos durante a epidemia, e melhor será que se façam mesmo na previsão d’ella.

As lavagens com que se desinfectam as mãos devem ser feitas, depois de ter limpado primeiro as unhas a secco com escova e sabão ordinario em agua quente, e depois, com liquido antiseptico.

Com liquido igual mas limpo, deve-se humedecer o cabello e lavar a cara.

A lavagem das fossas nasaes é de alta importancia e a conservação da sua sanidade. A lavagem far-se-ha pelos meios habituaes, ou por injecção quem for sugeito a sofrimentos que dão permanente corrimento nassal (por exemplo a osena). A desinfecção faz-se, aspirando de tempo a tempo, como quem toma rapé, um pó em que entre o mentol (vide Formulario).

Asseio do vestuario todo, particularmente das roupas que estão em contacto com a pelle.

3º Garantir o corpo, principalmente o ventre e os pés, contra o frio e contra a humidade.

4º Conservar sem alteração os seus habitos de vida, quem os tiver sãos e regulares. Conservar-se n’um regimen moderado, excluindo os alimentos indigestos, irritantes ou laxantes, as frutas verdes e em geral tudo quanto seja cru.

5º Ser cauteloso na escolha de agua e de outras bebidas (Vide Prophylaxia domestica)!

6º Evitar excessos alcoolicos.

7º Não tomar bebidas muito frias, nem gelo quando esteja em transpiração

8º Evitar todas as causas de esgoto: fadigas de corpo ou de espirito, emoções moraes, vigilias prolongadas, excessos sexuaes.

9º Não frequentar as grandes agglomerações de pessoas, como são as grandes festas, as feiras, etc.

10º Não visitar doentes e quando tenha por força de o fazer ter em vista o que vae preceituado n’estas instruções em relação a doentes isolados, e o mais cuidado de mudar de facto, se visitou doente de doença contagiosa.

11º Evitar o contacto com pessoas vindas de logares contaminados.

12º Não se servir  das latrinas publicas e, quando isso lhe seja indispensavel, ser escrupuloso em manter o aceio [sic] do corpo e do fato, nos termos já recomendados.

13º Não desprezar nenhuma indisposição que sinta, por ligeira que seja; cuidar particularmente de todas as perturbações digestivas, com conselho de medico.

14º Não andar de pés descalços nas ruas nem mesmo nas habitações. Diminuirão assim os riscos dos pés tocarem em objectos polluidos.

15º Trazer sempre coberta e resguardada qualquer ferida da pelle, esgarçadura ou erosão, por mais insignificante que pareça. Realisa-se isto com o collodio e na sua falta com um pó antiseptico, phenico ou salol, coberto por uma camada de algodão.

16º Convem polvilhar o calçado por dentro com uma pequena quantidade d’esse pó.

17º Ser muito cauteloso com a limpeza dos objectos de toilete, pente, escovas, etc. que devem ser de uso exclusivo individual, visto que os insectos são uns dos portadores da peste e poisam sobre os cabellos.

Limpam-se os pentes e as escovas lavando-os primeiro com uma solução de soda ou de potassa ou simplesmente com sabão, mergulhando-os depois, durante duas horas, n’uma solução de sublimado corrosivo. As esponjas e escovas de dentes depois de lavadas em agua quente (45º) ficam em banho de sublimado por vinte e quatro horas.

Todos esses objectos, depois de tirados do banho, devem secar-se ao ar livre.

18º Ser reservado em todos os actos que nas nossas relações sociaes são uma vez simples cumprimento, outras testemunho de afectos ou impulsos de sensibilidade. 


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Instruções contra a peste - Noções gerais - (extraidas do “Diario do Governo” de 1899, quando rebentou a peste no Porto)" in Diário dos Açores de 26 de Outubro de 1920, nº. 8619, p. 1 (col. 5-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1144.



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