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Texto da entrada (ID.1150)

A vaccinação anti-pestosa por meio de inoculação de culturas mortas de B. pestis foi descoberta por Haffkine, que anteriormente preparara tambem uma vaccina anti-cholerica, segundo o mesmo methodo; comtudo foi Ferran o primeiro do a pôr em pratica a vaccinação anti-cholerica pela inoculação de culturas mortas do vibrião especifico Justo é pois manter, como resolveu a “Comissão Internacional de sôros e vaccinas”, reunida no Porto em 1899, a designação Ferran-Haffkine a este methodo.

Kaffkine preparava a sua vaccina, cultivando o bacillo da peste em caldo, cuja superficie era coberta por uma camada de gordura da qual pendiam os productos culturaes sob a fórma de estalactites; depois d’um crescimento suficiente os bacillos eram mortos pelo calor e, segundo vêmos no tratado da peste de Simpson, injectavam-se 2,55 c. c. a cada individuo.

Depois seguiu-se outro methodo de preparação, consistindo nas culturas em meios solidos – gelose –, adoptando tambem a acção do calor para os matar.

Lustig e Galeotti prepararam tambem uma vaccina, extrahindo dos corpos dos bacillos cultivados em gelose um nucleo-proteide por meio d’uma solução de potassa caustica a 1% e consecutiva precipitação pelo acido acetico ou chlorhydrico. Finalmente tentou-se a vaccinação com bacillos vivos, avirulentos.

Não pode estar no nosso programma entrar em minucias no tocante aos trabalhos laboratoriaes referentes a este assumpto; isso alongaria demasiadamente este capitulo, que desejamos tão somente resuma as noções correntes sobre os resultados da vaccinação na lucta contra a peste. Ainda assim, assentando na superioridade da vaccina obtida por culturas em meios solidos sobre a primitiva de Haffkine, não deixaremos de consagrar algumas palavras á vaccinação por culturas vivas.

O trabalho mais importante neste assumpto é, segundo crêmos, o de Strong[1], que usou duas culturas vivas, mas attenuadas, do bacillo, da peste, uma designada com o nome de Avirulent Pest e outra conhecida por Maasen Alt: a primeira não matava a cobaya em injecção subcutanea mesmo na dose de 1 a 2 tubos de gelose, ao passo que com a segunda as cobayas de 200 a 300 gr. Sobreviviam, em regra, á injecção de uma a duas culturas, mas morriam algumas vezes.

Para avaliar do valor comparativo dos differentes processos de vaccinação, Strong começou por inocular cobayas e macacos, notando em 15 dos primeiros animaes, e em 73 dos segundos que a sua resistencia, quando inoculados depois com peste virulenta, não excedia 23% nas cobayas e 32% nos macacos. Depois vaccinou com a sua Avirulent Pest 71 cobayas e 44 macacos; passados dois mezes injectou-lhes peste virulenta, averiguando a resistencia de 72% nas cobayas e de 52% nos macacos.

Experimentando em seguida a raça do bacillo pestoso mais virulento, que elle designou com o nome de Maasen Alt, morreram-lhe da vaccinação 5 dos 49 macacos inoculados e egual sorte tiveram 6 das 47 cobayas injectadas; comtudo, nos animaes que resistiram a immunidade era muito maior do que nas duas experiencias precedentes – 70% nos macacos e 80% nas cobayas.

Vaccinou tambem com receptores livres 9 macacos, não dando a experiencia resultados satisfactorios, visto que só sobreviveram 2 à inoculação virulenta, feita 10 a 12 dias após a vacinação.

Segundo estes dados, a virulencia da vaccina parece ser um factor importante nos resultados da immunisação; por isso Strong procurou estudar as suas variações, entregando-se a longas experiencias sobre a virulencia das raças attenuadas e virulentas do bacillo da peste. O primeiro facto averiguado foi que a sua Avirulent Pest, após 247 passagens pela cobaya, não estava nem mais nem menos virulenta e designada Avirulent Manilla que, depois da passagem de 25 macacos, não sofreu alteração. D’aqui se conclue que a passagem atravez dos animaes é incapaz de exaltar o bacillo da peste attenuado.[2]

Convinha agora averiguar se a inversa é possivel a nesse sentido Strong, tendo a convicção de que o bacillo pestoso, conservado em tubos fechados á lampada e ao abrigo da luz, mantinha por muitos annos a sua virulencia, sendo improficuas as tentativas em attenuar-lhas em meio artificial, experimentou comtudo o methodo de Hetsch, que consiste em cultivar o bacillo á temperatura de 41% a 43% C. em caldo, ao qual se vão juntando dóses crescentes de alcool. Usando este processo com o seu Avirulent Manilla conseguiu ao fim de 7 meses diminuir-lhe a virulencia sensivelmente; a cultura, que no principio matava uma cobaya de 200 a 300 gr. na dóse de uma a duas ansas, só a matava no fim na dóse de um tubo de gelose, e ainda assim algumas vezes o animal resistia. Porém as experiencias de attenuação d’um bacillo virulento deram resultados muito menos satisfactorios, a despeito das experiencias terem durado 17 mezes. De tudo isto concluiu Strong que a virulencia do bacillo da peste, seja qual fôr o seu estado inicial, é um attributo muito fixo na bacteria à sua variação. Portanto, julgou poder empregar com segurança o seu Avirulent Pest na vaccinação humana, usando um tubo de cultura inteiro nos adultos e metade ou um terço nas creanças.

Conclue

Carlos Fortes


[1] Studies in plague immunity – Phillippine Journ. Of Sc, t. II, nº 3, pp. 155 e 301. Cit. in Bulletin de l’Institut Pasteur, t. v, p. 992.

[2] O Prof. Sousa Junior tambem não conseguiu nunca exaltar a virulencia de varias culturas velhas, passadas muitas vezes pelas cobayas. Tambem não é possivel augmentar a virulencia d’um bacillo virulento, inoculando-o sucesssivamente nos animaes, foi o que notou a Comissão Ingleza na India, praticando um grande numero de inoculações em ratos.


Referência bibliográfica

Carlos Fortes - "Do livro – A peste bubonica - A vacinação" in Diário dos Açores de 5 de Novembro de 1920, nº. 8627, p. 1 (col. 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1150.



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