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Texto da entrada (ID.1159)

4ª – O rato, que alberga em maior quantidade L. cheopis na Algeria, é o da especie M. norvegicus[1], que abunda nas cidades e principalmente nos portos.

5ª – Portanto, é sobretudo aos ratos dos exgotos que devemos aplicar as medidas de desratisação, que constituem a parte essencial da profilaxia anti-pestosa. Assim Billet entende que, na Algeria como em toda a parte, se deve praticar a desratisação sistematicamente e sem desfalecimento.

Apresenta-nos tambem os processos, que ele crê mais recomendaveis no exterminio dos ratos. Na desratisação dos navios julga que os aparelhos de desenvolvimento de anhidrido sulfuroso fizeram as suas provas, que ele mesmo teve ocasião de confirmar introduzindo cobayas no interior dos navios, as quaes com a sulfuração morreram em 15 a 20 minutos.

Pelo que respeita à desratisação dos exgotos, onde a sulfuração deu bons resultados, como vimos, no Rio de Janeiro, propõe Billet o processo que se póde chamar de chloretação, experimentado com resultados satisfatorios en Constantina. Este processo consiste em lançar nas bocas dos exgotos chloreto de cal diluido ao terço adicionando-se meia hora depois acido chloridrico ao decimo. Assim, o chloro nascente da reacção entre o hipochlorito de calcio e o acido chlorhidrico asfixiaria rapidamente os ratos, em virtude do peso do gaz, que penetra até á profundidade dos buracos, onde eles se alojam. Efetivamente uma experiencia realisada nos exgotos de Casbah permitiu encontrar uma grande quantidade de cadaveres de ratos asphixiados pelo chloro.

Tratando das substancias toxicas para os ratos, Billet diz ter tirado bom resultado das suas experiencias com o pó de scilla encorporado na carne crua e essencia de anis (100 gramas do primeiro para 1 kilograma da segunda e XXX gotas da terceira)[2].

Sendo o rato dos exgotos o principal veículo da peste, especialmente fóra da India, há uma medida de extrema urgencia a completar a desratização, segundo Billet; é a remodelação das canalisações. Vimos tambem que é este o parecer de Rupert Blue.

Outro facto, apontado por Billet e que considera uma grave falta hygienica no tocante á prophylaxia da peste, é a acumulação dos cereaes sem resguardo nos caes; os ratos pestosos dos navios, invadindo as localidades, encontram logo meio fartamente provido de comestiveis; ahi se fixam e, portanto, contagiam os ratos de terra, que já existam tambem. Para obviar a esse inconveniente, entendia Billet que os proprietarios dos armazens deviam ser obrigados a limitar o tempo de permanencia dos cereaes nas proximidades dos caes e a praticar frequentemente a desratisação.

O conselho de Billet ás autoridades administrativas determinou o governador geral da Algeria, Jonnart, a dirigir em março de 1908 circulares aos perfeitos dos diversos departamentos, para que se organisasse um serviço permanente de desratisação e se tomassem medidas em todos os portos tendentes a evitar a peste.

A desratisação permanente, a cargo da Direção de Saude de Algeria, praticar-se-á por todos os processos uteis, tanto a bordo dos navios, como nos caes e no interior das cidades; para isso haverá uma brigada de desratisação, habilitada com conhecimentos sobre desinfeção e o modus faciendi de preparações com orgãos dos ratos caturados, sobre os quaes incidirão exames bateriologicos, executados d’uma maneira regular e permanente. A brigada, composta de tres pessoas competentes, será tambem encarregada da educação d’outro pessoal nas diferentes direções sanitarias.

O governador geral, lembrando a circular ministerial de 30 de novembro de 1907, respeitante ás medidas de desratisação em todos os portos francezes, insiste na necessidade de cuidar atentamente dos exgotos, onde os ratos se refugiam. Lembra tambem ás municipalidades a reparação dos antigos exgotos e a necessidade de usar materiaes á prova de rato (canos vidrados, de ferro ou de cimento). As camaras de comercio obrigar-se-ão a concorrer para a defeza sanitaria dos portos adoptando medidas indispensaveis para assegurar a destruição dos ratos nas dokas e nos armazens dos caes.

A administração das pontes e calçadas velará pela limpeza dos portos, evitando que neles se acumulem mercadorias que fornecem farto alimento aos ratos (cereaes, farinhas, etc.); além d’isso aplicará os regulamentos que fixam o praso da permanencia das mercadorias nos caes.

Em particular recomenda-se que essas mercadorias sejam armazenadas em locaes fechados, faceis de desinféta [sic] por antisepticos gazosos ou rodeados de lamina de zinco ou ferro, introduzida na terra e suficientemente elevada para impedir a entrada ou saida dos ratos. As pilhas de sacaria deverão colocar-se nas partes do caes com o solo á prova de rato, sendo separadas d’ele por pranchas assentes sobre vigas suficientemente altas para darem passagem aos tubos dos apparelhos de desinféção a até aos gatos e aos cães rateiros[3].

Da campanha de Caracas, Venezuela, em 1909, não pudemos obter uma noticia circunstanciada; mas pela leitura de alguns numeros da Gaceta Oficial[4], jornal do governo dos Estados Unidos de Venezuela e da Gaceta Municipal do governo do distrito federal, somos levados a admitir que, embora se mantivessem medidas sanitarias antiquadas, pelo menos uma parte da campanha se dirigiu contra o rato. Assim, a comissão de Higiene Publica de Caracas, publicou um aviso aos caçadores de ratos, advertindo os de que deviam captura-los vivos, porque mortos são perigosos por causa das pulgas que, ao abandonar o corpo do animal após a morte d’este, vão infétar o homem, picando-o. Aconselhava por isso alguns meios para destruir as pulgas de ratos (após insecticidas, agua fervente, creolina, leite de cal, sulfato de cobre, etc.).

Carlos Fortes


[1] As percentagens das differentes especies de pulgas nos ratos da Algeria é dada pelo quadro seguinte: (segue-se o quadro)

[2] As experiencias do Prof. Souza Junior na Terceira com esta formula não deram resultado satisfatorio; ministrando aos ratos bolas feitas d’aquela massa e ao mesmo tempo pedaços de pão de milho, viu-se que os ratos preferiam este, tendo deixado intatas todas as bolas.

[3] Como se vê, as medidas propostas para a Algeria são muito semelhantes ás adotadas por Rupert Blue em S. Francisco da California.

[4] Neste jornal, durante a epidemia, aparecia sempre o boletim sanitario diario com as ocorrencias sobre a epidemia, aliás pequena, pois que em muitos dias não se registava um só caso de peste. Vê-se que ali não foi adotado o regime de mentira.


Referência bibliográfica

Carlos Fortes - "Do livro – A Peste Bubonica - A 2ª Campanha em S. Francisco da California - Contra a peste 1907-1908" in Diário dos Açores de 16 de Novembro de 1920, nº. 8636, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1159.



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