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Texto da entrada (ID.1160)

Foi creado no Laboratorio da Universidade um serviço regular de analyse de ratos, cujos resultados eram transmitidos diariamente ao publico e publicados no jornal so governo. Formaram-se brigadas de desratisação, a cujo pessoal se distribuiram ratoeiras e que concentravam os seus serviços nas casas em que apareciam doentes pestosos e nas imediações. O aparecimento de dois casos de peste numa cocheira, a 19 de julho de 1909, determinou um trabalho de saneamento na zona limitada pelas ruas Este 3 e Este 7 e Norte 3 e Norte 7, a qual se tinha mostrado já infecionada no ano anterior; empregaram-se neste trabalho 200 homens, obstruindo diariamente algumas centenas de luras de rato, distribuindo venenos por todas as latrinas e bocas de lobo e removendo todas as imundices das cocheiras, onde os ratos eram procurados com especial cuidado. As ratoeiras eram colocadas principalmente nos pateos das casas, sendo inspecionadas algumas centenas de habitações por dia. Tambem se adotou o systema de fumigar as tocas dos ratos, nas quaes algumas vezes se lançavam pedaços de queijo envenenado com arsenico.

Sobre a campanha de desratisação no Japão poderemos dizer rasumidamente [sic] que, embora algum desanimo tenha aparecido por se não ter extinguido completamente a peste murina, apesar do morticinio de bastantes milhões de ratos, a verdade é que a corrente dominante se faz no sentido de alargar cada vez mais os beneficios da desratisação.

Efetivamente, no ultimo Congresso de Budapesth, Kitasse (?) declarou que, seguindo a opinião de Koch, se instituia no Japão o combate dos ratos pelos gatos, preferindo as especies d’estes felinos mais vorazes sob o ponto de vista raticida, insistiu tambem na necessidade de adotar esta providencia, antes do aparecimento das epizootias pestosas murinas, a qual deve considerar-se como medida prophylatica para a destruição dos ratos nas regiões ameaçadas de serem invadidas de peste.

A campanha da Ilha Terceira, que constituirá um capitulo especial d’este trabalho, deu motivo para se ventilar em Lisboa a desratisação prophylatica. Assim vêmos em A Medicina Contemporanea, de 28 de março de 1909, que na ultima sessão da Camara Municipal de Lisboa fôra presente um oficio do governador civil, acompanhando uma proposta do Conselho Superior de hygienico[1], com a qual o ministro do reino se conformara, convidando a Camara a organisar, em serviço de exterminio de ratos na capital; o vereador senhor Miranda do Vale, falando sobre este assunto, acha que os meios indicados para extinção dos ratos têm todos os seus inconvenientes e que a principal medida a tomar seria o melhoramento da canalisação de exgotos, conforme propozera já numa das ultimas sessões.

Em sessão de 7 de junho de 1909 da Sociedade das Sciencias Medicas de Lisboa, foi enviado á sua Comissão de Higiene um oficio da Camara Municipal da mesma cidade em que se pede áquela veneranda agremiação que elabore umas instruções populares para a destruição dos ratos.

Carlos Fortes


[1] O Conselheiro  Guilherme Ennes, ilustre diretor do Posto de Desinfeção Publica de Lisboa, foi quem propoz ao Conselho Superior de Hygiene Publica em sua sessão de 2 de março de 1909 que ele consultasse no sentido de se organisar em Lisboa a campanha contra os ratos.

Aquele hygienista portuguez, que com muito cuidado tem acompanhado o movimento da hygiene moderna, nomeadamente no que respeita as molestias pestilenciaes, publicou já varias cronicas no Diario de Noticias, de Lisboa, vulgarisando as noções hodiernas sobre etiologia da peste. A sua proposta, votada no citado Conselho por unanimidade e aprovada por despacho do Ministro do Reino de 17 de março do mesmo mez, foi-nos cedida pelo Prof. Souza Junior para aqui a transcrevermos. É do teor seguinte:

“Considerando que a destruição dos ratos e seus parasitas é, segundo os dados modernos, o mais racional e o mais bem fundado dos processos usados para a defeza contra a peste;

Considerando a ameaça sob que está a nossa capital de ser invadida por esta doença;

Considerando que a matança dos ratos, embora feita ha algum tempo de um modo insuficiente, cessou ha muito por completo;

Considerando que é absolutamente preciso recomeçar, e em melhores termos, a campanha por todos os processos contra os ratos;

Considerando que em 1901 a antiga Junta Consultiva de Saude solicitou da Camara Municipal esta medida de defeza, constando das actas d’aquela corporação que a não aplicaria por não tomar a responsabilidade de introduzir na canalisação de Lisboa abundantes materias toxicas;

Considerando que o estudo actual da peste tornou essa campanha contra os ratos n’uma imprescindivel medida de profilaxia para, vencendo as dificuldades que se levantem e de qualquer genero, se cortar o passo às epidemias de tal morbo, em condições bem mais certas do que em 1901;

Considerando que o Conselho superior de higiene já reclamou da Camara Municipal transacta este exterminio da principal causa da propagação das epidemias pestosas sem obter resultado algum.

Proponho que se consulte no sentido de pelo Ministerio do Reino se solicitar da Camara Municipal a organisação de um serviço que, por meio de toxicos, de armadilhas de todo o genero, de virus susceptiveis de produzirem nesses roedores epizootias artificiaes de larga mortandade, e ainda de premios aos que se entreguem á sua captura e destruição, se ocupe seriamente de exterminar os ratos, considerados hoje a principal causa da propagação da peste nas localidades que ela invade.”


Referência bibliográfica

Carlos Fortes - "Do livro – A Peste Bubonica - A 2ª Campanha em S. Francisco da California - Contra a peste 1907-1908" in Diário dos Açores de 17 de Novembro de 1920, nº. 8637, p. 1 (col. 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1160.



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