Um dos delegados portuguezes no Congresso Medico de Sevilha, o sr. dr. Carlos da Silva, disse ao “Seculo” o que foi o trabalho da secção de dermatologia e sifiligrafia.
Dessa entrevista achamos de grande utilidade a transcrever da seguinte passagem:
A luta mundial contra o perigo venereo
“Este ultimo ponto – prossegue o sr. dr. Carlos da Silva – não ha congresso medico que o não trate, pois a sua importancia é manifesta porque se relaciona com os mais dedicados aspétos da higiene social. Assim, é não só encarado sob o ponto de vista particular de cada paiz, mas também no seu aspéto de interesse mundial. A este respeito é notavel a bela conferencia feita em 1923 pelo professor A. Bayet, de Bruxelas, que lançou um apêlo para a organisação da “União Internacional contra o perigo venereo”.
- Quais são as medidas principaes aconselhadas contra esse perigo?
- A base principal da luta a travar consiste no tratamento dos doentes por todos os processos que temos no nosso alcance e que felizmente, hoje, são de eficacia indiscutivel. Sob este ponto varios foram tambem os trabalhos apresentados n’este congresso, mas póde-se afirmar que este assunto foi, por assim dizer, esgotado nos magnificos trabalhos apresentados o ano passado em Strasburg por L. Queyrat, de Paris; por Malvoz, por Halkin, e outros medicos de Liége, na parte que se refere á sifilis. Foi n’aquele congresso que pela primeira vez se falou no testamento e cura da sifilis. Já em 1915, Queyrat, com Neisser e Finguer, deveria ter relatado em Copenhague a tese “Tratamento abortivo de sifilis recente”. A guerra veiu, porém, impedir esse congresso de dermatologistas e sifiligrafos de lingua francesa, dizendo então o dr. Queyrat a ultima palavra sobre tão momentoso assunto: a cura da sifilis.
A sifilis pode curar-se sendo atacada a tempo.
Aproveitando a digressão, tão cheia de aproposito e de interesse, no nosso ilustre convidado, perguntamos-lhe:
- Qual foi a conclusão a que chegou o dr. Queyrat?
- N’aquele seu trabalho, o dr. Queyrat demostrou [sic] que hoje, graças aos medicamentos que possuimos e á perfeição da sua aplicação, todas as vezes que encontramos um doente no seu “periodo práumoral” – como ele chamou ao periodo que medeia entre o aparecimento do cancro e o momento em que o séro-reação do Wassermann se torna positivo – podemos cura-lo. Nesse periodo, pois, usando os medicamentos adequados e aplicando-os nas condições que a boa tecnica ensina nas dozes e pelo tempo necessarios, podemos garantir a cura definitiva.
Não quer isto dizer que não se possa obter curas em todo o periodo primario da sifilis, mas é certo que essa cura se torna cada vez menos certa, quanto mais longe do acidente primario se começa o tratamento, que será assim mais dificil e prolongado. A bem, pois, da higiene social, não deve ser despresado nenhum dos meios que possam contribuir para a educação do povo, ensinando-lhe que, á menor lesão suspeita, se deverá procurar, sem perda de tempo, a entidade competente sobre o assunto, a fim de fixar um diagnostico rapido e encetar o tratamento adequado, no menor espaço de tempo possivel.