Lemos no Seculo:
A recente operação do dr. Bunnefon, de Bordeus, que fez resuscitar a vista de Aleix Pelletier, oficial mutilado, que combateu na Grande Guerra revolucionou por completo a sciencia medica.
A cegueira que durante muito tempo foi considerada incuravel e inoperavel, teve agora o seu primeiro impulso – o seu grande impulso com a feliz operação do ilustre cirurgião de Bordeus.
O capitão Pelletier sofria duma atrofia ocular esquerda e de uma redução de visão do olho direito de 1:100.
Pelletier caiu vitoriosamente em Fevereiro de 1916, nos primeiros dias do celebre ataque a Verdun, tendo perdido irremediavelmente o olho esquerdo, conservando unicamente visão parcial do olho direito.
Em 1918, perde totalmente a vista porque lhe surge uma catarata do olho direito.
Pelletier ficara irremediavelmente cego:
-Só uma operação melindrosa e extremamente delicada o podia salvar, uma operação rara, daquelas que têm atraz de si um exército de complicações o que na maioria dos casos reduz o doente a viver em plena escuridão durante o resto da vida.
Mas em que consistia a operação? Abertura directa da cornea, abertura da capsula e extracção do cristalino.
Resultado: - no fim de um mes a seis semanas, o operado fica a servir-se do seu próprio olho, privado do cristalino e utiliza um jogo de lentes, que servem umas para as longas distancias e outras para as pequenas.
Pelletier, animado pelo seu medico assistente, sofreu a melindrosa operação e passadas as seis semanas os seus olhos que não viam, abrem-se para a luz, dentro de si a longa noite de cinco anos fez-se dia.
A operação que sofreu o capitão Pelletier, cego desde 1918, atravessou rapidamente a França e espalhou-se pela Europa.
Os biologistas que de ha muito vinham estudando o problema da transplantação aos olhos iniciaram novamente as suas investigações, avivado pelo recente sucesso do dr. Bunnefon, que foi chamado a Paris para explicar perante a Academia das Sciencias Medicas, o milagre da resurreição visual do cap. Pelletier.
Th. Koppanyl, biologista notavel que se tem entregue ultimamente ao estudo e evolução do problema da transplantação no laboratório biologico de Prater, publicou ultimamente um trabalho sensacional sobre o problema da transplantação, contendo a nota exata das suas experiencias, que são realmente muito animadoras. Os resultados obtidos por Koppanyl são a sintese de um longo sonho em que a humanidade vive ha muito mergulhada: a cura da cegueira.
Nos arquivos de Oftalmologia de Graepe, o dr. Blatt que seguiu as experiencias do sabio de Viena e que pacientemente reeditou no seu laboratorio, no laboratorio do qual se prepara a grande transformação da noite fria dos cegos em dia de sol, quente e dourado, publicou um outro trabalho notavel, contando o resultado das suas observações, resultados satisfatorios, que veem aumentar o valor intrinseco e humano do problema, em equação, das transplantações.
O dr. Blatt, um nome que a humanidade tem hoje suspenso nos seus labios transplantou olhos de diferentes animais, ratos coelhos, galinhas, obtendo resultados maravilhosos. Depois de concluidas as experiencias, alguns dos animais operados feito o regeneramento anatomico da região, começara a ver. A ver!
A circulação dos globulos oculares restabelece-se, não só em animais da mesma espécie com em animais de outras especies.
Em sessenta casos, a media é de 18 curas!
É este o grande problema que preocupa neste instante os mais notaveis biologistas do mundo, que estão procurando achar a incognita desta gigantesca equação – o problema das transplantações – animados pelo sucesso que obteve o ilustre cirurgião de Bordeus, restituindo a visão ao cap. Pelletier, mutilado de guerra, que caiu ferido heroicamente nos primeiros dias de Fevereiro de 1916, quando do ataque a Verdun.