Foi o naturalista francês, Henri Drouet, o primeiro que publicou em 1861, no seu livro “Elements de la Faune Açoréenne”, uma lista dos Cétaceos [sic] que ele julgou deverem ser indicados, como aparecendo nos mares dêste Arquipélago. Indica ela as cinco seguintes especies:
- “Delphinus delphis” – Linn. (nome vulgar Golfinho)
- “Delphinus froenatus” – Dussum.
- Phocoena communis” – Cuv. (nome vulgar Toninha)
- Physeter macrocephalus” – Linn. (nome vulgar Baleia).
- “Balaena mysticetus” – Linn. (nome vulgar Baleia)
Indica mais um cetáceo ao qual dão os balieiros americanos o nome de “Black fish”, animal que não viu, bem como o “Delphinus froenatus” que menciona de acordo com informação do medico da marinha de guerra. Deplanche, que navegava a bórdo do navio de guerra francês “Rapide”, quando este navio esteve neste Arquipélago.
Este mesmo médico indica que no mesmo navio, entre os Açores e as Bermudas capturaram os “Delphinus Pernetty” Desm.
Temos pois, nos mares açoreanos, segundo Drouet, seis cetáceos, dos quais parece ter visto tres, que são “Delphinus delphis”, “Phocaena communis” e “Physeter macrocephalus”, e não visto os dois delfinideos “Delphinus froenatus” (hoje mais conhecido pelo nome “Delphinus marginatus” – Gray) e o black fish (certamente o Globicephalus melas” Flower), e uma baleia, que indica antecedendo o nome com um ponto de interrogação, “Balaena australis- Klein.
Dêstes cetáceos os quatro primeiros aparecem muito nos Açores, o “Delphinus marginatus” nunca mais foi visto, sendo certo que tem sido capturado nas costas do continente europeu, e a “Balaena mysticetus” ou a “B. australis” são especies que não aparecem nos Açores, devendo ser a Balaena biscayensis” – Esch., o cetáceo que com as designações acima indicadas é mencionado como aparecendo nos Açores.
Nos nomes vulgares indicados por Drouet ha a fazer as seguintes correções.
Nos Açores o “Delphinus delphis” é conhecido pelo nome de “toninha”, e o “Phocaena communis” pelo de “bôto”.
É esta lista de Drouet, a que tem até hoje servido para a indicação dos cetáceos que frequentam os mares açoreanos.
Na lista, que em resultado de observações minhas, ou informações por mim obtidas, agora publico, nela apresentarei em quatro grupos os cetáceos mencionados, reunindo no primeiro aqueles dos quais tenho obtido exemplares que estão preparados na Secção Zoológica, do Museu “Carlos Machado” de Ponta Delgada, alguns dêles completados com os esquelêtos cobertos em parte por modêlos de gêsso, no segundo, os cetáceos que tenho visto nos Açores, mas de que não vi os Açores, mas que creio devem aqui aparecer, tal é o valor da descrição que me tem sido feita por balieiros de reconhecida autoridade, e finalmente o quarto grupo com dois cetáceos; um que foi indicado por Deplanche (segundo Drouet), sendo o outro o unico que me parece poder mencionar, dentre bastantes que me tem sido descritos, como vistos nos Açores, mas que não tenho podido identificar.
Nêstes grupos indicarei os cetáceos com o nome scientifico, depois mencionarei o nome vulgar usado nos Açores (N. v.), se o tiverem, o nome francês (N. f.); e com aquêle pelo qual são conhecidos pelos balieiros americanos (N. b.) ou pelos balieiros açoreanos, que em geral praticaram na pesca em navios americanos. Finalmente indicarei, mui sumariamente a sua distribuição geografica (D. g.), indicando tambem se o cetáceo aparece no Mediterraneo rara ou frequentemente ou se ali não aparece.
Primeiro grupo
- “delphinus delphis” – Linn.
Nome vulgar: toninha
Nome francês: Dauphin
Nome dos balieiros: Dolphin ou Porpoise
Distribuição geografica – É o cetáceo mais abundante e comum nos Açores. Aparece muito no Mediterraneo, nos mares europeus, e no Atlantico nas aguas temperadas.
- “Globicephalus melas” – Flower
N. v.- é conhecido por “black fish”, isto é, pelo nome que lhe dão os balieiros
N. f. – “Epaulard á tête ronde”
N. b. – “black fish”, e raramente por “Pilot whale”
D. g. – Comum nos mares do hemisfério Norte. Encontra-se muito no Mediterraneo.
3. “Grampus griseus” – cuv.
N. v. – é conhecido nos Açores por “Grampâs”, certamente corrupção do nome que lhe dão os balieiros.
N. f. ?
N. b. - “Grampus”
D. g. - No Atlantico Norte, desde as costas dos Estados Unidos até ás do continente europeu. No Mediterraneo, cóstas da Africa e Japão.
4. “Tursiops tursio” Gerv.
N. v. – “Bôto”, nome que provavelmente é corrupção da designação “Bottle”, dos balieiros.
N. f. - “Souffleur”
N. b. – “Bottle nose whale”
D. g. – é um cetáceo cosmopolita, pois vive em todo o Oceano Atlantico, no Mediterraneo, nas cóstas da Africa e do Brazil, e até na Nova Zelandia.
5. – “Physter macrocephalus” – Linn.
N. v. Baleia, raramente cachalote
N. f. – “cachalot”
N. b. – “sperm whale”
D. g. - nas aguas temperadas do Oceano Atlantico, em ambos os hemisferios. Raramente aparece no Mediterraneo.
Nas femeas de cachalotes mortos nos mares dos Açores, é frequente encontrarem-se-lhes fétos. Um dêles (que está no Museu de Ponta Delgada) de animal prestes a nascer, tem 3m, 12 de cumprimento. É o maior que tenho visto.
Continua
F. Afonso Chaves
Francisco Afonso Chaves - "Cetáceos que aparecem nos mares dos Açores"
in Diário dos Açores
de 21 de Julho de 1925, nº. 9990, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1236.