Reproduzimos do “Seculo” do dia 23 do mez findo:

Londres, Agosto.

Vai realizar-se brevemente a primeira viagem dum “paquete aereo” Europa Estados Unidos. Dá-nos esta noticia o sr. José Navarro, piloto aviador inglês, que constituiu uma sociedade de navegação aerea com o capital inicial de 2 milhões de libras, para este efeito. Este capital será elevado a seis milhões de libras, logo que se realize a primeira viagem do “paquete aereo” que, obedecendo aos sistema do mais pesado do que o ar, disporá de lugares para 150 passageiros. O plano do sr. Navarro apresenta-nos um triplano de aço e de aluminio com a envergadura de 54 metros dispondo de nove motores de 450 C. F., todos instalados á prôa do avião monstro. Outros motores acionarão os propulsores e os tractores.

O “paquete” terá compartimentos “cabines” para o pessoal mecanico, composto de 12 pessoas. A tripulação será de 38 homens. Haverá duas “pontes” para os viajantes; e, em cada ponte, um salão de 14 metros de extensão, além de salas se jantar, e de camarotes confortaveis. Estes serão servidos por criados dos dois sexos, postos à disposição dos passageiros pela “Companhia de Navegação Aerea”. A cozinha electrica será dirigida por um Vatel francês e o primeiro grande navio aereo já construido custou – diz o sr. Navarro – 160.000 libras. Pode atingir a velocidade de 250 kilometros á hora, mas só desenvolverá a de 160 kilometros, nas viagens regulares Londres-Nova York “para evitar desastres”. Com este ultimo andamento, o “paquete aereo” irá de Londres a Nova York em 36 horas. O novo aparelho será munido dum posto de T. S. F. de grande potencial; de para quedas e de barcos “pliata” – para toda a tripulação e para todos os passageiros. Todas as cabines serão de 1ª classe e custarão cada uma – para cada viagem de ida e volta – 115 libras.

Quando a frota “Navarro” estiver construida, efectuar-se-ha uma viagem diaria Londres-New York. Por ora, “Navarro 1º”, limitar-se-ha a percorrer o Atlantico duas vezes por mês.

Guardei para o fim desta resenha a agradavel noticia com que nos brinda o sr. Navarro, engenheiro-chefe e director da empreza: as naus do espaço que ele vai fazer sulcar o éter, farão escalas, a ida, na Irlanda e na Terra Nova. E a volta, nos Açores, em Lisboa e em Bordeus.

O “Star”, importante diario desta cidade, afirma mesmo que o sr. Navarro já obteve do Estado português as respectivas autorizações. Assim seja...´

N. R. – Procurando obter nas estações oficiaes a confirmação da noticia atribuida ao “Star”, ouvimos o general sr. Oliveira Simões, director geral do Ministerio do Comercio, que nos declarou carecer absolutamente de fundamento tal noticia. Existem de facto varias propostas nesse sentido, pelo que o sr. dr. Nuno Simões, ministro do Comercio, resolveu convocar uma reunião da comissão de Aviação Comercial, para apreciar essas propostas e estudar então as bases para se abrir um concurso.

Tudo o mais que se diga é pura fantasia.