De etapa em etapa, de dia para dia os aparelhos de voar se aperfeiçoam na ansia de se atingir a perfeição. Cada construtor melhora as suas marcas e cada aviador aproveita a sua experiencia para utilizá-las o melhor que pode.
Agora é um engenheiro russo que promete para breves dias o lançamento á agua do Rodono de um novo aparelho a que deu o nome de “Oceano-plano” e que diz ter sido inspirado na observação do insecto chamado “pulga do mar”.
Tendo exercido depois da guerra varios cargos diplomaticos como representante da Ukrania, o engenheiro Gasenko instalou-se ultimamente nos arredores de Lyon para a construção do aparelho, cujos estudos lhe levaram alguns anos.
É de um modelo abolutamente original e novo, não fazendo lembrar o hidro-avião, nem mesmo o “hidro-glisseur”. Tem do primeiro as asas e a helice propulsora, mas diferencia-se dele essencialmente em manter um contacto quasi permanente com a agua, cuja resistencia evita, correndo á superficie, sem nunca mergulhar. O escolho que tem feito até hoje sossobrar todas as tentativas de “hidro-glisseurs” em pleno mar, o choque repetido das vagas, está afastado no oceano-plano do engenheiro Gasenko. O aparelho brincará, como costuma dizer-se, com os mares mais cavados, saltando de vaga em vaga, sem jamais descer aos abismos que se abram debaixo dele e o fariam correr o risco de ser engulido.
O oceano-plano é formado por uma carcassa de acajú hermeticamente fechada e constando, interiormente de uma “cabine”, uma pequena casinha e de uma camara de maquinas, terminando a prôa por um guarda-lamas. O motor, fechado numa caixa blindada e a helice funciona á retaguarda.
Dois planos que se juntam na parte superior da carcassa constituem as asas. A parte inferior é munida de tres orgãos em forma de patas articuladas sobre rotulos na sua secção média e munidas, nas extremidades, de um flutuador blindado cujo reservatorio está cheio de gás helium. O papel destas patas é de manter constantemente o aparelho a 80 centimetros pelo menos acima da superficie liquida. No caso de mar cavado e, portanto, de vagas profundas, podem perder provisoriamente o contacto com a agua, mas a força de velocidade adquirida permite ao aparelho, graças às asas, atingir a crista da vaga seguinte e de nela encontrar um novo ponto de apoio para ganhar um novo impulso. As patas, neste caso, pendem verticalmente aos flancos da carcassa e é então por arrancadas sucessivas á maneira dos saltos da “pulga do mar”, que lhe serviu de modelo, que o oceano-plano caminha.
O aparelho tem um comprimento total de 13 metros e uma largura de 1,m68 com o peso de uma tonelada quando vasio, estando munido de um motor de 180 cavalos, que lhe podem dar uma velocidade de 160 quilometros á hora.
O engenheiro Gasenko tenciona fazer nesse aparelho a viagem de Marselha ao Rio de Janeiro, em quatro etapas: a primeira é a mais dificil, devido às pequenas vagas do Mediterraneo será daquela cidade a Oran; a segunda, a Dakar, por Tanger, Casablanca, Mogador, Agadir, Juby, Port-Etiene e S. Luis; a terceira de Dakar ao Natal, na America do Sul, através do Atlantico; finalmente, a quarta, do Natal ao Rio de Janeiro.
O inventor espera galgar em oito dias a distancia de 10.000 quilometros que os grandes paquetes levam dezoito dias a percorrer, tencionando levar como unico passageiro o cão “Lob”, que o acompanha por toda a parte como a sua propria sombra.
Ainda ha pouco um desenhador hungaro, que ele escolheu como seu colaborador, desapareceu com os planos e fotografias do aparelho, mas foi preso a tempo estando a averiguar se se trabalharia por conta de qualquer potencia estrangeira, pois que o oceano-plano, excelente em tempo de paz pelos serviços que pode prestar á navegação comercial, não os prestar menores em tempo de guerra, como caça-submarinos.
[n.d.] - "Invento de um russo - De Marselha ao Rio em quatro etapas num “oceano-plano”"
in Diário dos Açores
de 7 de Outubro de 1925, nº. 10055, p. 1 (col. 3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1265.
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