No numero de homens que melhor assinalam o bom nome de Portugal no estrangeiro, vivendo aí uma vida intelectual de grande relevo, conta-se o dr. Jorge Monjnardino, um dos irmãos Monjardino, terceirenses, açoreanos, residente, aquele, ha alguns anos, no Brazil.
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No meio cientifico e social do Rio de Janeiro, que é um dos grandes centros mentais, é um representante da inteligencia e da ciencia portuguezas, o dr. Jorge Monjardino, ouvido, lido e apreciado como uma das mais categorisadas e autenticas ilustrações por cuja voz e por cuja pena fala com limpido brilho a moderna cirurgia.
(filantropo, conferencista, ainda é novo na carreira, preside, no Rio de Janeiro, a uma sociedade filantropica, a Fraternidade Açoreana, que enviou há pouco as cinzas do conego Sena Freitas))
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O nosso especial proposito ao começarmos estas linhas era o de consignarmos na lista das nossas resenhas bibliograficas o aparecimento do livro “O cancro do Utero”, que no Rio de Janeiro acaba de ser dado á publicidade pelo sr. dr. Jorge Monjardino, e a quem devemos a gentilesa de um exemplar enviado a esta redacção.
O livro, que passa por ser um dos mais notaveis na especialidade de que largamente se ocupa, só pode ser devidamente julgado por especialisadas competencias.
Mas mesmo n’uma das mais solidas competencias da cirurgia brazileira nos apoiamos para avaliar a importancia verdadeiramente notavel d’esta publicação. Dizz d’ele o sr. dr. Ed. Rebelo, seu prefaciador:
“Póde dizer-se que, como resultado desse convivio (do medico português com o meio médico da capital brazileira) nasceu este livro: - fructo do compromisso tomado e brilhantemente cumprido de apresentar um relatorio para a projectada conferencia do cancer que infelismente, por motivos varios não se realisou em 1922. Com isso tivemos a fortuna de ver aquelle relatorio ampliado, escriptas partes inteiramente originaes, manuseados o mais antigos documentos historicos de que tivemos a summula, a ponto de se poder ler nas paginas que se seguem o melhor livro em portuguez sobre o problema do cancer, em seu conjuncto, e um dos melhores, por completo e sucinto, dos ultimamente publicados.”
É muito vasta a nomenclatura bibliografica, respeitante a autores, epocas e paizes, em cujo material a grande erudição da obra do sr. dr. Monjardino se afirma.
(seguem-se elogios da erudição do autor)
Parece que a obra do ilustre cancerologista portuguez desempenhará na ciencia brazileira um destino propulsor, pelo que d’estas outras interessantes palavras se conclue, o que não seria pouco para maior valorisação de trabalho do nosso compatriota.
Para tais palavras vale bem a pena atrair a atenção dos leitores e consigna-las com legitimo brio:
“Agora que damos mão forte ao combate à siphilis e que organisamos e proseguimos com segurança na prophylaxia da tuberculose, não é demais que nos apercebamos contra o augmento do cancer, doença tantas vezes certeiramente lethal, cujas devastações já emparelham em outros paizes com as daquella ultima doença, acima citada. Façamos, pois, tudo para fugirmos da fatalidade das 40.000 mortes anuaes que faz o cancer na França, das 50.000 na Inglaterra, onde fica logo abaixo da tuberculose; das 57.000 na Allemanha, numero que será mais elevado se levarmos á conta a percentagem de erros de diagnostico que se puderam verificar em 39 000 necropsias feitas naquelle total de obitos, e finalmente dos 76.000 obitos verificados nos E. Unidos, só na zona recenseada, em um ano.
(Jorge Monjardino sugere no final do livro um plano de organização de um instituto do cancer, que em nada ficaria a dever aos mais existentes).
[n.d.] - "Açoreanos ilustres - Um notavel livro de ciencia do dr. Jorge Monjardino editado no Rio de Janeiro"
in Diário dos Açores
de 12 de Novembro de 1925, nº. 10085, p. 2 (col. 6-7). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1275.