Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.1292)

Não ha perante a sciencia pequenos factos, porque de phenomenos aparentemente pouco importantes derivam ás vezes descobertas gloriosas e utilissimas. Quem diria antes de Daguerre que o enegrecimento dos saes de prata á luz daria de si a invenção maravilhosa da photographia, hoje universalisada num sem numero de aplicações curiosas, de uma evidente utilidade? De um modo similhante e ainda como desenvolvimento complementar da famosa invenção de Niepce, o principio do cinematographo vem de longe, como para muitos achados felizes do pensamento, perde-se em remotas eras, pois que o phenomeno que lhe deu origem – a persistencia das imagens na retina – é conhecido desde alta antiguidade, sem se lhe dar a explicação e o aproveitamento que tem nos tempos modernos, em que centenares de aparelhos o põem á contribuição, desde um simples brinquedo, que faz as delicias dos pequenos, até aos impropriamente chamados animatographos, que divertem e fazem pensar creanças e velhos, impressionam e despertam perniciosa emotividade nos delicados corações femininos. Uma brincadeira muito simples e muito usada põe nos rapidamente ao facto desta propriedade da visão. Agitando um pavio phosphorico a arder diante dos olhos, vemos desenhar-se no espaço um figura qualquer, que é o traçado das posições sucessivas do objecto luminoso. Do mesmo modo a persistencia das imagens na retina faz nos parecer as gotas de chuva reunidas em uma fita continua. De uma roda de bicicleta a andar com extrema velocidade perdem-se de vista os raios pelo mesmo motivo. Todas estas aparencias são devidas a que a impressão de um objecto qualquer no fundo dos olhos se demora além do tempo que o objecto ocupa uma determinada posição, vendo-se ainda durante um lapso muito curto quando já tem mudado de lugar ou desaparecido. Este phenomeno varia, é certo, com a intensidade luminosa e com a sensibilidade retineana. O physico Plateau avaliou a demora desta impressão em 14 centesimos de segundo (1832). A impressão das côres persiste tambem. É conhecida como demonstração da sua existencia a experiencia do disco de Newton, composto de sectores de diferentes matizes, que com o rapido movimento giratorio se confundem á vista, resultando o branco. Por um processo analogo se explica o efeito do conhecido brinquedo denominado thaumatropo, inventado por dr. Paris em 1826 e que consiste em um pequeno rectangulo de cartão, no qual se acham impressas letras de um e de outro lado, em linhas horizontaes correspondentes e de modo que, fazendo girar o cartão por meio de linhas presas aos lados menores, a leitura se torna possivel, perisso que a vista percebe ao mesmo tempo as letras de um e outro lado. Sofreu este principio as mais variadas aplicações, fixando-se no sabido modelo de zootropo de Dessignes (1860), o que é constituido por uma caixa com fundas verticaes, regularmente espaçadas, atravez das quaes se olha a deslocação das imagens de um clown em diferentes posições, dando-nos a impressão do movimento desse boneco illusioriamente animado. Continua Bettencourt Ferreira

Referência bibliográfica

Bettencourt Ferreira - "Actualidades Pela sciencia - O cinematographo – Principio em que se funda – Persistencia de imagens na retina – Aparelhos diversos em que este principio se aplica – Experiencias de Cornu e Marey – Chronophotographia – Aplicação ao ensino dos surdo-mudos – O invento de Lumiére – Machinismo de Gaumont (com o phonographo) – A popularisação do cinematographo" in Diário dos Açores de 13 de Janeiro de 1908, nº. 4984, p. 1 (col. 4-5). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1292.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Adaptação Internacional

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema
Comunicações
Arte e Representação

Popularização da Ciência
Educação Cientifica
Palavras Chave


Notícia