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Texto da entrada (ID.1296)

Como o cinematographo de Lumière obedece ainda ao mesmo principio a que nos referimos, as imagens não são, como poderia imaginar-se, justapostas na mesma faxa do celluloide: ha intervallos entre ellas; mas, devido á demora de cada impressão na retina, a sucessão das atitudes faz-se sem transição para o observador, que assim apenas se dá conta de movimentos naturalmente ligados. A tremulação que se nota em certas projecções é resultante dessa separação. O periodo de obscuridade entre duas imagens não excede 75 de segundo, bastante diminuto para que a vista o não perceba. A reunião do cinematographo com o phonographo (Gaumont), as duas primorosas invenções do seculo passado, já neste começo de ciclo dotados de tão grandes melhoramentos, dão o maximo de perfectibilidade á projeção animada, digna de certo de melhor emprego do que a exploração que della se está fazendo em excesso, em espectaculos sensacionaes, que fanatisam o vulgo e que, como todos os excessos provocam a reclamação justa e a necessidade de um freio á especulação desordenada. Quantas cousas realmente bellas e uteis se poderiam ensinar e transmittir pelo cinematographo, em vez de o fazerem servir á lisonja pouco edificante do sensualismo grosseiro das multidões. No Congresso internacional de Medicina, reunido em Lisboa o anno passado, tivemos ocasião de admirar um dos mais perfeitos engenhos desta ordem, posto ao serviço da sciencia sem duvida com uma arte parecendo mais americana do que francesa, em todo o caso com feracissimo exito. Referimo-nos ás projecções cinematographicas do dr. Doyen, pelas quaes elle reconstitue deante dos seus discipulos e colegas os tempos dos seus notaveis trabalhos cirurgicos, que são outros tantos modelos de technica a admirar e a aprender. Por analogo systema quanto e que poderoso ensinamento a invenção dos Lumière nos poderia fornecer dignamente aplicada e popularizada, reavivando scenas historicas, vistas de oficinas em laboração, de sitios pitorescos, de excursões, etc., em vez das vistas repugnantes de assassinatos e roubos, de dramas emocionantes, que de ordinario se exhibem deante de mulheres e de creanças nos salões de animatographo e que não podem senão gosar a consideração de imoraes e por isso deveriam ser excluidas, se alguma opinião sensata podesse influir em tal. Muito nos sobeja a dizer sobre o assunto, ao passo que nos escasseia o logar para fazel-o. É para lamentar porém, que a moda e o espirito mercantil pervertam tão facilmente as mais sublimes invenções. Bettencourt Ferreira

Referência bibliográfica

Bettencourt Ferreira - "Actualidades Pela sciencia - O cinematographo – Principio em que se funda – Persistencia de imagens na retina – Aparelhos diversos em que este principio se aplica – Experiencias de Cornu e Marey – Chronophotographia – Aplicação ao ensino dos surdo-mudos – O invento de Lumiére – Machinismo de Gaumont (com o phonographo) – A popularisação do cinematographo" in Diário dos Açores de 15 de Janeiro de 1908, nº. 4986, p. 1 (col. 4). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1296.



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