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I- Tuberculose
Continuação
Até aqui tenho-vos referido factos precisos, indispensaveis para basear uma lucta séria contra a tuberculose, especialmente sob o ponto de vista preventivo, campo therapeutico a que nos conduziram os geniaes trabalhos de Pasteur.
Evitar a doença deve ser o lemma de todo o medico educado nos principios de prophylaxia, para que tende cada vez mais accentuadamente a medicina: o medico do futuro, o mais venerado, será, como pensa o dr. Wiley (de Washington) o que menos doentes tiver na sua região. E a tuberculose é uma doença evitavel.
Passemos agora à applicação dos factos enunciados, á prophylaxia da tuberculose.
Restringir o contagio e fortificar o terreno são os dois principios que derivam das noções expostas, como base para a prevenção da tuberculose.
Restringir o contagio na familia deve ser o primeiro passo para evitar a disseminação da doença.
Diversos meios teem sido postos em pratica para conseguir a restricção do contagio. A esterilisação dos vehiculos de bacillos – escarros, pus, etc – é o mais racional processo para evitar a propagação da doença e consegue-se, convencendo o tuberculoso, que deve conhecer os perigos da sua doença, a lançar aquelles productos das suas lesões em escarradeiras contendo um liquido antiseptico ou em pequenos guardanapos de papel, que serão depois queimados.
Separação e esterilisação pela fervura de todos os utensilios do doente, limpeza de poeiras com pannos molhados em substituição de vassouras e espanadores, são modos de inutilisar a virulencia do bacillo, quer no seio da familia, quer nas officinas e repartições, onde haja aglomeração de funccionarios.
Estes principios, simples no seu enunciado, experimentam alguma difficuldade na sua applicação, especialmente nas classes em que a limpeza e o asseio são frivolidades impertinentes; por isso a Allemanha e a França que andam empenhadas na solução do problema relativamente ás classes populares, adoptaram cada uma o seu modo de combate.
Uma, a Allemanha, adoptou o principio do isolamento em sanatórios populares, onde procura curar os seus tuberculosos e educal-os nos principios da prophylaxia.
Os sanatorios são hospitaes exclusivamente destinados a tuberculosos, collocados em sitio ao abrigo dos ventos reinantes na região, cujo ar deve ser isento de poeiras deleterias. A alimentação sadia, o repouso, a ventilação permanente e a esterelisação permanente e a esterelisação rigorosa de bacillos são os principios internos d’estes estabelecimentos, que valerão pela disciplina que lhes souberam imprimir os seus directores.
O sanatorio é um meio de cura e tambem de prophylaxia, pelo isolamento e disciplina que adopta; porém, o principio do isolamento, bem acceite em doenças agudas, não é egualmente recebido em doenças de evolução prolongada, como a tuberculose, sendo além d’isso o sanatorio d’uma installação e custeio demasiado dispendiosos.
A generalisação dos sanatorios traria comsigo a obrigação do isolamento e a breve trecho veriamos a lucta contra a tuberculose degenerar em lucta contra o tuberculoso e succeder com esta doença o que na edade media se passou com a lepra: - os sanatorios seriam as gafarias modernas.
Não condemno em absoluto este meio de lucta; acceito-o como modo d’educar e disciplinar o tuberculoso, instruindo-o na forma de se tornar inoffensivo aos outros.
A França pretende resolver o problema pelos dispensarios, de custeio mais modico e resultados mais beneficos. Tem os dispensarios chamados de assistencia, onde o tuberculoso recebe medicamentos para a sua doença e conselhos para evitar a propagação d’ella; e tem os dispensarios chamados de prophylaxia de que Calmette foi o fundador e cujos fins elle diz serem: “A missão principal d’estes dispensarios deve consistir, não em dar consultas ou distribuir medicamentos aos doentes pobres, o que pertence ás casas de beneficencia, mas em procurar attrahir e reter, por uma propaganda intelligentemente feita nos meios populares, os operarios atacados ou suspeitos de tuberculose; em dar lhes conselhos para elles e para suas familias; em ditribuir-lhes, quando desempregados, socorros alimentares, de vestuarios, leitos, escarradores, antisepticos; em sanear as suas habitações por limpezas frequentes e desinfecções repetidas com intervalos regulares; em procurar-lhes uma habitação mais salubre, se preciso fôr; em lavar as suas roupas gratuitamente, para evitar o contagio na famillia ou fóra d’ella; em instar junto da beneficiencia particular e dos patrões pelos auxilio aos tuberculosos”.
Continua
Referência bibliográfica
[n.d.] - "Propaganda contra a tuberculose - Conferencias realisadas no Atheneu Commercial pelo sr. dr. Henrique Maria d’Aguiar"
in Diário dos Açores
de 4 de Fevereiro de 1908, nº. 5003, p. 1 (col. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1309.
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