Texto da entrada (ID.1334)
É vulgar crearem bolores as vasilhas que participam de humidade das adegas, e não recebem a miúdo a benefica acção do acido sulfuroso. Este acido é obtido - como se sabe – pela combustão do enxofre, e é sob a forma de vapor de côr branca que se colla interiormente ás paredes das vasilhas, e alli destroe os germens dos bolores que, sem esse resguardo, se desenvolveriam o originariam o cheiro e gôsto de bafio. D’aqui se comprehende a razão por que o vinho se estraga quando é guardado em vasilhas que não são sulfuradas. Os bolores a que me refiro são cogumellos filiformes pertencentes a varias especies. As mais vulgares que se encontram no nosso vasilhame são o Penicillium glaucum e, ainda mais, o Racodium cellare, que se desenvolve e propaga com extrema rapidez, penetrando nos póros da madeira e nos intersticios das aduellas.
Começa o tratamento – se a vasilha é postigada – por escovar bem o seu interior. Feito isto, lava-se depois com agua, a que se junta 150 grammas de acido sulfurico por litro. Quando o mal é recente, basta isto, porque o cogumello não está ainda muito desenvolvido, e o acido sulfurico, imbebendo-se pela madeira, anniquila por essa fórma as raizes do cogumello e o mal extingue-se. Do mesmo modo, o vapor de agua fervente dirigido por um jacto que tenha a pressão de 6 atmospheras, ou 3 a 4, pelo menos, segundo o tamanho da vasilha, consegue o mesmo resultado.
A pressão indicada é indispensavel para que o vapor actue fortemente sobre a superficie interior das aduellas, e penetre com tensão apropriada nos seus intersticios e nos javres.
Não havendo a caldeira esterilisadora, que é o mais adequado para este serviço, tenho-me servido, com bello e seguro resultado, da acção energica do chloro nascente, que, expandindo-se impetuosamente no interior da vasilha, actua energicamente sobre os bolores e occasiona de prompto a sua destruição.
Obtém-se facilmente o chloro deitando dentro da vasilha, por cada hectolitro de capacidade, 60 gramas de chloreto de cal desfeito n’um litro de agua fria, e sobre isto 120 grammas de acido sulfurico diluido n’outro litro de agua. Tapa-se depois bem a vasilha, para que se não perca nenhum chloro, e rola-se, se ella é de pequena lotação, ou agita-se, se é grande, com o auxiliode um macaco de adega. Passa-se então o seguinte:
O acido sulfurico agarra a cal do chloreto e deixa livre o chloro que, volatilisando-se, se espalha pelo interior da vasilha e a desinfecta.
Depois resta livrar a vasilha do cheiro intenso do chloro, e consegue-se isso com lavagens repetidas de agua fria, e uma forte sulfuração. N’este ultimo caso, opéra beneficamente o acido sulfuroso, porque, ao passar para acido sulfurico, desorganisa o chloro e extingue-o.
Se, com as doses indicadas, se não conseguir o effeito desejado, reforçam-se elevando-as ao dôbro.
Antonio Batalha Reis
Referência bibliográfica
Antonio Batalha Reis - "Secção agricola - O bolor das vasilhas"
in Diário dos Açores
de 13 de Março de 1908, nº. 5034, p. 1 (col. 5-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1334.
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