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Texto da entrada (ID.1411)

Chronica scientifica

Universalidade do emprego do algodão e a crise que atravessa – Causa da sua escassez futura – Producção americana – Estudo scientifico e experimental do assumpto – Associação para o desenvolvimento da cultura do algodão – Incremento da cultura dos algodoeiros na Africa – Systema de propaganda usado pelas associações promotoras nas colonias – Creação da industria indigena pelos inglezes – Instrucção technica dos negros – Quantidades obtidas pelo impulso da «British Cotton Growing Association» – Resultados animadores obtidos nas possessões francezas em Africa – Algodão artificial – Nova planta textil

O uso de roupa branca, principalmente de algodão, é por tal forma banal, que ao substituil-a frequentemente como manda a hygiene e a calidez da estação obriga, não nos apercebemos das diferenças caracteristicas da materia prima dessa industria textil tão espalhada e no automalismo [sic] do nosso movimento, ao servirmo-nos dos seus productos, nem pela idea nos passa de relampago a crise que a assoberba desde certo tempo.

O alargamento crescente do consumo de objectos feitos daquella substancia não fazia logo vêr que, sendo tão renumerada a cultura agricola que a fornece, ella viesse um dia a escassear nos mercados.

Porém o facto é que a producção dos artefactos de algodão sofre na Europa de um mal estar que se atribue a diversas causas, mais ou menos explicaveis. Desde 1863 nunca os preços desta materia prima foram tão elevados. Resulta esta alta em parte da absorpção feita em ponto grande pelos Estados Unidos, que produzem e empregam ao mesmo tempo os abundantes resultados desse ramo agricola – 10 milhões e meio sobre 14 milhões de fardos. A manufactura americana que em 1892 aproveitára o melhor de 2 milhões e meio de fardos, excedia 4 milhões em 1902.

Uma outra causa da subtracção do producto é o aproveitamento das mais ricas sementes para o fabrico do oleo.

O estudo das razões de ser desta decadencia e dos remedios a dar-lhe achou-se ser alguma cousa importante para se cometter a sabios e peritos de boa cotação na especialidade.

O congresso recente de Manchester acaba de pôr em fóco o perigo a que nos referimos e mais ou menos activamente as nações colonisadoras tratam de empregar os esforços melhor dirigidos para o conjurar.

A fundação, naquella cidade manufactureira ingleza, de uma associação, com o fim de incitar esta agricultura especial nas possessões inglezas, prova o especial interesse que os altos poderes do Estado e ás intelligencias productoras e commerciaes merece esta questão.

Por seu lado, a Allemanha, não descurando nenhum dos seus germens de actividade colonial, dirigiu as suas vistas neste sentido desde 1900, instituindo, por intermedio de uma associação similar, as investigações e trabalhos tendentes a fazer beneficiar e engrandecer pelo seu lado a industria algodoeira.

Em França tambem o mesmo movimento teve a sua natural repercurssão, estabelecendo-se com egual intuito a Associação Algodoeira para fomentação da cultura do algodão nas colonias francezas.

Esta productividade agricola afigura-se, pois, de um grande futuro na Africa, sobretudo na occidental e envolve tambem largos beneficios civilisadores, incidindo sobre os negros, que se mostram solicitos em aproveitar o mais que podem as preciosas sementes.

A obra de propaganda de todas estas sociedades tem stigma scientifico que muito as honra, pois que todos os seus trabalhos se inspiram em determinados elementos colhidos por homens de saber, com um conhecimento bastante do assunto e desenvolvendo no campo da experiencia a sua superior argucia.

O systema posto a prova pelas varias agremiações visando o progresso da cultura e transformação industrial do algodão traz o sello de um bem entendido modernismo, que é um dever imitar e nada deveria ser mais facil de prever, do que a contribuição entre nós de qualquer syndicato agricola especialmente orientado nessa direcção. As provincias ultramarinas ostentam para esse fim as mais amplas condições, que uma bem entendida protecção poderia fazer aproveitar.

* * *

O primeiro cuidado d’estas associações promotoras industriaes foi enviar missões scientificas a fim de determinar bem os meios e as circunstancias do desenvolvimento agrícola das regiões em que se pretendem crear as fazendas apropriadas a esta laboração especial. Fazem além d’isso a propagação por meio de conferencias publicas e de publicações encarecendo os methodos e os resultados, o que, diga-se de passagem, é um processo muito americano.

Estas associações subsidiam culturas experimentaes, que são uma especie de propaganda pela facto, exemplificando o melhor possivel o que pode ser a producção algodoeira num certo sitio e as diferentes qualidades della em relação ás sementes lançadas á terra.

Ainda estas collectividades se esforçam pela collocação do producto colonial ao alcance das machinas que o transformam nos tecidos que enchem o commercio.

A sociedade franceza sem uma preferencia acentuada por esta ou aquella colonia, trata de alargar este trabalho a todas as possessões da sua nacionalidade da Africa occidental, escolhendo o Medio e o Baixo Niger e o Alto Senegal como sendo os paizes mais favoraveis onde, como concurso poderoso das vias ferreas, aquella riqueza vegetal fosse engrandecer-se e tornar remuneradores os cuidados da lavoura.

A aclimação desta ou daquella planta é ainda um objecto importante de estudo das missões, parecendo que numas localidades se dão melhor as especies egypcias, cuja finura sedosa torna mais remendaveis.

A associação ingleza estimula por meios similhantes a cultura nos estabelecimentos da mesma nação e cria uma industria indigena novas fontes de materia prima e augmentar, o trafico entre os negros e a Inglaterra.

Para realisar esta exploração enviaram primeiro o agronomo Koffmann para estudar o terreno, o que elle executou na raiz de Egba, encarregando-se da instrucção technica dos negros fazendeiros e de atrahir os chefes e os indigenas a este genero de trabalho, interessando-os pelo lucro commercial immediato.

Os lucros desta empreza são durante os primeiros setes annos somente aplicaveis á creação e alargamento das plantações algodoeiras nas possessões britannicas.

Hoje a producção deste genero no protectorado de Lagos é garantida com inteira segurança de exito.

A quantidade de algodão obtido sob a direcção da «British Cotton Growing Association» até este anno foi a que se vê do seguinte quadro correspondendo ás qualidades da semente:

Africa Occidental:

8:000 fardos, typo americano.

Affrica Oriental:

10:000 fardos, typo egicyo [sic] e India 5:000 fardos «Sea bland».

O valor attribuido a esta colheita é respectivamente de 875:000 libras, para a Africa Occidental ingleza, 1.250:000 libras para a Africa oriental e outro tanto para a India.

As tentivas continuadas com enthusiasmo nas colonias francezas da Setenegambia são do mesmo modo esperançosas multiplicando-se nas estações sob o protectorado da França, no Congo, no Dahomey, em Madagascar.

São dignas do maior incitamento estas patrioticas diligencias, não sómente pelo engrandecimento da agricultura colonial, mas porque obvia á difficuldade creada á laboração textil em virtude da absorpção da materia prima americaua [sic] pela industria estrangeira.

* * *

Sem perder o approposito, diremos apenas algumas palavras sobre duas descobertas relativas ao textil de que tratamos.

Uma é a de um engenhereio russo que de uma maneira artificiosa e aparentemente simples transforma as fibras do linho e do canhamo em... algodão tão bom para fiar e tecer como o das melhores plantas da America, o que de futuro fará com que a Russia, ainda hoje tributaria daquella pelo abastecimento dos seus teares, venha a passar sem ella com vantagem industrial.

Outra é o descobrimento de uma nova planta que forma fios tão fortes como os de canhamo e macios com[o] o linho, um ideal enfim para a tecelagem, de que os indios do centro do Brasil sabem servir-se para fabricar bellos pannos.

A concorrencia de productos congeneres deve pois marcar uma epoca dos algodões, como uma nova edade humana de poderoso transformismo industrial.

J. BETTENCOURT FERREIRA.


Referência bibliográfica

J. Bettencourt Ferreira - "Chronica scientifica / Universalidade do emprego do algodão e a crise que atravessa – Causa da sua escassez futura – Producção americana – Estudo scientifico e experimental do assumpto – Associação para o desenvolvimento da cultura do algodão – Incremento da cultura dos algodoeiros na Africa – Systema de propaganda usado pelas associações promotoras nas colonias – Creação da industria indigena pelos inglezes – Instrucção technica dos negros – Quantidades obtidas pelo impulso da «British Cotton Growing Association» – Resultados animadores obtidos nas possessões francezas em Africa – Algodão artificial – Nova planta textil" in Diário de Notícias de 1 de Agosto de 1905, nº. 14251, p. 1 (c. 7-8). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1411.



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