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A tuberculose e o leite

A tuberculose, não obstante as medidas de prophylaxia e de combate, até hoje adoptadas, continua a fazer um grande numero de victimas.

Nos paizes, onde os modernos preceitos da hygiene são escrupulosamente observados, o numero de obitos, devidos áquella causa, tem diminuido consideravelmente, mas as estatisticas demographicas mostram que muito necessario é ainda adoptar providencias de caracter mais restricto.

Em Inglaterra a mortalidade pela tysica, que, em 1838, havia sido de 3:800 por milhão de habitantes, tem baixado successivamente; e, já em 1897, ultimo anno cuja estatistica é conhecida, o primeiro termo d’aquella relação foi de 1:305.

Esta importante reducção, de cerca de dois terços, deve attribuir-se, principalmente, ao melhoramento das condições sanitarias da habitação das classes menos abastadas, da qual, como se sabe, aquelle paiz cura com a maior solicitude.

Apesar, porém, do numero de obitos ter assim diminuido ainda em Inglaterra, segundo o dr. Arthur Ransame, havia, no anno de 18[5]6, cerca de 300:000 tuberculosos.

A carne e o leite de vacca são os dois vehiculos, mais para temer, do bacillo que tão pernicioso é á humanidade; pois que a especie bovina, principalmente as vaccas leiteiras, é tanto, se não mais atreita á tuberculose do que a especie humana.

O numero de vaccas, affectadas d’aquella doença, tem sido calculado em 70 por cento, mas é ainda talvez mais!

No «Journal of comparative pathology,» 1899, vol. 12, part I, descreve o dr. J. M. Fadyeau as observações feitas em uma manada de 40 vaccas leiteiras do parque de Windsor, pertencente a sua magestade a rainha de Inglaterra.

Aquelles animaes, todos de bom aspecto, estavam alojados em estabulos que, provavelmente, eram os melhores de toda a Inglaterra, sob ponto de vista da capacidade, ventilação e illuminação.

Do exame externo não se podia [d]eprehender que qualquer d’elles estivesse doente, mas, feita a inoculação da tuberculina, que é como se sabe, o meio mais seguro de diagnosticar a tuberculose, 34 vaccas apresentaram os symptomas caracteristicos d’aquella doença: em duas as reacções não permittiram um diagnostico seguro; as quatro restantes não manifestaram alteração alguma.

Em vista d’este resultado, foram abatidas todas as vaccas para serem autopsiadas.

Das trinta e quatro primeiras estavam evidentemente tuberculosas trinta e tres; nada se encontrou que denunciasse a doença na restante que tinha porém o utero inflammado.

As duas, sobre que havia duvida, revelaram lesões tuberculosas; e, das quatro ultimas, tres estavam sadias, mas na quarta existia nos ganglios do mediastino um nodulo caseoso do volume de uma ervilha com innumeros tuberculos bacilli.

Muitas outras observações, de que os jornaes de hygiene veem repletos, evidenciam a imperiosa necessidade de atacar com energia a origem principal da infecção, que a todas sobreleva no numero de victimas.

Conta Nocard que uma menina de dezasete [sic] annos de idade, filha de um medico de Genova, tendo gosado da maior saude até 1892, começou a declinar em principios de 1893, sem que o pae pudesse acertar com o motivo de tão rapida alteração na saude da filha, que falleceu poucos mezes depois.

Feita a autopsia, averiguou-se que a tuberculose intestinal havia sido a causa efficiente da morte.

Procedeu-se logo a um minucioso inquerito para determinar a origem da infecção e soube-se que, habitualmente, aquella familia passava os domingos n’uma propriedade que possuia nos arredores de Genova, onde havia cinco vaccas, e que a menina gostava muito de leite fresco.

Inoculadas as cinco vaccas com tuberculina, quatro d’ellas reagiram, e a autopsia mostrou que duas tinham tuberculose mamaria.

Não vá, porém, suppôr-se que são perigosas apenas as vaccas que teem tuberculos [sic] no ubre.

Minuciosas observações mostram que se deve excluir tambem o leite das vaccas com affecções tuberculosas, ainda as mais insignificantes.

Recentemente, Lydia Rabinowitsch e Kempner analysaram o leite de 15 vaccas que tinham reagido com tuberculina e encontraram o bacillus da tuberculose no leite de 10 d’aquelles animaes.

Observadas clinicamente estas 10 vaccas, apenas uma apresentava os symptomas d’aquella doença, e na autopsia não se encontrou lesões tuberculosas em dois d’aquelles animaes. (Zeitschrift fur Hygiene 1899, Band. XXXI.)

Como se vê, o perigo é imminente sobremodo aterrador. Como evital-o?

A esterilisação ou mesmo a pasteurisação e a simples fervura, destroem aquella por completo, e estas os germens mais communs das doenças inficciosas [sic].

Mas ha muita gente que prefere o leite fresco, e tambem é necessario que a tuberculose se não transmita á especie humana pela manteiga e pelo queijo.

Combater a doença na propria aspecie [sic] bovina é o meio mais efficaz.

Na Dinamarca, Bang mostrou que, sem muita despeza, se podia obter manadas de vaccas sadias, tomando providencias para evitar a infecção dos animaes que vão nascendo.

Em Inglaterra, alguns creadores, principalmente Lord Vernou de Sadburry usando [a]quelle processo, tem obtido o mesmo resultado.

Praticamente demonstrado que o mal póde ser combatido na origem, faz-se propaganda em Inglaterra e n’outros paizes do norte da Europa para que todos exijam, dos seus fornecedores de leite, attestados de que as vaccas de que elle provem não reagiram com tuberculina.

Nova York vae mais longe. Desde 1 de julho ultimo que todas as pessoas, sociedades ou companhias que vendem leite fresco n’aquella cidade, teem de apresentar certificados de pessoa idonea de que elle provem de vaccas sadias, demonstrado não só pelo exame clinico, como tambem por ensaios feitos com tuberculina.

Parece-nos que será util, ao terminar esta breve exposição, indicar o modo mais simples de ferver leite.

Muitas pessoas suppõem que a ebullição começa quando o leite sobe na vasilha em que esta sendo aquecido, mas não é assim.

Para o ferver dever se-ha retirar do fogo a cassarola, logo que se começa a produzir aquelle incommodo phenomeno, que, como se sabe, é devido á caseina coagulada e tem logar quando a temperatura attinge cerca de 80º, e desviar com uma colher a membrana da caseina para um dos bordos da cassarola. Aquece-se em seguida a fogo lento o leite, que poderá ser empregado depois de ferver durante dez minutos.

 


Referência bibliográfica

[n.d.] - "A tuberculose e o leite" in Diário de Notícias de 9 de Fevereiro de 1900, nº. 12276, p. 2 (c. 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1432.



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