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Texto da entrada (ID.1462)

O eclipse do sol

Descripção summaria

Por ser verdadeiramente interessante, transcrevemos hoje mais o seguinte trecho do folheto que o sr. Frederico Oom escreveu a proposito do proximo eclipse do sol, trecho que contém a descripção summaria do phenomeno:

O disco solar a certa hora, que a astronomia nos permitte muito rigorosamente annunciar com uma antecedencia de milhares de annos, começa a mostrar-se elevado de um lado, e a pouco e pouco vae sendo como que destruido por invisivel causa, transformando-se n’um crescente successivamente mais delgado. Se o eclipse é «parcial», não passa o phenomeno d’aqui, e depois de ter desapparecido uma porção maior ou menor do astro luminoso, torna elle, a pouco e pouco, a retomar o seu primitivo e habitual aspecto. N’este caso o interesse astronomico do phenomeno é muito limitado.

Se, porém, o eclypse tem de ser «total» para a localidade onde se encontra o observador, a porção visivel do disco solar vae sempre diminuindo, e chega a ponto de tornar muito sensivel a diminuição na claridade do dia. A temperatura decresce; os animaes mostram-se geralmente inquietos, e procuram os seus poisos nocturnos. Chega um momento em que o Sol se acha reduzido a um delgado filamento junto ao seu bordo ainda visivel, filamento que vae gradualmente encurtando até que se reduz quasi a um ponto, como uma estrella unica de brilho intensissimo. De repente, porém, esta mesmo se extingue: toda a superficie solar desappareceu; começa o eclipse total, ou a «totalidade».

N’este instante as trevas tornam-se densas como as da noite, apparecem estrellas no céo, e a rapida transição de uma luz escassa para uma escuridão, apparentemente tanto mais profunda quanto é mais subita, produz um estranho sentimento de assombro, ainda nos mais prevenidos.

Mas tal assombro cresce de ponto ao considerar a repentina transformação que se opera no logar ha pouco ainda occupado pelo Sol, em seus ultimos clarões. Como por encanto apparece ali um formosissimo objecto, a chamada «corôa solar», luminosa auréola de côr branca argentea ou aperolada, no centro da qual se apresenta como um globo negro a Lua, cuja fórma espherica se mostra então estranhamente perceptivel, em vez do aspecto de disco plano que habitualmente lhe conhecemos. D’esta auréola partem, em direcções variadas, raios e fitas luminosas de fórmas e estructura curiosissimas, uns rectos, outros curvos: uns finos e agudos como settas, outros curtos e largos como petalas de flôres, e todos reunindo-se por delicadissimos fios de luz, nos mais caprichosos desenhos. Junto ao bordo negro da Lua, o brilho é relativamente deslumbrante, mas ainda assim destacando-se sobre esse fundo luminoso, apparecem aqui e acolá umas chammas vermelho-rosadas de aspecto caracteristico, luzindo como brazas.

São estes phenomenos que principalmente attrahem os astronomos de longes terras áquellas regiões onde o eclipse é total. As chammas vermelhas, a que se chama protuberancias solares, já hoje podem ser observadas diariamente sem dependencia de eclipse, mas a corôa ainda não pôde ser vista senão em eclipses totaes, de modo que um tão notavel e complexo objecto sómente durante poucos minutos póde ser estudado. Por isso tambem é ainda altamente mysterioso, e posto que se lhe possa attribuir áffoitamente uma natureza subtilissima, um caracter electrico, e uma estreita conexão para com o globo solar, cuja atmosphera constitue, por assim dizer, ainda numerosos problemas scientificos se agitam a seu respeito.

Mas os instantes fogem, brevissimos minutos teem decorrido, e já outra vez reapparece, como fulgurante estrella, um pequeno ponto do orbe solar, indicando o fim da totalidade; a corôa desvanece-se, o disco negro da Lua torna a confundir-se na côr geral azulada do céo, e o Sol, a pouco e pouco, retoma a forma de crescente, primeiro tenuissimo, depois gradualmente mais largo, até que finalmente volta á plenitude radiosa da sua fórma circular perfeita.

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Por occasião d’este phenomeno, que se realisará no dia 28 de maio, a companhia real dos caminhos de ferro portuguezes, estabelece um serviço especial de ida e volta a Ovar, o melhor ponto indicado pelos sabios para se presenciar a escuridão, e um comboio especial, partindo de Lisboa ás 7,10 da manhã d’aquelle dia e de Ovar às 6 ½ da tarde. Este comboio gastará pouco mais ou menos 6 horas no trajecto, quer na ida quer no regresso.

Os bilhetes especiaes, válidos na ida nos dias 26 a 28 e na volta 28 e 29, custarão:

De Lisboa, 6$800 réis em 1.ª classe, 5$300 em 2.ª, e 3$700 em 3.ª classe.

De Santarem, 5$000 em 1.ª; 3$900 em 2.ª, e 2$700 em 3.ª.

De Torres Novas, 4$400 em 1.ª, 3$400 em 2.ª e 2$400 em 3.ª.

De Thomar, 4$000 e 1.ª, 3$100 em 2.ª e 2$200 em 3.ª.

De Coimbra, 1$900 em 1.ª, 1$500 em 2.ª e 1$000 em 3.ª.

Da Pampilhosa, 1$600 em 1.ª, 1$250 em 2.ª e 850 em 3.ª.

O eclipse dar-se-ha das 3 para as 4 horas da tarde.

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Os extractos, já publicados, da excellente memoria que o sr. Frederico Oom escreveu ácerca do proximo eclypse despertaram enorme interesse em obter esse trabalho para o conhecer integralmente.

Essa curiosidade, porém, não poderá ser satisfeita antes de alguns dias, pois, a referida memoria ainda não está brochada, tendo nós recebido apenas uma collecção de folhas soltas, por amavel deferencia ao nosso pedido.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O eclipse do sol / Descripção summaria" in Diário de Notícias de 30 de Abril de 1900, nº. 12354, p. 1 (c. 5-6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1462.



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