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Texto da entrada (ID.1463)

Hydraulica Agricola Portugueza / Conferencia

O sr. Alvaro Simões, engenheiro civil e chefe da circumscripção hydraulica do Ribatejo, realisou hontem uma conferencia na séde da Associação de Agricultura Portugueza, sob o thema: – «Hydraulica Agricola Portugueza».

Começa o illustre orador a exposição do seu trabalho, dizendo que a Hydraulica Agricola trata de todas as questões relativas ás aguas interiores, affectas ao ministerio das obras publicas, commercio e industria, com excepção de parte dos grandes estuarios de navegação, que pertencem ao ministerio da marinha, ao passo que em França, de onde nos veiu o nome de «Hydraulica Agricola», apenas trata dos cursos d’aguas não navegaveis, nem fluctuaveis, ou do dominio commum, tendo todas outro regimen perfeitamente distincto.

Trata das obras que se teem feito em Portugal, especialmente na bacia hydrographica do Tejo expondo a sua opinião sobre o que se deve fazer para accudir á crise agricola.

Historiou o sr. Simões a distribuição e aproveitamento das aguas desde as epochas mais remotas até hoje, observando que os primeiros povos que déram ao mundo os principaes melhoramentos, n’este sentido, foram os Assirios, os egypcios, os chinezes, os indios e outros. Foi tambem sobre o dominio romano que a Hespanha attingiu o maximo da sua variada e abundante producção agricola, sendo então cognominada – «Celleiro da Europa».

Descreveu os progressos d’agricultura na França, Belgica, Italia, etc., affirmando ser a Belgica o paiz melhor cultivado do mundo, e que deve grande parte do seu progresso agricola ás irrigações, que o tornaram um dos mais ricos da Europa. Alludiu depois aos Estados-Unidos que, apesar dos rios e lagos collosaes que lhes fertilisam parte da sua enorme superficie, tem realisado muitas obras hydraulicas, entre as quaes o canal de Erie e o futuro lago artificial de Missuri, que será o maior do mundo, visto ter 850 kilometros quadrados, não falando já dos innumeros poços artesianos.

O conferente teve por fim demonstrar [sic] que em todos os tempos e em todas as regiões foi objecto das mais serias cogitações a procura e aproveitamento das aguas, quer para augmentar a producção agricola, quer para a creação e desenvolvimento de industrias.

Lamenta que em Portugal nada se tenha feito quanto a aguas, e, comtudo, nenhum outro paiz tem melhores condições para que, pelo menos em muitos pontos, se aproveitasem as enormes riquezas que ellas semeiam por todo o seu curso, com tanto que este seja lento e uniforme.

Sobre este assumpto fez largas considerações, concluindo por preconisar a ideia de construir barragens nos affluentes do Tejo, e que desde a fronteira até perto d’Abrantes não se deve pensar em abrir derivações para regas, mas poderiam construir-se barragens nas ribeiras de Erge, Niza, Sever, Eira, Ocreza e Zezere, á similhança do que se fez em França, na ribeira de Cailly é [sic] no Furenz, em que se produz grande quantidade de força motora, aproveitando-se a agua para as irrigações.

Para o Zezere, por exemplo, ha mesmo um ante-projecto do conductor sr. Schiappa Monteiro, de duas barragens as quaes reteriam o caudal sufficiente para trazer a Lisboa cerca de de [sic] 4:000 cavallos-vapor nas 24 horas, ficando ainda para as industrias de Thomar, Torres Novas, Alemquer [sic], etc., mais de 1:600. É orçada esta obra em 3:100 contos de réis, que dariam, segundo os culculos [sic], 336 contos de rendimento liquido annual.

Por estes meios e ainda por muitos outros, taes como o enralvamento e as plantações, a cultura em socalcos, a abertura da rigoles de Polonceau, as escavações de Chevandier e as pequenas barragens rusticas em todas as encostas da parte superior do Tejo, fariam não só diminuir consideravelmente os estragos dss [sic] cheias, como dariam na estiagem maior quantidade d’aguas ao Talweg principal. De Abranses [sic] para baixo deveriam prolongar-se os canaes de Alpiarça e Azambuja, abrindo o primeiro defronte da Chamusaa [sic] e o segundo principiando perto de Santarem e terminando em Villa Franca.

Descreveu as vantagens d’estas obras para a agricultura e navegação, e tambem para a salubridade de muitas povoaçãoes importantes.

Além d’isto deveria proceder-se á affixação das margens tapando os novos braços do Tejo, e destruindo os mouchões existentes. Quanto aos diques insubmersiveis, deveriam, quando muito, ser substituídos por outros submersiveis, exceptuando o de Vallada por défender [sic] valiosos interesses de uma importante povoação.

Finalmente o sr. Alvaro Simões alvitrou que sejam aproveitadas as correntes de aguas superficiaes e subterraneas, affirmando que havendo tantas leis que mais ou menos se referem aos serviços hydraulicos, não existe ainda em Portugal nenhuma que seja propriamente uma «lei d’aguas», tal com [sic] a possue uma grande parte dos paizes da Europa e muito especialmente a Italia, a França e a Hespanha.

A conferencia terminou ás 10 horas da noite, sendo o distincto engenheiro alvo das maiores manifestações de apreço.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Hydraulica Agricola Portugueza / Conferencia" in Diário de Notícias de 11 de Maio de 1900, nº. 12365, p. 1 (c. 7-8). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1463.



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