O eclypse do sol
A missão da Escola Naval que foi a Vizeu, sob a direcção do lente sr. Nunes da Matta, era composta dos lentes Hugo de Lacerda, e Ernesto de Vasconcellos, dos demonstradores Arnaldo da Fonseca e 1.º tenente Ayres de Sousa e 12 aspirantes de marinha, sendo quatro de cada um dos annos do curso.
Auxiliaram valiosamente a missão no momento do eclypse os officiaes de marinha srs. Gago Coutinho, Ramos da Costa e Costa Rodrigues.
A installação dos apparelhos da Escola Naval foi feita pelo director da missão e pelo sr. Arnaldo da Fonseca, que depois dirigiu os trabalhos telephotographicos, auxiliado pelos srs. Worm e Perez (de Vizeu).
O sr. Paula Cid, 2.º commandante do corpo de alumnos da armada, executou tambem [ilegível] alguns clichés telephoto[graph]icos.
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Regressou hontem de Vizeu, onde tinha ido assistir ás observações do eclypse, o nosso distincto amigo, sr. Seabra de Lacerda, digno par do reino e governador civil do districto de Faro.
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Coimbra, 30, ás 11,22’ t. – São 83 as photographias das differentes phases do eclypse tiradas em Vizeu pelos diversos apparelhos da Universidade.
O dr. Costa lobo ainda ali se demora até sexta feira, para dar tempo a que sejam desmontados os appárelhos [sic]. O astronomo Muller do observatorio de Postdam, esteve hoje em Coimbra. Visitou os estabelecimentos da Universidade que elogiou muito. Tambem foi encantado com os panoramas d’esta cidade e partiu para o Porto, onde se demora dois dias seguindo d’ali para Madrid. – (Correspondente).
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Certã. 29. – O eclypse aqui foi quasi total, apresentando o sol na ultima phase um disco mais delgado do que o da lua em quarto minguante. Ás 3 horas e meia, a que foi o meio do eclypse, escureceu um pouco e a luz do sol, que se aproximava um pouco da luz lunar dava ás coisas um aspecto livido. Houve uma pequena baixa na temperatura. Nos animaes não exerceu influencia alguma. – (Correspondente).
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Leiria, 28. – O eclypse aqui, com quanto fóra da zona da totalidade e a uma distancia quasi igual ao diametro do cone da sombra projectada pela lua sobre a terra, foi ainda assim bastante sensivel. Não poderei dizer que anoiteceu, nem mesmo que o sol desappareceu por completo, mas tornou-se este tão diaphano na maior phase do phenomeno, ahi pelas 3 ½ horas da tarde que bem parecia estarmos n’uma bella noite de luar, se me é licito exagerar um pouco. Algumas estrellas, principalmente as prependiculares [sic] ao observador, brilharam nitidamente na abobada celeste, e chamou para isto a minha attenção um grupo de mulheres que em frente da minha janella apontavam para o céu gritando «Olhem as estrellas!».
As aves revelaram uma certa inquietação, sem que desapparecessem do seu giro. Umas procuravam as arvores para poisarem e logo em bandos levantavam vôo. As andorinhas entravam e saiam amiudadas vezes dos seus ninhos; e um meu amigo diz[-]me que observou varias cambiantes na sobra [sic] da folha d’arvores. – (Correspondente).
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Figueira da Foz, 29. – Foram hontem d’aqui muitas pessoas, no comboio da manhã, para Ovar e Vizeu, a fim do [sic] assistirem n’aquelles pontos ao eclypse do sol. Muitas outras pessoas que desejavam ir a Vizeu, em digressão não o fizeram por não terem comboio que hontem mesmo os conduzisse á Figueira. Crêmos que a Companhia da Beira Alta tudo teria a lucrar, beneficiando ao mesmo tempo o publico, se organisasse um comboio que de Pampilhosa trouxesse para esta cidade os passageiros que regressavam de Vizeu no comboio especial.
– O eclypse do sol foi tanto quanto podia sel[-]o, admirado aqui, chegando, quando attingiu o seu maximo, a diminuir muito sensivelmente a luz e baixando bastante a temperatura. – (Correspondente.)