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Texto da entrada (ID.1488)

O celebre astronomo francez Camillo Flammarion publicou no London Magazin um interessantissimo artigo que versou este transcendental problema – Qual o destino do nosso globo – que, se domina a attenção dos homens de sciencia, não contem menor motivo para captar a mente de toda a gente. É d’esse artigo a seguinte passagem:

“Qual será, interroga Flammarion, o futuro do nosso planeta e de tudo quanto n’elle vive – a humanidade, as plantas, os animaes – dos continentes e dos oceanos?

Cahirá porventura em ruina como um monumento antigo do firmamento, abatido por milhares de seculos de existencia?

Não ha duvida de que a terra não pode ser immortal.

Nem sempre existiu; portanto não existirá sempre.

A terra nasceu, e por isso mesmo tem de morrer.

Mas desde que pode haver tantos differentes generos de morte para um mundo, como para os entes humanos, occorre formular uma pergunta:

“Qual será o seu fim?” e conjecturar a natureza da crise que o ha de destruir.

Por um lado podemos observar que o ar e a agua estão diminuindo, por outro que o espaço dos continentes está baixando progressivamente e reduzindo a superficie a um nivel geral.

Morrerá a terra de secca e de frio ou submergida pelo oceano victorioso?

A agua mantém o calor e a vida da terra. Se ella desaparecesse, isto corresponderia á extincção total de tudo o que vive, respira e torna activa a Natureza.

Se, pelo contrario, o elemento liquido invadisse a terra firme, este facto, embora diametralmente opposto ao precedente produziria, porém, um resultado semelhante.

Em ambos os casos significava a destruição da raça humana.

Tanto o oceano como a atmosphera occupava antigamente maior area do que hoje em dia.

Até houve um tempo em que todas as grandes capitaes do mundo se achavam no fundo dos mares, e ainda encontramos no meio dos continentes provas innegaveis d’essa prolongada immersão.

Nada é immutavel n’este mundo, tudo se encontra n’um estado de continua transformação.

O sol absorve o oceano sob a forma de vapor, que depois se condensa nas nuvens e estas produzem a neve e a chuva que alimenta as nascentes, os regatos, os rios e as torrentes e estes por sua vez restituem ao mar a agua que o sol absorveu previamente sob a forma de vapor.

Eis o systema de circulação da agua sobre o nosso planeta.

Este vasto processo não se realiza, porém, sem uma certa diminuição do volume da agua e, portanto, tambem da extensão do oceano.

Para que a chuva volte ao reservatorio commum, o oceano, tem necessariamente de encontrar camadas impenetraveis ao longo das quaes ella escorregue primeiro como fonte borbulhante, depois como um rio limpido e transparente e finalmente como uma torrente impetuosa, de outro modo penetrará na terra por todas as fendas d’essa mesma camada.

Uma quantidade de agua apparentemente insignificante, mas importante na realidade por causa d’esta acção que se repete durante tantos seculos, penetra por este meio na profundidade do solo poroso.

Se descer a ponto de encontrar uma temperatura suficientemente elevada, transforma-se em vapor, e é esta muito frequentemente a origem das erupções vulcanicas.

A permanente infiltração das aguas no interior do globo diminue constantemente o elemento liquido na superficie da terra e parece que egual sorte está reservada aos corpos celestes do nosso systema solar”.

Flammarion apoia as suas deducções no que presencia em outros planetas do nosso systema solar, e particularmente no que se observa na lua, graças á sua proximidade relativa.

“A nossa visinha, a lua, cujas dimensões são inferiores ás da terra, arrefeceu mais rapidamente e atravessou mais depressa as differentes phases da sua vida planetaria.

Os seus antigos mares, nos quaes ainda se pode reconhecer a acção das aguas, estão hoje seccos e não se descobre por cima d’elles nenhuma evaporação ou nuvem.

Sobre o planeta Marte, que tambem é mais pequeno do que a terra e que se acha innegavelmente n’um periodo mais avançado de vida planetaria, sem ser tão velho como a lua, observam-se mares que estão reduzidos a simples estreitos interiores; os grandes oceanos desappareceram, a chuva é escassa e o céo está quasi sempre limpido.

É provavel que o futuro nos reserve egual destino, mais parecido, porém, com o estado presente de Marte, do que com o nosso satellite, a Lua, e podemos antecipar um dia inexoravelmente fatal, em que a natureza terrestre se verá privada do elemento mais necessario á sua existencia – a água”.

E é pela suppressão da agua que, segundo o poeta sabio chamado Flammarion, a vida terrestre acabaria dentro d’um periodo que, felizmente, deve ser longo e que “talvez” ninguem possa mesmo precisar.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Um problema... - Excerptos de um transcendente artigo de Flammarion" in Diário dos Açores de 3 de Junho de 1908, nº. 5097, p. 1 (col. 1-3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1488.



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Adaptação Internacional

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Astronomia

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