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Texto da entrada (ID.1494)

Nova caldeira de tubos d’agua

Systema Almeida Guimarães

Tem sido objecto de grande interesse na corporação da armada e principalmente entre os engenheiros o recente invento de caldeiras de tubos d’agua que se deve a dois dos seus mais distintos membros, os srs. Guilherme Joaquim d’Almeida, engenheiro sub-chefe, e Henrique d’Oliveira Guimarães 2.º engenheiro, ambos em serviço da repartição technica do arsenal da marinha, sob as ordens do illustre engenheiro mr. Croneau.

As opiniões profissionaes mais auctorisadas teem sido unanimes em dar a sua approvação ás caldeiras de tubos d’agua inventadas por esses habeis engenheiros machinistas, prevendo-lhes um grande successo por possuirem aperfeiçoamentos notaveis que as torna muito vantajosas em relação aos demais typos extrangeiros [sic] já conhecidos, considerando este acontecimento como a gloria nacional.

Com effeito, sendo hoje as caldeiras dos diversos typos de tubos d’agua, quasi as unicas que se empregam na marinha de guerra, com grandes tendencias a serem adoptadas em larga escala, tanto na marinha mercante como em terra nas industrias fabris, é naturalissimo que cause enthusiasmo um invento nacional de tão grande importancia.

Entre as muitas vantagens da caldeira Almeida Guimarães, sobresae [sic] a facilidade com que se póde substituir um dos seus tubos em mau estado, sem que para fazer tal reparação haja necessidade de apagar o fogo das suas fornalhas, nem tão pouco de despejar a agua que ella contem, operações estas que em qualquer das caldeiras até hoje conhecidas são absolutamente imprescendiveis.

Mas não ficam por aqui os aperfeiçomentos que n’ella introduziram os illustres inventores.

Actualmente, uma varia d’esta natureza, nos typos de geradores empregados, tem todas as probabilidades de causar desastres materiaes e pessoaes de não pequena importancia; ha bem poucos dias tivemos um exemplo com o que aconteceu na fabrica de moagens em Alter do Chão, onde além do prejuizos do edifico houve a lamentar a perda de duas vidas e ainda assim, porque, felizmente á hora a que se deu o desastre mais ninguem estava ali proximo.

No novo genero de caldeira, nada d’isto deve succeder; a porção d’agua que sae, quando se declare uma ruptura no tubular, é pequenissima e apenas em quantidade sufficiente para fazer amortecer o fogo e por conseguinte permittir que se proceda immediatamente á substituição do tubo em mau estado, sem que para isso seja necessario proceder á manobra de valvulas, torneiras, obturadores etc.; tudo se faz automaticamente, mas com segurança, pois que para maior vantagem todos esses funccionamentos [sic] podem verificar-se exteriormente em qualquer momento afim de se reconhecer se essa automaticidade é real.

A paralysação de funcionamento d’uma fabrica fica pois reduzida a um minimo de tempo notavel sem contarmos que se póde com mais facilidade dispensar a existencia das caldeiras de reserva, pois que a maior das avarias susceptivel de se dar tem remedio tão prompto realisando uma economia importante.

Dizem-nos tambem que a conducção d’estas caldeiras não exige habilitações especiaes da parte dos foguoiros [sic] que com ellas trabalhem, por ser o seu funccionamento de grande simplicidade.

Esperamos dos poderes publicos a devida protecção dos inventores ordenando que se proceda ao exame consciencioso do typo de caldeiras de tubos d’agua «Almeida-Guimarães» e caso seja approvado como é de esperar, julgamos de grande conveniencia e utilidade que se adoptem estes geradores para os nossos navios de guerra, onde decerto prestarão grandes serviços.

O facto de pertencerem os dois inventores á nossa marinha militar, é motivo para nos regosijarmos, mas é indispensavel que não deixemos ir estes melhoramentos tão importantes para o estrangeiro em os utilisarmos, despresando-os a principio para mais tarde os acceitarmos de braços abertos, quando venham com marca estrangeira.

Convençamo-nos que em Portugal tambem se póde imaginar e fazer muita cousa util e confiemos em que, dado o primeiro impulso, a construcção d’estas caldeiras far-se-ha em grande escala não só para a marinha de guerra, mas tambem para a marinha mercante, industrias fabris e exportação para Africa, onde ellas são muito adoptaveis, visto que se pódem dividir em peças de pequenas dimensões e pouco peso, facilmente transportaveis para pontos distantes do littoral, mesmo com difficuldade de communicação.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Nova caldeira de tubos d’agua / Systema Almeida Guimarães" in Diário de Notícias de 21 de Dezembro de 1900, nº. 12589, p. 2 (c. 3). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1494.



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