Realisou no dia 27 de junho na Liga naval portugueza, em Lisboa, uma conferencia o sr. padre Himalaya, sobre os seus inventos a himalayte e o Pyrleliophoro.
Presidiu o sr. capitão de mar e guerra Almeida d’Eça ,estando a sala repleta de assistentes entre os quaes se viam muitos officiaes de terra e mar, engenheiros, professores, escriptores, estudantes, etc.
(No fim da conferencia, Almeida d’Eça elogiou o conferencista, concordando com ele quanto à necessidade de se reformar o ensino de maneira a dar uma feição mais pratica)
Segue a conferencia:
Resumo da conferencia
Começa por dizer que accedeu ao convite da benemerita direcção da Liga naval com o intuito de ajudar a robustecer a coragem aos seus compatriotas que queiram consagrar-se a trabalhos de manifesta utilidade para si proprios e para o paiz.
Apresentará a largos traços a “historia dos seus trabalhos” para tornar menos arida aquella palestra e para dar uma certa explicação dos motivos que o levaram a inventar uma polvora.
“Nunca pensou” em ser inventor antes do ultimatum de Lord Salisbury.
É certo que já antes d’isso tinha passado a sua primeira mocidade absorvido no estudo das sciencias naturaes, mas isso era unicamente porque se sentia attraido pela belleza intrinseca da natureza que considerava um gesto de infinita graça do Creador.
Havia até entre nós quem falasse n’uma administração estrangeira.
Depois ouviu dizer que Portugal era uma “nação morta” porque os seus homens mais proeminentes eram “ideologos”, e não sabiam gerir os negocios da nação, pelo menis com tanta competencia e bom senso como os directores de qualquer empreza industrial gerem o negocios que lhes estão confiados.
Isso magoou-o até ao intimo da alma, e “jurou consagrar-se ao estudo” para prestar á patria qualquer pequeno serviço que estivesse ao seu alcance.
Conhecendo a irresistivel força do exemplo, lembrou-se então de “dar um exemplo” ainda que insignificante de trabalho util em qualquer campo, onde elle fosse mais urgentemente reclamado.
Vendo que quasi todos os negocios do paiz careciam de melhoramentos, e mesmo muitas vezes de reformas radicaes, e sabendo que não podia trabalhar ao mesmo tempo em todos os campos, começou por estudar as questões agricolas e industriaes e os problemas fundamentaes da hygiene publica e particular.
O estudo da agronomia mostrou-lhe a importancia primordial do azote, na cultura dos cereaes e fez-lhe ver a extrema dificuldade de obter productos fertilisantes azotados.
Os nitratos do Chili continuando a extrahir-se moderadamente como até agora, fornecerão durante 50 annos mais as materias primas p. 2 para o fabrico dos explosivos e para fertilisar alguns hectares de terreno n’um ou n’outro paiz.
Mas se alguém se lembrasse de os explorar intensivamente para com elles fertilisar metade dos campos que se cultivavam á superficie do globo “ficariam exhaustos”, logo no primeiro anno e a terra ficaria brevemente tão esteril como estava d’antes.
Occorreu-lhe então a ideia original de explorar a atmosphera como mina universal e inexhaurivel de azote. A atmosphera é a unica mina existente em que não ha ganga. Tudo é materia util e valiosa. Todo o seu azote na proporção de 77% e todo o seu oxigenio na proporção de 23 p. c. se pode utilisar para o fabrico de saes fertilisantes.
Não vá alguem imaginar que isso crearia algum desequilibrio cosmico ainda que se extraisse uma quantidade tal de azote que fertilizasse até á saturação toda a terra, isso em nada affectaria as condições climatericas e biologicas actuaes.
Ninguem por esse motivo morrerá com falta de ar.
Continua
[n.d.] - "Himalayte e Pyrheliophoro - Conferencia do padre Himalaya na Liga nacional portugueza"
in Diário dos Açores
de 8 de Julho de 1908, nº. 5122, p. 1-2 (col. 5-6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1505.
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