Para fazer mal tudo serve; para fazer guerras e caçadas já havia polvoras bastantes.
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E assim entrou na ultima parte da conferencia, cujo them foi: “Porque é que em Portugal ha poucos inventores, e como é que que podemos vir a tel-os para o futuro”.
Disse que se não temos inventores é porque não queremos.
A nossa raça é uma das mais intelligentes do mundo.
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Confirmam-no notaveis aperfeiçoamentos que alguns compatriotas nossos teem realisado sobre invenções estrangeiras.
Na sua despretenciosa opinião as razões porque o numero de verdadeiras invenções portuguezas é restricto, são:
1º A opinião publica não tem manifestado desejos de termos inventores. Talvez a culpa de isso recaia sobre alguns visionarios que, ignorando as leis da mechanica contavam ter encontrado o meio de extrahir força motora do nada, empregando como bomba automatica uma roda ou volante. Isso deu o chamado motu-continuo, que desacreditou o nome do inventor entre nós. É preciso não confundir um visionario com um homem que estuda e observa e por isso inventa.
Os verdadeiros inventores são necessarios para o progresso das nações.
Os paizes que hoje vão á frente do progresso humano sabem o quanto devem aos homens de genio e espirito inventivo que no seu seio se desenvolveram.
Por isso n’esses paizes o inventor é objecto da estima, respeito e auxilio efficaz da parte dos seus compatriotas e dos poderes publicos e os seus trabalhos são condignamente recompensados pela industria e pelo commercio.
As proprias academias scientificas dispõem de numerosos premios para offerecer aos homens que levaram a effeito qualquer trabalho notavel.
Só a Academia de Sciencias de Paris está encarregada de conferir annualmente muitas dezenas de premios, alguns dos quaes representam uma apreciavel fortuna.
(refere casos de mecenato)
Ha mesmo casos em que os governos d’esses paizes, logo que apparece um homem com reconhecidad aptidões para trabalhos de alcance excepcional, offerecem-lhe os meios a recursos para prosseguir e ultimar dignamente os seus emprehendimentos.
Foi assim que o governo francez offereceu ao immortal Berthelot um magnifico laboratorio de chimica, do qual sairam trabalhos que encheram de gloria os homens que p. 2 os levaram a cabo e o paiz que os patrocinou.
Não é necessario insistir no que se faz na Inglaterra e na America e sobre tudo no Brazil onde os homens de sciencia util são demasiadamente auxiliados.
O Brasil logo que reconheceu que um dos seus filhos, Santos Dumont, tinha talento inventivo incontestavel, offereceu-lhe um premio de 100 contos de réis em ouro, para ultimar condignamente o aperfeiçoamento que introduziu nos balões dirigiveis. Por isso, já hoje o nome do Brasil está escripto no livro da sciencia.
Entre nós, que lhe conste, não existem premios de qualidade alguma para os inventores ou para os simples homens de sciencia util.
Tendo nós uma Academia Real de Sciencias, e havendo em Portugal bastantes familias abastadas, que desejam consagrar uma parte da sua fortuna ao progresso na nossa raça, ousa lembrar a conveniencia de offerecerem, ou pelo menos deixarem em testamento legados condignos, por exemplo, a cargo da Academia Real das Sciencias, para serem distribuidos em premios aos inventores ou sabios portuguezes, que levarem a cabo invenções ou trabalhos originaes, no campo da physica, da chimica, da physiologia e até das novas industrias e novos processos industriaes e agricolas.
D’essa forma começará a haver quem reconheça o merito dos verdadeiros inventores e está convencido que muitos rapazes de talento que hoje passam uma vida monotona e inutil, por não saberem que fazer, se tornarão investigadores eximios e poderão um dia honrar a Patria com as suas descobertas.
A segunda razão porque não temos inventores é porque a instrucção está pouco desenvolvida entre nós; e essa que temos é abstracta, theorica e incompleta.
Conclue
[n.d.] - "Himalayte e Pyrheliophoro - Conferencia do padre Himalaya na Liga nacional portugueza"
in Diário dos Açores
de 14 de Julho de 1908, nº. 5127, p. 1-2 (col. 5-6; 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1511.
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