Academia de Estudos Livres
Visita á «Napolitana»
Com uma numeroso [sic] concorrencia (mais de 200 pessoas) entre as quaes muitas senhoras, realisou-se hontem a annunciada visita áquella fabrica, da firma Gomes Brito, Conceição Reis & C.ª, Limitada, cujo capital é de 400 contos de réis. Os visitantes foram amavelmente recebidos pelo director technico sr. Carlos Ferreira e pelo gerente sr. Antonio José dos Reis, que lhes mostraram todas as dependencias da fabrica, dando-lhes explicações que avidamente eram pedidas.
A fabrica foi construida nos terrenos da antiga fabrica Daupias, cujas construcções foram demolidas e substituidas pelas novas, amplas e arejadas installações, rapidamente construidas.
É dividida em 4 corpos, fóra os armazens, todos independentes e construidos com tijollo burro e ferro, á excepção do deposito de trigo, que é de cimento armado, e cujos solos comportam 2:000 toneladas d’aquelle cereal.
A visita começou pela casa das machinas, onde está o motor da força de 300 cavallos, ali montado a gaz pobre. Brevemente vae ser montada tambem uma machina a vapor em vista do maior desenvolvimento que está sendo dado á fabrica, e que é motivado pela necessidade de augmentar a producção, a fim de satisfazer as exigencias sempre crescentes do mercado.
Todas as machinas são movidas pela electricidade, e são dos melhores modelos que ha do genero, allemães e suissos. D’esta procedencia são os destinados ao fabrico de massas, entre os quaes ha a notar as prensas hydraulicas, as quaes são do typo maior que existe no mundo.
A seccagem da massa é feita por meio do ar, o que impede a sua fermentação, de modo que nunca é azeda.
O fabrico, que é quasi exclusivamente mechanico, exigindo pouco pessoal, é feito nas mais irreprehensiveis condições de asseio, sendo geraes os elogios de todos os visitantes, por esse motivo. A massa é feita exclusivamente com semula, tendo o seu fabrico attingido o máximo de perfeição. A producção diaria é de 12 a 15:000 kilogrammas.
O pessoal é constituido por cerca de 100 operarios de ambos os sexos, vencendo salarios que variam de 410 a 550 réis diarios. Os mestres chegam, porém, a ganhar 4$000 réis por dia. Trabalham 10 horas por dia, das 7 da manhã ás 6 da tarde, tendo uma hora para jantar. Não são admittidas creanças.
Produz todos os typos de massas que se fabricam em Portugal e no estrangeiro, e que são consumidas no continente e na Africa.
A fabrica, que foi fundada em maio de 1909, rivalisa com as melhores das suas congeneres no estrangeiro, onde se não encontram melhor montadas, nem talvez tão bem. Tem sido isto reconhecido até por estrangeiros que aqui teem vindo expressamente visitar a fabrica.
É esta uma gloria para a industria nacional e uma honra para os que a fundaram. O systema da massagem é por meio de cylindros.
Os productos da fabrica teem tal acceitação no mercado que, apesar de ser a mais cara a massa produzida ali, não tem podido satisfazer todos os pedidos, que excedem a totalidade da producção.
A Academia dos Estudos Livres foi a primeira a visitar esta fabrica, segundo nos disseram os directores d’ella.
Bem haja a sympahica instituição.