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Texto da entrada (ID.1604)

Associação dos Caixeiros Portuguezes

Com extraordinaria concorrencia de associados, realisou-se hontem n’esta associação a 4.ª conferencia do curso de sociologia, pelo erudito professor sr Agostinho Fortes.

Passando em rapida revista a materia das conferencias anteriores sobre o objecto da sociologia, seu methodo, historia da creação da terra e apparecimento do homem, o mais perfeito e completo do mammiferos, o conferente entrou propriamente no assumpto da conferencia annunciada, cujo thema versa ainda sobre o homem.

Por muito tempo se suppoz que o homem apparecera no periodo quaternario; o já fallecido e notavel geologo portuguez Carlos Ribeiro, porém, sustentou a existencia do homem terciario, e Quetrefages confessa tambem que, em virtude das pesquizas e investigações do abbade Bourgeois, é para si fóra de toda a duvida a existencia do homem terciario, embora pouco numeroso, em França. Muito se tem em todos os tempos dicutido tambem o habitat primitivo do homem, questão esta que envolve a de determinar-se se o homem proveio d’um só par, ou se, pelo contrario, de muitos.

De todos é bem conhecida a solução dada a estes problemas pela Biblia que, sendo representante d’uma religião, não podia deixar de se manifestar sobe este assumpto, como o hão feito todos aquelles livros compendiadores de doutrinas religiosas.

A Biblia marca como «habitat» primitivo do homem o Eden Terreal, situado na Asia, para uns na região entre o Tigre e o Euphrates, para outros na Mesopotamia do Oxus e do Iaxartes, ou do Amu-Daria e Sir-Daria na actual denominação geographica. Ahi teria vivido o primeiro casal humano, Adão e Eva, que depois se multiplicou de maneira a povoar toda a terra. Ora o genero humano teve certamente origens multiplas; provenientemente dos mammiferos «pithecoides», o homem teve sem duvida numerosos precursores e dissimilhanmtes tambem entre si.

Apparecendo simultaneamente em diversas partes do globo, adaptando-se ao meio circumdante [sic] e modificando-se até mesmo organicamente, as differenças originarias foram-se accentuando gradualmente, até constituirem elementos sufficientes para a constituição das raças.

O genero humano apresenta tres raças perfeitamente caracteris[i]das [sic]: «negra», «amarella» e «branca», cada uma das quaes se subdivide em diversos grupos e estes em familias. Assim, seguindo o modo de vêr de Charles Letourneau, a raça negra comprehende os negros da Oceania ou melanestos, os africanos e os negroides; a raça amarella abrange os mongoes, os mongoloides americanos e outros mongoloides ainda constituidos pelos esquimaus, laponios, malaios e polynesios. A raça branca, ou caucasica, é finalmente constituida pelos berberes, semitas e indo-europeus.

O homem negro caracterisa-se pelo seu cerebro reduzido, principalmente na região frontal, craneo «dolichocéphalo» ou alongado, nariz achatado, maxillas prognathas e cabellos eucarapiuhados [sic].

O homem amarello apresenta um c[e]rebro mais desenvolvido, craneo «brachyréphalo», isto é, largo e curto, prognathismo já pouco accentuado, olhos obliquos, pouco abertos e muito alongados. O homem branco, o mais perfeito e distanciado do animal originario, tem um cerebro assaz desenvolvido, olhos bem abertos e de côres diversas, e os seus cabellos jámais são encarapinhados.

O homem, porém, qualquer que seja a sua raça tem um fim a cumprir. Para a consecução d’esse fim as raças chocam se, combatem se e vão disputando uma a uma a victoria n’esta grande e desesperada lucta. Das tres raças, aquella que parece destinada a desapparecer é a negra; a amarella e a branca parecem disputar entre si a hegemoaia [sic], não podendo com certeza determinar se qual será a vencedora, pois ambos possuem elementos valiosos de lucta.

O homem pensa, sente e quer; é facto; mas resta determinar se o homem é livre como pretendem algumas escolas philosophicas. Em seu modo de vêr, diz o conferente, não crê na liberdade moral do homem, pois que muitas e variadas são as influencias, que actuando sobre o homem o coagem a proceder d’um modo e não d’outro.

O illustre conferente foi muito applaudido pelo numeroso auditório.

A 5.ª conferencia d’este interessantissimo curso effectua-se no proximo domingo, sendo o thema – A [fa]milia.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Associação dos Caixeiros Portuguezes" in Diário de Notícias de 8 de Janeiro de 1900, nº. 12244, p. 2 (c. 8). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1604.



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