Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.1616)

Academia Real das Sciencias

A lepra em Portugal

Conforme previramos, foi revestida do maior interesse a conferencia do illustre clinico e academico sr. dr. Zepheryno Falcão ácerca da lepra em Portugal, hontem realisada na Academia Real das Sciencias.

A assistencia era numerosa, tanto de socios da Academia como de medicos e de muitas outras pessoas de todas as classes.

Presidiu á sessão o sr. conselheiro Silva Amado.

Á hora marcada o sr. dr. Falcão deu começo á sua conferencia que constitue um longo trabalho difficil de summariar aqui e que allia á profundeza do estudo a elegancia e a elevação da fórma.

Principiando por lembrar que em duas epocas distantes a Europa foi flagellada pela lepra, a primeira antes e nos primeiros tempos da nossa era, e a segunda pelos fins do seculo XI e seguintes em que tiveram logar [sic] as cruzadas, referiu-se á perseguição de que os leprosos foram victimas, banidos de direitos, impedidos de casarem, sujeitos em alguns pontos á castração e por fim sequestrados nas 19:000 gafarias anteriores á creação da ordem de S. Lazaro.

O isolamento e outras causas fizeram diminuir a molestia, mas o apparecimento recente de focos de lepra em paizes indemnes desde seculos, como nas ilhas Sandwich, por exemplo, chamou a attenção dos dermatologistas, fazendo temer uma nova invasão na Europa, sendo Portugal um dos paizes que melhores condições offerece para a receber e propagar.

Depois de descrever a doença, calcula em 1:500 approximadamente o numero de leprosos no continente de Portugal, o que é consideravel, visto que a Noruega, citada como paiz fortemente leproso, tem hoje apenas 300 casos; Suecia 70; a Irlanda 150; a Hollanda 30; a Belgica 4; a Inglaterra e a Irlanda [sic] 96; a França 300 e tantos; a Hespanha 1:000 a 1:200; a Suissa 2; a Italia 256; a Russia, 785; a Grecia 209; a Turquia entre 400 e 600, etc.

São, pois, Portugal, Hespanha e Turquia os tres paizes mais flagellados.

Das observações pelo conferente colhidas pacientemente em Portugal concluiu que a lepra se acha dessiminada [sic] por todo o paiz. Localisa-se especialmente á beira mar ou a longo dos grandes cursos d’agua, como demonstrou em um mappa curiosissimo, onde se viam marcados os concelhos atacados de lepra e aquelles em relação aos quaes ou não obteve informações seguras ou as obteve de que o mal não era ali conhecido.

As regiões montanhosas, se não são inaccessiveis ao flagello, são mais poupadas.

Segundo os dados recebidos, o districto mais atacado é o de Lisboa e o unico em que não se mostra o de Bragança.

Com respeito aos outros districtos a ordem de frequencia é a seguinte: 1.º grupo, Braga, Aveiro e Coimbra; 2.º Santarem; 3.º Leiria, Vizeu, Faro e Porto; 4.º Villa Real e Vianna do Castello; 5.º Guarda; 6.º Beja e Evora; 7.º Castello Branco e Portalegre.

A lepra é doença exclusiva do homem, tendo falhado todas as tentativas de inoculação nos irracionaes, e manifesta-se sejam quaes forem as condições de raça, edade, sexo ou posição social, em climas frios, temperados e torridos.

É pelo homem que ella se transmitte, directa ou indirectamente, pelos objectos que as suas excreções pathologicas conspurcam. E o conferente, n’este ponto, reivindica para si a legitima honra de ter revelado que taes excreções são já extremamente perigosas antes de qualquer manifestação exterior.

Depois de justificar largamente a sua crença na hereditariedade e no contagio da lepra, citando numerosas observações proprias, indica os meios de combater o perigo do contagio e que se resumem no seguinte: averiguar onde se acha esse perigo pelo censo da população leprosa, tornar bem conhecida a doença pelo ensino regular da leprologia e combatel-a pelo isolamento (tendo o conferente alvitrado para tal fim a escolha da provincia do Alemtejo [sic], onde a molestia é rara e ha grandes terrenos ferteis ainda incultos e longe dos povoados), e a regularisação das noções do contagio e hereditariedade.

Ao terminar a sua conferencia, o sr. dr. Zeph[e]rino Falcão foi applaudido com uma demorada salva de palmas, e calorosamente felicitado por quantos o escutaram.

(…).


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Academia Real das Sciencias / A lepra em Portugal" in Diário de Notícias de 4 de Maio de 1900, nº. 12358, p. 1 (c. 10-11). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1616.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Notícia Original

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema

Popularização da Ciência
Educação Cientifica
Outros
Palavras Chave


Notícia