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Texto da entrada (ID.1644)

Refinação de assucar

Do sr. dr. Hugo Mastbaum, illustre director do laboratorio da estação chimico-agricola, recebemos a seguinte carta:

Sr. redactor. – Na minha qualidade de antigo refinador de assucar, li com um interesse todo especial as judiciosas observações com que v., no seu artigo sobre «Alimentação e Hygiene, a refinação de assucar», acompanha as representações dos operarios d’aquella industria aos poderes publicos.

Se comprehendo bem a questão, parece-me que ella tem duas faces distinctas e independentes uma da outra, sendo a primeira a substituição do velho systema de refinação de assucar pelo moderno e a outra a falsificação ou adulteração do genero por meio de materias estranhas ou assucares de menor valor.

Com respeito á introducção em Portugal do novo systema de refinar – alias novo só entre nós, porque nos outros paizes ha vinte ou trinta annos não se conhece senão este – assistimos a um facto vulgar em todas as industrias. Os operarios envelhecidos no mourejar habitual revoltam-se contra os aperfeiçoamentos modernos, já porque grande parte d’elles perdem o trabalho, já porque muitos não gostam de sujeitar-se a novas praticas de serviço e ao manejo de apparelhos mais complicados.

D’um modo geral pode-se dizer que o interesse da generalidade esta [sic] na adopção dos processos modernos, porque as machinas trabalham mais barato e com maior perfeição que o braço humano.

Não é este o logar para entrar em detalhes sobre as vantagens do processo moderno na refinação do assucar; seja, porém, dito que uma d’ellas consiste exactamente em que desapparece por completo aquelle trabalho violentissimo dos «operarios esbrazeados junto dos caldeirões» que levou v. a exclamar – «a quanto obriga a necessidade!» – A necessidade não obriga a isto.

Póde-se lamentar a triste sorte dos operarios que perdem a occupação acostumada, mas não teem outro remedio senão procurar outro trabalho. São victimas do progresso como os velhos tecelões de mão que acabaram com a introducção dos teares mechanicos e como tantos outros industriaes pequenos afogados pelo desenvolvimento da machinaria moderna.

A falsificação dos assucares, se existir, não tem nada com o novo systema de refinar. Pode-se falsificar com o processo antigo e com o moderno, com este talvez mais difficilmente porque as installações costumam ser em escala grande, tornando-se, por causa do maior numero dos scientes, mais diffícil conservar o segredo.

Mas em todo o caso a questão se os assucares do commercio actual estão em grande parte falsificados, como se diz, pode ser facilmente resolvida pela analyse chimica.

Existe [sic] auctoridades que teem o encargo de vigiar pela boa qualidade dos viveres, tendo ao seu dispôr laboratorios habilitados para se fazerem as respectivas analyses.

Do seu trabalho deve-se esperar que o publico consumidor não seja lesado nos seus interesses.

Com a maior estima

De v., etc.

Dr. Hugo Mastbaum

[NOTA - O artigo de opnião referido foi publicado na edição n.º 12463 do Diário de Notícias, de 17 de Agosto (p. 1, c. 1.2)]


Referência bibliográfica

Hugo Mastbaum (carta) - "Refinação de assucar" in Diário de Notícias de 19 de Agosto de 1900, nº. 12465, p. 1 (c. 8). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1644.



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