A constituição dos cometas

A proposito da volta de um d’estes astros, resumimos em seguida as explicações fornecidas pelo notavel astronomo francez, o abbade Moreux, e publicadas por uma das principaes revistas scientificas de França.

A verdadeira constituição dos cometas parece escapar á observação directa e os astronomos teem emittido a este respeito as hypotheses mais oppostas, considerando o nucleo dos cometas ora solido, ora gazoso.

Admittindo, como Schiaparelli, uma relação entre os cometas e as estrellas cadentes, é difficil não ver na massa cometaria uma nuvem de particulas solidas, analogas ás que compõem as estrellas cadentes e os bolidos. Isto quanto aos nucleos, pelo menos.

Não é facil calcular as dimensões d’essas particulas, que podem variar desde o tamanho de um grão de poeira até á de uma massa de alguns metros cubicos.

Sobre a origem d’estes corpos não estamos mais adeantados do que no tempo de Herschel. Não se passa de concepções apenas theoricas, que não resolvem o problema.

Seja como fôr, o que se entende é que essas particulas se acham separadas por grandes intervallos, sendo os nucleos cometarios formados por uma multidão de corpos solidos vogando á distancia de algumas centenas de metros uns dos outros, envolvidos em uma substancia gazosa, que fornece ao espectroscopio uma imagem analoga á dos hydrocarbonetos. Sob a influencia do Sol e por um processo de ordem electrica talvez, este involucro torna-se luminoso e phosphorescente.

Só por meio d’esta hypothese de uma larga disseminação dos materiaes solidos do nucleo se podem explicar certos factos bem observados hoje, por exemplo, a visibilidade, sem perda sensivel de brilho, e sem refracção apreciavel, das estrellas, mesmo as de mais fraca luz, atravez da nebulosa dos cometas.

Se se tratasse de uma massa gazosa continua, como faz notar recentemente Burns, a refracção e a absorpção seriam apreciaveis, cousa de que os cometas até aqui ainda não deram signaes, o que favorece a idéa da existencia de partículas solidas disseminadas.