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Texto da entrada (ID.1708)

Pharol da Zavora

Segundo nos consta, no dia 9 do mez passado foi finalmente acceso este pharol que tanto tem dado que falar, pelas peripecias occorridas desde que, ha mais de 20 annos, se pensou, pela primeira vez, em assignalar com uma luz a perigosa ponta da Zavora, em que, ainda, ha 2 mezes, se perdeu um grande paquete allemão, ficando encalhado a menos de 50 metros da terra.

O sr. Azevedo Coutinho, que desde guarda marinha sempre se occupou dos estudos da pharolagem da costa de Moçambique, especialmente no porto de Moçambique, mandou elaborar, quando foi governador geral, um plano completo de balizagens e pharolamento de toda a costa, em que o pharol para a ponta da Zavora figurava entre aquelles que a navegação mais instantemente vinha, desde muito, reclamando.

Foi effectivamente escolhido, logo depois, o local mais apropriado, fixando-se as caracteristicas que mais convinham para o pharol.

O sr. Freire de Andrade, logo que assumiu o governo, e seguindo na mesma ordem de ideias, mandou apressar os trabalhos, sendo effectivamente iniciada logo a construcção da torre e encommendado o apparelho illuminate, um suberbo [sic] hyperradiante, verdadeiro modelo da casa Barbier, importando em 8:000 libras, tendo como alcance luminoso approximadamente 35 milhas.

Depois de concluida a torre, porém, um dos nossos mais illustres officiaes da marinha e uma verdadeira auctoridade em assumptos d’esta natureza, pois que a elle se deve todo o grande incremento que o pharolamento do continente e archipelagos tem tem [sic] tido nos ultimos 10 annos, providencialmente descobriu que tinha havido qualquer equivoco, pois no local escolhido e ainda mesmo que a torre fosse muito mais alta nunca o apparelho encommendado poderia ter ali o alcance de que é susceptivel.

Foi então dada contra-ordem para o constructor francez, mas, ou porque não chegou a tempo ou por qualquer outra razão, em vez de dois pharoes de menor alcance que foram pedidos em troca do outro, este sempre foi parar a Moçambique.

Foi então resolvido destinal-o para o cabo Bazaruto, onde tambem não pode haver altura sufficiente para que possa aproveitar-se todo o seu grande alcance luminoso, e foi comprado um novo pharol para a ponta Zavora, de menor alcance. É esse que agora, finalmente, foi acceso, depois de accrescentada a torre com mais 4 metros.

O seu alcance, segundo nos informam pessoas competentes que já o viram acceso, approxima-se de 20 milhas; mas só agora depois de posto a funccionar, se reconheceu que o local escolhido, além dos inconvenientes apontados pelo que toca á altura, tambem tem o de ter proximo uma ponta que encobre bastante a luz, reduzindo o sector luminoso, que deveria ser de 240º apenas a 180º.

D’isto resulta o não poder ser visto pelos navios que naveguem muito proximos da terra, quando vindos do sul.

Não ha pois duvida de que este pharol, tem, effectivamente, historia accidentada; mas a verdade é que, mesmo com os defeitos apontados, presta inapreciaveis serviços á navegação, para a qual, a ponta Zavora constituia um serio perigo, visto que, tendo de ser passagem obrigatoria de navios, tinha uma posição errada na carta e é uma das regiões do canal de Moçambique onde se encontram correntes mais violentas.

O transporte dos materiais da torre e o proprio apparelho illuminante, até ao local, foi muito difficil, pois que, sendo impossivel desembarcal-o na costa, teve de ser levado desde Inhambane, através de extensos areaes e dunas por mais do [sic] 70 milhas.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Pharol da Zavora" in Diário de Notícias de 3 de Março de 1910, nº. 15912, p. 2 (c. 6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1708.



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