Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.1726)

O COMETA DE HALLEY

O «Petit Journal» de 12, dedicou o seu artigo editorial ao sensacional acontecimento que se prepara para 18 de maio proximo, ás 5 horas da tarde.

O seu redactor Henry Spont, dá ali nota ao milhão e meio de leitores da folha parisiense da opinião do celebre astronomo abbade Moreux sobre o assumpto.

D’esse interessante artigo, recortámos o seguinte:

«Quando falo do encontro do cometa, com a Terra, é simplesmente maneira de falar. Os dois astros, que não giram no mesmo sentido, encontrar-se-hão a 22 milhões de kilometros. Para planetas, a distancia é pequena, porque tudo é relativo e no espaço, os milhões de kilometros, não contam.

Mas se o nucleo do cometa deve poupar-nos, poderá ser que a cauda nos envolva, ou por outra que nós penetremos durante duas horas na sua athmosphera [sic].

Ora, as caudas dos cometas attingem por vezes, extensões inverosimeis, a julgar apenas pelo do de 1843, que media pelo menos, duas vezes a distancia da Terra ao Sol.

Além d’isso, a athmosphera d’estes astros contem carboreto de hydrogenio, azote, uma quantidade d’elementos de que a sciencia não poude [sic] ainda determinar exactamente a composição. Esta athmosphera rarificada seria provavelmente cruel para os nossos pulmões, apesar de ser prematuro affirmar que contenha gazes venenosos».

O celebre astronomo abbade Moreux, disse ao articulista o seguinte:

- «O fim do mundo! Quantas vezes, no decorrer da historia, este terror preoccupou a imaginação dos nossos rudes antepassados! E como elle era legitimo, esse terror que parece hoje ridiculo ao nosso orgulho, enebriado por conquistas muito rapidas.

Não devemos censurar os nossos antepassados. É a elles que devemos o que somos.

Trabalharam segundo a medida dos seus meios, para nos tornar a vida mais doce e mais facil.

Preparam as estradas onde hoje caminhamos a passos largos.

Do embrutecido exercito do instincto, fizeram lentamente sair o homem que medita, que compara, que calcula – e que ama. Sejamos mais modestos, prestemos-lhes justiça...

«Tinham razão para assustar-se, porque não sabiam.

«O nucleo do cometa não nos attingirá e a sua cauda, mesmo se nos tocar ao de leve, será inoffensiva.

Mas, sopponhamos [sic] que o nucleo chegasse a ter contacto com a terra! Um projectil de 278 biliões de toneladas, carregando sobre Paris, com uma velocidade de 60 kilometros por segundo!

Que abominavel cataclismo, que esmagamento!

Seriamos instantaneamente pulverisados, reduzidos a migalhas, em pó. Seria então o fim do mundo, para nós, pelo menos, ou para os milhões de entes habitando a parte exposta do choque. Porque a Terra, não seria completamente aniquilada. É mais densa que o cometa e resistiria.

Não importa isto, para que as consequencias do choque se fizessem sentir em todo o mundo: os mares levantar-se-iam invadindo o sólo; as montanhas entrariam no centro da Terra, emfim [sic], por toda a parte a ruina e a desolação.

E a humanidade desarmada contra este flagello, procuraria em vão um refugio contra a morte!

Seria na verdade o fim do mundo, d’este pobre mundo em que a vida, apezar das suas lutas e das suas crueldades, é tão preciosa para quem sabe comprehendel-a e amal-a.

D’este drama que se passará no espaço, tão perto relativamente de nós, nada se verá. Só os astronomos poderão com os seus instrumentos observar-lhe a marcha silenciosa.

Mas esta observação não será, como poderia julgar-se, um simples divertimento de sabios destinado a fazer admirar o publico. Terá para o futuro, consequencias.

Permittirá penetrar um pouco mais no dominio das forças mysteriosas que nos guiam ou que nos ameaçam. Fornecer-nos-ha indicações e porá armas entre as nossas mãos. E, se mais tarde um cometa deve realmente entrar em contacto directo com a Terra, saberemos, pelos nossos calculos prevêr o perigo e só a elles se exporão os que ficarem no sitio de antemão conhecido em que deve dar-se a conflagração.

O cometa de Halley não é, como se sabe, o mais antigamente conhecido.

Antigamente, pensava-se que os cometas eram astros errantes, vagabundos do espaço «segundo a sua vontade».

Alguns livros propagam ainda esta heresia, reduzida a nada pela sciencia.

O cometa de Halley, foi o primeiro estudado scientificamente. Evola sobre um plano inclinado de 18 graus approximadamente sobre o plano que a terra percorre em torno do sol.

Sabe-se que, para que um encontro seja possivel, é necessario não só, que as duas curvas se cruzem, mas ainda que os dois astros cheguem ao mesmo tempo ao ponto de cruzamento. Sabe-se tudo isto e outras cousas.

«Halley, era um astronomo inglez, Impressionado pela descoberta da attracção universal do seu illustre compatriota Newton, chegou, graças aos seus calculos, a determinar exactamente a periodicidade deste cometa.

Os acontecimentos justificaram as suas previsões.

Morrem cedo de mais, para gosar do seu triumpho, pedindo apenas á posteridade para que no caso de successo: «se lembrasse delle».

Vê-se que a posteridade se lembrou.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "O COMETA DE HALLEY" in Diário de Notícias de 17 de Março de 1910, nº. 15926, p. 7 (c. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1726.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Adaptação Internacional

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema
Astronomia

Outros
Palavras Chave


Notícia