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Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.1759)

Dr. Manuel Alfredo da Costa

Apoz prolongado e cruciante soffrimento, finou-se hontem, pelas 2 horas da tarde, o eminente homem de sciencia, grande operador e habilissimo clinico, Manuel Alfredo Vicente da Costa.

Victimou-o um cancro na lingua, para o qual foram impotentes todos os esforços das summidades allemãs, a que o illustre medico recorreu, sujeitando-se a duas dolorosas operações.

O sabio lente da Escola Medico-Cirurgica de Lisboa expirou rodeado por sua esposa, sr.ª D. Inez Andressen [sic] da Costa, filhos, irmã, sr.ª D. Sophia Frias, irmãos, srs. João e Cincinato da Costa, cunhados, Carlos Chambers e Abilio Andresen e esposa, e pelos srs. drs. Costa Saccadura, medico assistente, e Alvaro Lopes, seu afilhado e a quem apertou carinhosamente a mão já quando a morte adejava sobre o seu leito.

O dr. Manuel Alfredo Vicente da Costa era cirurgião medico pela Escola Medico-Cirurgica de Lisboa. Nasceu em Salsete, na India, a 28 de fevereiro de 1859. Era filho de Bernardo Francisco da Costa e de D. Luiza Mazzoni. Seu pae foi advogado na India e em Almada e deputado pelos circulos de Damão e Diu. Alfredo da Costa terminou o curso com distincção em 1884 e foi nomeado cirurgião interino para o banco do hospital de S. José em 2 de dezembro do referido anno e definitivo em 16 de julho de 1885. Passou a extraordinario em 17 de dezembro de 1889. Foi lente substituto de cirurgia na Escola Medica de Lisboa, secretario e bibliothecario da mesma escola, sub delegado de saude; foi um habil operador e o primeiro cirurgião que em Portugal praticou a operação Estlander (1887) e a resecção da vaginal para a cura do hydrocello pelo processo de Volkmann (março de 1886) e a cholecystotomia (1889). Actualmente era lente da sexta cadeira (Obstetricia) da Escola Medica. Publicou muitos artigos em diversos jornaes de medicina e de cirurgia, principalmente na «Medicina contemporanea» de que foi redactor, assim como da «Revista de Medicina e Cirurgia», publicação quinzenal, etc. Escreveu: «Breve estudo sobre a elephancia», these inaugural, Lisboa, 1884[;] «Febre puerperal», memoria para o concurso do logar de lente de cirurgia, Lisboa, 1887; «Annuario da Escola Medico Cirurgica de Lisboa... anno lectivo de 1890-1892[»], primeiro anno, Lisboa 1891; traz o retrato do sr. conselheiro Antonio Candido Ribeiro da Costa, por ser o ministro do reino que, por sua iniciativa, mandou começar em 1891 o novo edificio para aquella escola. Esta obra publicou-se sob o nome de Alfredo Costa, lente, secretario, etc. Em 1892 saiu o segundo anno do «Annuario», que traz o retrato do fallecido lente Antonio Maria Barbosa. Os annuarios seguintes foram dirigidos por J. A. Serrano.

O dr. Alfredo da Costa era vogal do conselho medico-legal, socio correspondente da Academia Real das Sciencias de Lisboa, presidente de uma das secções da Sociedade de Geographia e da commissão technica da Assistencia Nacional aos Tuberculosos e foi vice presidente da Sociedade das Sciencias Medicas.

O funeral do sr. dr. Alfredo Costa, realisa-se hoje, pelas 4 horas da tarde, saindo o prestito da rua de S. Felix, á Lapa, 4, para o cemiterio do Alto de S. João, onde o cadaver ficará depositado em jazigo de familia.

O feretro será coberto com a bandeira da Sociedade de Geographia.

Hontem, á noite, organisaram-se junto do corpo do distincto professor varios turnos de lentes e alumnos da Escola Medica, vendo-se já ali grande numero de corôas.

Á familia do illustre extincto enviamos os nossos sentidos pezames.

Na Sociedade das Sciencias Medicas

Na sessão de hontem, d’esta aggremiação scientifica, depois de lida a acta da sessão anterior, o presidente, sr. professor Custodio Cabeça, communicou á assembléa o fallecimento do illustre lente da Escola Medica, sr. dr. Alfredo da Costa. O orador disse que não era aquelle momento apropriado para fazer o panegyrico do fallecido. Comtudo [sic] devia dizer que a Sociedade muito devia ao fallecido, pois foi um dos socios que mais contribuiu para o seu engrandecimento.

N’esta aggremiação exerceu o illustre extincto varios cargos, como ha dez annos o de vice-presidente mas com as attribuições de presidente, no largo impedimento d’este, e depois em 1906 e 1907, o de presidente effectivo, tendo então ensejo de prestar relevantes serviços, entre os quaes se contam as importantes obras que se fizeram na séde da Sociedade e que conseguiu devido á sua influencia pessoal e ao acrisolado amor que tinha a tão prestante aggremiação.

Por todos estes motivos, a Sociedade, por proposta de grande numero de associados e por acclamação, nomeou o dr. Alfredo da Costa seu socio benemerito.

Com este honroso titulo, após o passamento do chorado professor só existem 3 socios.

O sr. presidente propoz que a Sociedade fizesse uma sessão solemne em que fosse lido o elogio funebre do fallecido, propondo que esse encargo se entregasse ao sr. professor Augusto Monjardino.

Ambas as propostas foram approvadas por acclamação.

Depois o sr. professor Monjardino agradeceu a escolha que a assembléa fizera, declarando que a sua muita estima e amisade pessoal pelo que fôra seu professor o obrigavam a acceitar a missão de que a Sociedade o encarregára.

Em seguida o sr. presidente, dr. Custodio Cabeças, propoz mais que se participassem estas resoluções á familia do illustre extincto e que a sessão se encerrasse em signal de profundo sentimento pela morte do homem que tanto honrára a cirurgia e o professorado portuguez, o que egualmente foi approvado por acclamação.

A Sociedade de Sciencias Medicas fáz-se representar no funeral pela meza composta dos srs. professores Custodio Cobeça [sic] e Augusto Monjardino e dr. Nicolau Bettencourt.

Sociedade de Geographia

«A mesa cumpre o devêr doloroso de participar aos seus consocios o fallecimento do sr. dr. Manuel Vicente Alfredo da Costa, presidente da secção de sciencias medicas da Sociedade, e pede-lhes que prestem as ultimas homenagens funebres a quem tanto honrou a sciencia e o paiz e tão dedicado foi sempre a esta collectividade.»

- No edificio da Sociedade de Geographia foi hasteada em funeral a bandeira da Sociedade, logo que ali se recebeu a fatal noticia.


Referência bibliográfica

[n.d.] - "Dr. Manuel Alfredo da Costa" in Diário de Notícias de 3 de Abril de 1910, nº. 15942, p. 3 (c. 6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1759.



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