[Pequena introdução histórico, com realce para o Duque de Lafões e para o Abade Correia da Serra:]
(...)
A Academia das Sciencias foi fundada por um principio d'espirito largo e quasi revolucionario - o duque de Lafões - que buscou reunir ali a parte pensante do paiz, n'uma ancia de influir nos costumes, de preparar uma regeneração, de ligar os sabios, obedecendo ao mesmo movel que presidira á fundação da Academia Franceza que Richelieu instituira.
Mas n'um paiz como Portugal, essa reunião de sabios, de varões doutos, entre os quaes se contava o abbade Corrêa da Serra, ligados sob a égide d'esse duque philosopho, inquietou logo o intendente da policia, preoccupado com as conspirações imaginarias das mais imaginarias lojas maçonicas.
(...)
Entrevista, pois, pelo seu lado revolucionario, logo no seu inicio a Academia estava em verdade no seu papel. Uma reunião de individuos doutos, de artistas, de sabios, d'espiritos de elição, formados nas luctas do pensamento, deve tender a todas as conquistas, tanto intellectuaes como moraes, o que quer dizer mesmo politicas. A funcção conservadora de uma Academia mal se entende e no emtanto memso a franceza toma esse caminho, repudiando Zola, o grande, detendo Balzac no limiar, acceitando no emtanto artistas tão ilustres como elles, mas cujas idéas estavam em harmonia com o seu tempo e não tendiam á conquista de novas regalias, á implantação de novos ideaes.
Em Portugal a Academia tem-se limitado a mandar fazer algumas obras de vulto, nenhuma das quaes se concluiu, inclusivé o Diccionario, que seria um monumento, e instituiu em tempos um premio de conto de reis destinado á obra litteraria de maior belleza que entrasse n'um concurso annual.
[apresentação sucinta dos novos académicos: Luciano de Castro; Julio de Vilhena, Conde de Sabugosa; Teixeira de Queiroz; Consiglieri Pedroso.]
(...) Dos novos academicos ha a esperar que se ponham em vigor algumas disposições esquecidas da Academia, pois, sendo espiritos modernos e cultissimos, decerto desejarão dar um grande impulso á nossa litteratura.
De ha muito se sente a neccessidade d'uma corrente vigorisadora n'essa Academia, que no numero dos seus membros contou glorias legitimas como Latino Coelho, Pinheiro Chagas e tantos outros e que actualmente, sobretudo, pelas entradas dos illustres politicos e dos distinctos escriptores que recebeu no seu gremio, tem o dever de abrir novos horisontes áquelles que mourejam sem recompensas dignas nas lettras nacionaes.

n. id. - "Os Novos Academicos"
in Illustração Portugueza
de 23 de Janeiro de 1905, nº. 64, p. 180 (Página inteira). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1769.
Outros