Quedas d’agua da Serra da Estrella
Foi já entregue no ministerio das obras publicas, o projecto elaborado pelo distincto engenheiro o sr. Antonio Rodrigues Nogueira, referente ao aproveitamento das aguas fluviaes que annualmente caem na bacia hydrographica da «Lagôa comprida», na Serra da Estrella, para uma installação hydroelectrica.
Na opinião dos technicos é um trabalho valiosissimo e o primeiro no genero que tem apresentado a engenharia portugueza.
O seu autor já se tem evidenciado em varios trabalhos de engenharia mechanica, sendo por tal motivo considerado dos mais talentosos membros de tão importante classe.
Projectam-se as seguintes obras: um dique destinado a augmentar o volume d’agua da «Lagôa» de modo que este funccione como uma grande albufeira, cujo fim é regularisar o escoamento das aguas fluviaes; «duas estações centraes» onde se installarão os mechanismos necessarios para transformar a energia potencial de agora, em energia mechanica, e esta em energia eléctrica; «canalisações metalicas» destinadas a conduzir a agua, sob pressão, desde a albufeira até aos pontos precisos; um «canal de alvenaria» destinado a conduzir a agua sem pressão.
A potencia da installação, depende da quantidade de agua colhida na bacia hydrographica da «Lagôa comprida».
O posto de observações meteorologicas, que está mais proximo d’esta bacia, é o «Posto da Serra da Estrella», cujas observações serviriam para determinar a quantidade d’aguas que mensalmente concorrem a [sic] «Lagôa comprida».
As vantagens economicas da installação hydro-electrica da «Lagôa Comprida», de que resa a memoria descriptiva e justificativa d’essa grande obra, extractamos os seguintes periodos:
«Todas as propriedades e estabelecimentos industriaes, situados nas margens do «Rio Alva», a jusante da Ponte de Jugaes, e que aproveitam as aguas d’este rio, serão largamente beneficiadas; porque, tanto umas como os outros, durante a estiagem, verão augmentar o caudal, reduzidissimo agora, que será engrossado com as aguas represadas na «Lagôa Comprida», as quaes se escoarão, durante todo o anno, de modo regular e permanete, atravez das canalisações projectadas.
Os campos sequiosos até agora, durante o estio, poderão ser fartamente irrigados; os estabelecimentos fabris, que actualmente reduzem, ou cessam até, o seu labor durante alguns mezes do anno, pódem produzir com regularidade; outros estabelecimentos poderão crear-se; os perigos das inundações serão afastados ou, pelo menos, attenuados; e, por isso, as propriedades marginaes ficarão mais garantidas e valorisadas.
Durante a construção das obras projectadas e montagem dos machinismos destinados á installação hydro-electrica da «Lagôa Comprida», os povos limitrophes serão largamente beneficiados; porque serão estes que absorverão uma grande parte do capital destinado á execução dos trabalhos.
E não é só durante a construcção que aquelles povos hão de ter grande proveito das obras projectadas. O consumo dos productos locaes não será maior sómente durante o periodo da construcção: sel-o-ha ainda depois das obras concluidas, porque estas determinarão o estabelecimento de outras industrias que virão aproveitar a nova força creada.
E todas estas officinas, e estabelecimentos dependentes, occuparão um pessoal numeroso, consumidor, que valorisará os productos do solo, e augmentará as relações commerciaes d’aquella região.
Mas estas vantagens, de interesse local, apesar da sua importancia indiscutivel, quasi que desapparecem deante das que resultarão para o paiz.
Póde dizer-se que «vamos crear» uma potencia de 40 milhões de cavallos-hora, por anno.
Para produzir esta potencia seria preciso consumir, em media, 60:000 toneladas de carvão; isto é, seria preciso exportar annualmente 300 contos de réis em ouro.
Isto equivale a dizermos que a riqueza publica augmentará mais de 6:000 contos!
Mas não é só isto. Tendo nós a energia barata, além de deixarmos de ser tributarios do estrangeiro annualmente, por aquella somma, promoveremos o desenvolvimento da industria nacional, concorrendo ainda mais para o augmento da riqueza do nosso paiz.
Propomo-nos, pois, realisar uma obra de «verdadeira utilidade publica».