O cometa Halley

Condeixa, 23. – É com verdadeiro pavor que a maior parte d’esta gente fala na proxima passagem do cometa. Ha opiniões, de que este astro, que tanto dá que pensar, dará final a este mundo de enganosas esperanças. Assim o disse um cego que hontem aqui esteve a exhibir os seus monotonos fados ao som da classica rebeca, emquanto [sic] o respectivo moço, homem forte e com ares auctoritarios prophetisava um grande cataclysmo para os descrentes, que a troco de uns simples dez réis, não lhe comprasse um folheto recheado de versos. Consta-nos que o homem fez negocio rechuchudo com as pessoas das aldeias visinhas que hontem aqui vieram á feira.

O que nós podemos dar como certo, é que os trabalhos agricolas, pelo menos no dia annunciado da passagem do cometa e no immediato, ficam paralysados, isto, aqui no concelho, porque no de Soure, segundo nos disseram ha dias, o povo na sua maior parte, não trabalha, tal é a fórma como lhe pintaram a passagem do astro de cauda luminosa.

Aqui, na villa, ha muita gente, que n’essa memoravel noite, não dorme, tendo já escolhido pontos onde possam ver passar, bem a descoberto, esse enorme corpo de rasto descommunal.

Nós, tambem não faltamos ao poetico sitio da Senhora das Dôres, onde temos a certeza, que bastantes pessoas nos acompanharão com o mesmo fim.

Até lá se Deus quizer.

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S. Bartholomeu de Messines, 23. – É deveras terrorista o estado moral d’esta [g]ente, devido á proxima passagem do cometa de Halley.

Já se conhecem dois casos de principio de alienação mental, por esse facto.