O Cometa de Halley

Vieira de Leiria, 10. – Ás tres horas e meia da madrugada de hoje, observámos distinctamente o cometa de Halley, com uma cauda bastante comprida, brilhante, ao lado do planeta Venus.

Aqui é o assumpto de todas as conversações, e felizmente não ha sustos pela approximação do dia 18.

Aos que ainda o não viram, convidamo-los, a que despresem um pouco o repouso matutino, e que contemplem o bello Halley.

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Azarêde, 11. – Tem-se avistado aqui, n’estas madrugadas de maio, o celebre cometa de Halley.

Apresenta a cauda já muito luminosa voltada para o Sul.

É um espectaculo soberbo e digno de admirar-se.

O povo ignaro d’aqui não ha meio de o convencer. Acredita que no dia 19 de maio, o cometa acabará com toda esta caranguejola em que habitamos.

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Castro Verde, 11. – Tambem aqui tem sido visto o cometa que tanto interesse tem despertado.

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Valle de Cavallos (Chamusca), 11 – A curiosidade, deu em resultado uma constipação.

O tempo ventoso não vae para graças e as peumonias [sic] gripaes fazem das suas, havendo já um caso fatal a registar.

Tomei alguns pontos de referencia e formei «grosso modo», um mappa celeste, com as distancias apparentes dos vultos principaes.

A falta da lua, deixou gosar o cometa em todo o seu explendor-nucleo brilhante [sic], cauda longa, larga e phosphorescente.

O angulo descripto com a Venus, quando esta desponta no horisonte (n’aquelle que eu vejo) meia hora mais tarde, pouco tem variado.

O desvio é sensivel e a posição differente em relacção á gamma (Algenile) do quadrado de Pegaso, estando, hoje, quasi na sua perpendicular.

A Venus, tem-se chegado um pouco, mas Halley vae-lhe fugindo já, fazendo lembrar a quadra popular:

Eu queria e tu querias,

Eu pedia e tu negavas,

Eu chegava e tu fugias,

Eu fugia e tu choravas...

Na minha correspondencia de 27 de abril, sobre o mesmo assumpto, já eu dizia, como quem «se sangra em saude», que não era «du metier», d’ahi, torna-se desnecessario pedir desculpas das faltas.

O nosso parocho, que está aqui ha pouco tempo, ao contrario do que tenho lido a respeito de alguns dos seus collegas, na quinta feira da Ascensão, com a egreja replecta de fieis fez uma predica allusiva á proxima passagem do Cometa, tranquilisando os menos animosos que, felizmente, são a minoria.

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Torres Novas, 12. – Tem sido visto por muitas pessoas o tão falado cometa de Halley, que se vê distinctamente proximo das 3 horas da manhã.

Pena é que as manhãs appareçam tão frescas pois, se não fosse isso, muitas outras pessoas se levantariam para assistirem a tão bello espectaculo. Por aqui ninguem receia os effeitos do cometa na sua passagem, em 18 proximo da terra.

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Portalegre, 12. – Tambem queremos dar noticias da apparição do cometa de Halley n’esta cidade, onde felizmente não existem superstições nem sustos, como succede n’outras terras do nosso paiz, nas quaes a crendice se tem manifestado d’uma fórma assaz ridicula e vergonhosa.

Por aqui, graças á boa orientação do nosso povo, o cometa de Halley tem-se observado com a mesma indifferença como se teem visto muitos outros, não se ligando a mais leve importancia ás previsões de certos astronomos, que mais lhes valera ir cavar batatas do que escrever baboseiras.

Mas apesar da maioria dos habitantes de Portalegre estar n’estas bellas disposições, lá apparece um ou outro parvo que se salienta, mostrando á evidencia toda a sua brutalidade.

Hontem, por exemplo, um d’esses parvos entendeu de si para comsigo [sic] que havia de arrastar alguns da sua egualha até á praça para ali observarem a lua, que no dizer do tal sujeito mostrava o que quer que fosse fóra do normal.

- Ora vejam... vejam, explicava o tal sujeito, quando é que a lua nova apareceu assim, deixando ver o resto do circulo illuminado?!...

- Effectivamente, accrescentava um outro, tenho perto de oitenta annos e nunca me lembro de ter visto tal «felomelo»!...

- Mas não basta aquillo, você não repara tambem que a lua está ás avessas?!...

- E é que está, não ha duvida...

Este interessante dialogo, ou antes, este enorme chorrilho de asneiras, dispertou [sic] grande hilariedade por parte d’alguns curiosos que ali se juntaram e que muito se divertiram á custa d’aquelles ignorantes.

Por um d’elles nos foi contado este caso que aqui reproduzimos sem a menor alteração.

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Olhão, 12. – Tem felizmente despertado pouco receio n’esta localidade a apparição do cometa de Halley, que tem sido observado por muita gente.

Diz-se que para o proximo dia 18 projectam-se marchas «aux flambeaux», serenatas, musicas, etc.

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Pinhel, 11. – Ha ja dias que se avista, em plena grandeza quasi, o falado cometa de Halley, estando as populações ruraes mais socegadas [sic], pois não teem havido grandes alterações atmosphericas, como se esperava.

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Amora, 13. – Consta que se organisa um «sol-e-dó» para tocar na noite de 18. No caso de ir tudo pelos ares e ventos, sempre é mais suave com acompanhamento musical.

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Barreiro, 13. – O sr. Ladislau Batalha, professor de linguas e redactor do jornal «Ávante», realisa no proximo domingo, 15 do corrente no Centro Socialista local, pelas 8 horas da noite uma conferencia relativa ao cometa de Halley que tambem aqui tem dado que falar. No entanto pouca gente d’esta villa se tem preoccupado com a apparição do luminoso viageiro [sic] celestial.

Conferencias

Porto, 13. – O dr. Duarte Leite realisou esta noite no theatro Aguia d’Ouro, uma conferencia sobre o cometa de Halley acompanhada de projecções luminosas. A conferencia prolongou-se cerca de duas horas vendo-se o theatro replecto de espectadores. Amanhã volta ao mesmo theatro a realisar a segunda conferencia sobre o assumpto. No lyceu D. Manuel II verifica tambem amanhã o alumno da 67.ª classe José Maciel Ribeiro Fortes, uma conferencia sobre o mesm [sic] cometa.