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Texto da entrada (ID.1879)

Papagaios volantes

Ascensões em papagaios volantes

Não é de hoje o problema do aproveitamento dos papagaios volantes como observatorios, permittindo a elevação, a alturas maiores ou menores, d’uma ou mais pessoas.

Elevar-se por meio dos seus papagaios é mesmo o ideal de todos os amadores, verdadeiramente, «enragés» d’este esporto [sic]. E se não é novo o problema da utilisação do papagaio volante como observatorio de campanha, incomparavelmente mais antigo é o problema da simples elevação, no ar, do homem por meio de papagaios com um fim meramente esportivo, para satisfação natural dos ambiciosos desejos humanos que não conhecem limites nem recuam aos primeiros obstaculos.

Data de 1875 a idéa, expendida por Esterno, da utilisação do papagaio para observatorio de campanha, a qual foi recebida com o sorriso ironico e trocista da rotina e julgada como uma utopia; era uma idéa muito para louvar mas não para realisar.

Era a inercia da rotina que então, como sempre, se oppunha á realisação d’essa idéa que hoje tem n’alguns paizes a absoluta sancção da pratica e u’outros [sic] trabalha-se activamente para que em breve se consiga. E note-se que já a esse tempo eram conhecidas as experiencias de Le Bris que, em 1856, estudando um aeroplano da sua invenção, no decurso d’uma experiencia realisou uma ascensão, na qual, pelas circumstancias [sic] em que foi feita, o seu aeroplano funccionou como um simples papagaio, e de Biot que, em 1868, conseguiu elevar-se por meio d’um papagaio de grandes dimensões.

Faltam, porém, por completo, os detalhes ácerca dos apparelhos empregados e dos resultados das experiencias com elles realisadas, assim como nada sabemos do que a este respeito se fez, porventura, no Extremo Oriente.

É natural, em vista do desenvolvimento enorme do esporto do papagaio volante entre os povos orientaes, que alguma tentativa, pelo menos, tenha sido feita. Nada, de facto, se sabe.

Papagaios observatorios

A idéa, apresentada por Esterno foi, pois, posta de lado; julgou-se ocioso tentar qualquer esforço no sentido da sua realisação; e, hoje, em quasi todas as marinhas de guerra e exercitos, á altura da missão para que foram creados e são mantidos, se estuda este problema e assim a Russia tem o seu material Schreiber, a Inglaterra o seu material Cody e a França o modernissimo material Saconey, de cujas experiencias tão concludentes, ultimamente realisadas, ainda nos soa ao ouvido o echo mundial.

Na França, devemos accrescentar, ainda este material não foi approvado superiormente.

É natural mesmo que o governo espere o resultado do concurso Dollfus, de La Ligue Nacionale Aérienne, para então se pronunciar sobre o material a adoptar, se até lá Soconney [sic], no decurso dos seus estudos actuaes, não fizer alguma experiencia de exito absolutamente concludente.

Este official encontra-se actualmente em Boulogne sur Mer procedendo a experiencias com uma équipe de papagaios mandada construir pelo ministerio da guerra.

Dollfus, que instituiu o premio de La Ligue National [sic] Aérienne, depois de ter realisado varias ascensões com o material Saconney [sic], em Boulogne-sur-Mer, é de opinião «que o problema do observatorio aereo está completamente resolvido em França e que nenhuma duvida tem que, dentro de poucos mezes, o material francez se nivelará com as equipes russsas e inglezas».

O premio Dollfus

No concurso Dollfus, a que já nos referimos, disputa-se um premio de 10:000 francos, instituido pelo major Dollfus para o papagaio ou grupo de papagaios que mantenha no ar um observador durante uma hora, a 100 metros de altura e cuja manobra não seja de tal modo difficil que torne o systema impraticavel.

É de notavel importancia esta condição, attendendo ao fim a que, principalmente, se destinam estas equipes de papagaios – observatorio de campanha – e como tal devem constituir material de equipagem de facil transporte e rapida manobra.

São destinados os papagaios observatorios a substituir os balões captivos nas suas applicações militares, logo que o vento attinja uma velocidade superior a 12,5 metros por segundo, velocidade para a qual os balões se tornam inuteis.

Sirva este artigo para mais uma vez mostrarmos qual a importancia actual d’estes apparelhos em todos os paizes adeantados e tão desdenhados entre nós, onde ainda não ha dois centos de pessoas que os não considerem como bons, sómente para entretenimento de creanças.

Antonio Augusto de Figueiredo

Do Aéro Club de Portugal.


Referência bibliográfica

Antonio Augusto de Figueiredo - "Papagaios volantes" in Diário de Notícias de 17 de Maio de 1910, nº. 15986, p. 7 (c. 2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1879.



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