É certo que o carbonio existe por toda a parte, nas plantas, nos animaes, na hulha, na atmosphera sob a fórma de gaz carbonico, no petroleo, no acetylenio, no gaz illuminante, porém, no estado de combinação, donde não é facil separal-o, isto é, isolal-o, para o obter puro e crystalisavel.
Comtudo foi essa a ultima gloriosa experiencia de Moissan a que ha tempo tivemos occasião de nos referir aqui (3-IV-907). Este illustre chimico, ha pouco fallecido, chegou a produzir particulas infimas de diamante, escolhendo para esse fim o carbonio amorpho, a graphite ou o carvão de assucar, submettidos a elevadissima temperatura e pressão, em forno especial, aquecidos á chama do arco voltaico. É uma operação violenta para conseguir por fim, pequenissimas parcelas de diamantes, de uma crystalisação imperfeita.
Esta custosa preparação, mesmo dadas as extraordinarias faculdades do forno electrico, não saiu por emquanto da serena contemplação dos experimentadores, que assistem fascinados a esta desinteressada aplicação do tempo, da actividade e do dinheiro, com intuitos philosophicos, cujo alcance pratico apenas se pode prever.
Não se deve esquecer ao lado d’estas curiosas investigações a tentativa de Charret, de Nantes, que diz ter obtido pequenos crystaes diamantinos operando com o sulfureto de carbonio decomposto por uma corrente electrica.
Qualquer juizo de caracter definitivo sobre estas experiencias, é pelo menos temerario. O facto é que conduzidas com todas as precauções requeridas pela technica, e examinados de boa fé os resultados por aquelles que se entendem sobre a materia, como o insigne geologo p. 2 Lapparent, que mostrou os pequenos cristaes de Charret aos membros do Instituto de França, a synthese do diamante é uma nova conquista da sciencia, embora possam duvidar ou zombar d’ella os incredulos, ainda que os “blufs” como o de Lemoine, possam acarretar sobre ella a duvida e ridiculo. Para a sciencia é um facto positivo, mesmo que não possa converter-se em proveito industrial.
(...)
Uma descoberta não destituida de curiosidade sobre a existencia do preciosissimo brilhante é a que acaba de revelar o sabio oceanographista M. Thoulet. Nas suas notaveis sondagens sobre os fundos limosos do golfo de Gasconha reconheceu a existencia de uma areia formada de pequenissimos cristaes, cujos caracteres cristalographicos coincidem com os do diamante.
Estes cristaes são similhantes aos pelo mesmo professor encontrados em uma elevação proximo de Nancy.
Qual a proveniencia desta poeira diamantifera? Supõe-se que a sua origem seja meteorica, descendente dos innumeros aerolitos que perpassam na esphera de atracção terrestre, traçam á nossa vista deslumbrantes rastros luminosos e deixam cair crespuculos de uma complexa composição, em que entram o ferro e o nickel a que o carbonio não é estranho, realisando-se talvez na queda dessas meteorites, os phenomenos de fusão e de compreensão subita, promovidos artificialmente nas experiencias de Moisseau e Despretz determinado a cristalisação daquelle ultimo elemento. O encontro do diamante nas meteorites foi primeiro assignalado por Friedel, ao lado de outras variedades de carbonio e foi justamente a verificação geologica dos factos como este que inspiraram Moissan nas suas admiraveis pesquizas.
Conclue
Bettencourt Ferreira
(o artigo finaliza no nº5139, terça-feira 28 de julho, mas essa parte não tem interesse para o projecto)