Crónica Literária
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Defeza Sanitaria da Europa contra a peste – Hygiene e prophylaxia internacional – por Julio Gonçalves. – 1910, Antiga Casa Bertrand. 183 pág.
O Sr. Dr. Julio Gonçalves fechou o seu Curso Médico com a apresentação desta obra, cuja oportunidade é palpável, e cujo valor se evidencia a cada página.
Filho de um ilustre professor e publicista goês, irmão de publicistas e jurisperitos, o autor da Defesa Sanitária vem honrar as suas tradições de familia, brindando a ciencia médica com um substancioso trabalho, que é, conjuntamente, documento de largo e sólido estudo e de grande elevação critica.
Na primeira parte da obra, estuda-se a triade biológica-rato, pulga e homem, expondo-se lucidamente o que é a peste em cada um daqueles três seres, e como a peste se transmite entre êles.
A segunda parte é dedicada ao estudo geográfico dos focos originários, secundários e contemporâneos.
E, finalmente, na terceira parte, consignam-se as doutrinas, que mais seguras nos parecem, sôbre a profilaxia internacional e local.
Entre os pontos mais interessantes da obra notámos o capitulo que começa:
- «A peste não se transmite de homem para homem… Directa ou indirectamente, todo o caso humano é um caso acidental, susceptivel em caso murino.»
Não é menos interessante, nem deixará de fazer supresa aos leigos na ciencia médica, como nós, o capitulo, em que o autor mostra que o insulamento e desinfecção são base falsa da profilaxia contra a peste.
Segundo o autor, a base predominante de toda a luta inteligente e racional resume-se no que êle chama desratização, que é como quem diz, guerra de exterminio aos ratos, especialmente ao mus decumanus, que é a ratazana dos esgotos.
As ultimas linhas do livro são um vigoroso apêlo a quem superintende na salubridade pública da nossa capital, para que bem se vejam os perigos que ameaçam Lisboa, e se previna a tempo o que, mais tarde, mal se poderá remediar.
Com vista a quem saiba e queira ler.
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CEDEF.