A producção mundial da hulha e a extincção dos jazigos carboniferos
(Continuado do n.º de 25-VII-1910)
II
Vejamos, portanto, quaes são os paizes carboniferos e qual o grau da sua riqueza hulheira.
- Em rigor, o carvão de pedra existe em maior ou menor quantidade em todos os continentes; mas, praticamente, póde dizer-se que os paizes hulheiros são: na America, os Estados Unidos e, em parte, o Canadá; na Europa, o terreno carbonifero apresenta uma extensão de cerca de 27,000 k. q., accumulando-se particularmente na Inglaterra, Allemanha cias [sic] hulheiras na Russia, França, Austria e Hespanha, faltando porém na Suécia, Noruega, Dinamarca, Grecia e Italia; Neste ultimo paiz ha importantes jazigos de anthracite. Em Portugal a anthracite encontra-se nas minas de Leiria, Cabo Mondego, Pejão e São Pedro da Cova, sendo esta ultima explorada mais intensivamente, produzindo 5 a 6.000 toneladas de carvão por anno, que é apenas consumido no Porto. Em Inglaterra constituiu-se recentemente uma companhia, (The Anglo-Portuguese Colleries C.º L.td) para a exploração das principaes concessões de S. Pedro da Cova, trabalhando-se já activamente em demoradas pesquizas.
Na Asia o terreno carbonifero apresenta depositos de importancia em Bengala, na China e no Japão; nas ilhas da Oceania, e em especial na Nova Galles do Sul, (continente Australiano), ha importantes bacias. Com relação á Africa, até hoje e dignos de menção, só se encontraram os jazigos do Maial e do Transvaal, da Zambezia Portugueza, (Distrito de Téte) e norte de Moçambique, e bem assim na Abyssinia e norte de Madagascar. O carvão de pedra é muito raro na America do Sul.
A federação dos Estados Unidos da America é a unidade politica e economica que maior quantidade de carvão produziu no mundo, attingindo a sua contribuição, nos ultimos tempos, com effeito, 40%, com uma media de 284.021:000 de toneladas no valor de 84.000:000 de £, em 1901, 1902 e 1903, e chegando em 1906 a 375.000:000 de toneladas de producção.
O carvão occupa hoje 1/6 da superficie dos Estados Unidos (750:000 k. q.); os seus immensos depositos, muitos com mais de 100:000 k. q. de superficie, prolongam-se pelas possessões inglezas da Nova Escossia e do Novo Brunswick.
A hulha betuminosa é extraida de 7 grandes bacias:
1.ª – Bacia dos Appalaches, (183.000 k.q.), extensão em mais de 1:550 km. do Estado de New-York ao de Alabama; comprehende os seguintes estados: Pensylvania, Ohio, Kentucky, Tennessee, Alabama;
2.ª – Bacia Central – Illinois, Indiana e Kentucky;
3.ª – Bacia Occidental, (244:000 k. q.) – Iowa, Missouri, Kansas, Arkansas;
4.ª – Montanhas Rochosas, (113:000 km. q.);
5.ª – Costa do Pacifico, (2:500 km. q.);
6.ª – Bacia Septentrional, (norte do Michigan Central), (28:000 km. q.);
7.ª – Bacia de Richmond, Virginia e Carolina do Norte, (115:000 km. q.).
A anthracite cobre os valles de Susquehanna, (Pednsylrania [sic] oriental), (1,250 km. q.). O mais poderoso productor dos Estados Federados é, desde ha muito, a Pensylyvania [sic], representando a sua percentagem em anthracite e em carvões betuminosos 49,1% da producção federal.
Esta producção, aliás, está sempre em augmento de anno para anno, progredindo de uma maneira extraordinária; (...).
Com respeito ás diversas especies de carvão temos as seguintes tonelagens (short tons):
Hulha betuminosa ………………………………………….…… 362.911:826
Anthracite …………………………………………………….… 85.666:404
Hulha semi-betuminosa ………………………………………... 15.880:794
Linhite e hulha subbetuminosa ………………………………… 8.251:249
Semi-anthracite ……………………………………………….… 1.007:287
Block ……………………………………………………………. 1.077:632
Splint …………………………………………………………….. 5.371:557
Cannel …………………………………………………………… 196:675
Total 480.363:424
Estes numeros mostram de uma maneira clara e evidente que a extracção do carvão mineral nos Estados Unidos tem tomado um incremento assombroso, nos ultimos tempos, quasi triplicando a producção em 25 annos (1885-1910), apesar do progresso que em especial se tem notado nesse paiz, com respeito ao emprego da hulha branca como fonte de energia; as industrias progredindo de um modo incessante reclamam cada vez mais imperiosamente, na satisfação das suas necessidades economicas, uma producção de carvão de pedra continuamente maior.
O mesmo acontece com relação á Inglaterra, que vem em segundo logar na escala dos paizes hulhiferos.
A Grã-Bretanha não conta menos de 20 bacias hulheiras; as duas principaes são as de New-Castle e as do Paiz de Galles. A primeira estende-se, nos condados de Durham e Northumberland, paralelamente á costa, n’um comprimento de 77 km. e n’uma largura de 22; a segunda domina toda a bahia de Swansea, n’um comprimento superior a 120 km. e n’uma largura média de cerca de 60; – a superficie desta bacia é maior que a de todas as outras reunidas, existentes na Belgica e França.
(...)
Em 30 annos a extracção duplicou; (...).
Em 45 annos o numero de braços empregados triplicou!
(...)
- Entremos no Continente Europeu:
As bacias hulheiras da Belgica, em numero de cinco, (Mons, Centere, Charleroi, Namur, e Liège), em media de 1901, 1902 e 1903, produziam 22.591:000 de toneladas e esta producção em 1906 subia a 23.000:000.
Essas bacias carboniferas, na realidade formam apenas uma unica, de que uma parte se prolonga até quasi Aix-la-Chapelle, na Prussia Rhenana, e outra pelos departamentos do Norte e do Pas-de-Calais. Esta longa faixa de terreno hulheiro, cujo total desenvolvimento é superior a 400km. numa maxima largura de 15, até hoje, é considerada o mais rico jazigo carbonifero do nosso continente.
A Allemanha possue tambem uma[.] A bacia do Ruhr, na Westphalia, a mais rica da Europa, as bacias de Saxe, da Alta Silesia, e do Sarre, alimentam toda a grande industria metallurgica ahi tão particularmente desenvolvida. (...)
Em França conhecem-se e exploram-se mais de 40 pequenas bacias, distribuidas em 30 departamentos.
Destas bacias a mais importante, pela sua maior extensão é a de Valenciennes, no Norte e Pas de Calais; das restantes apenas 13 teem importancia de maior e são as de Sainte-Etiénne e Rive-de-Gier, (Loire e Rhodano); d’Allais, (Ardèche e Gard); de Commentry e Doyet, (Allier); de Creusot e Blemzy, (Saône-et-Loire); d’Aubin e Décazeville, (Aveyron); d’Ahun, (Creuse); de Graissessac, (Hérault); de Carmaux, (Tarn); de Bonchamps e Champagnaey, (Haute-Saône); de Brassac, (Puy-de-Dôme e Haute Loire); de Saint Eloy, (Puy-de-Dôme); d’Epinac e Autun, (Saône-et-Loire); de Decize, (Nièvre).
(...)
A producção, (...) tem gradualmente augmentado, mas, apesar disso, a França é obrigada a importar um terço do carvão necessario ao consumo das suas industrias.
Falta-nos o tempo para desenvolvermos este estudo relativamente a outros paizes mas quere-nos parecer que o que foi dito com respeito ás principaes nações carboniferas é já o bastante para justificar as conclusões a que em breve chegaremos.
(...)
- Por outro lado, o consumo do carvão de pedra, augmentando na mesma proporção que as necessidades geraes dos povos progridem em grandeza e numero, continuamente exige uma extracção mais afincada e mais abundante.
(...)
(Continua).
Eduardo de Bethencourt Ferreira.
Eduardo de Bettencourt Ferreira - "A producção mundial da hulha e a extincção dos jazigos carboniferos / (...) II"
in Diário de Notícias
de 8 de Agosto de 1910, nº. 16069, p. 5 (c. 1-2). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1942.
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