Dr. Miguel Bombarda

Mais um drama de loucura a accrescentar á longa serie do martyrologio dos alienistas que a Historia e a Sciencia registam e que cada vez avultam mais. Um louco, um official habilitado com um curso superior, asassinou hontem, a tiros de pistola Browning o eminente professor e medico dr. Bombarda. (…)

O dr. Miguel Bombarda nascera no Brasil, no Rio de Janeiro a 6 de março de 1851 (…). Aos dezoito annos Miguel Bombarda optou pela nacionalidade portugueza. Excellente estudante, concluiu a sua formatura em 1877, concorrendo meio anno depois á vacatura de uma cadeira da Escola Medica com uma these que denotava já decidida predilecção pelos estudos psychicos.

Foi approvado em merito absoluto. Decorridos tres annos, em 1880, voltou a novo concurso com uma these analoga. (…) Entrou para a Escola Medica sendo encarregado de leccionar physiologia.

Em 1891 [sic] publicou um programma sobre essa difficil parte de medicina. Em 1883 fundou com outros collegas seus a utilissima publicação «Medicina Contemporanea» que, com pequenas intermittencias dirigiu de ha vinte e sete annos para cá. Em 1892 recebeu o espinhoso cargo de se collocar á frente do hospital de Rilhafolles, remodelando-o de fórma a dar-lhe uma feição em harmonia com os modernos principios da sciencia. Socio correspondente da Academia Real das Sciencias em 1891, foi eleito socio effectivo em 1899. Considerado como o nosso primeiro psychiatra gosava no assumpto de incontestavel auctoridade e o seu cerebro nunca cansava estudando constantemente e publicando consecutivos estudos sobre a sua especialidade.

Pertencia á Sociedade das Sciencias Medicas onde discutia as materias mais graves. Em 1898 abriu um curso livre de conferencias scientificas em que tratava dos Neurenes. Por essa occasião sustentou acalorada discussão com Emygdio Navarro sobre esse thema. Em 1898 lançou a publico «Consciencia e Livre Arbitrio» e em 1900 «A sciencia e o Jesuitismo». Trabalhou com o maior afan no Congresso da União Internacional de Direito Penal, fez parte da Liga Nacional contra a tuberculose, fomentou e promoveu varias conferencias e congressos e em 1906 é a alma do XV Congresso Internacional de Medicina onde a sua actividade e o seu espirito de organisação arrancaram unanimes applausos aos congressistas estrangeiros.

(…).

[Segue-se um longo relato dos eventos que enquadraram o assassínio e, depois, a operação a que a vítima foi submetida. O artigo apresenta um retrato de Miguel Bombarda

O Diário de Notícias publicou várias notícias do funeral. Vejam-se as edições dos dias 15, 16 e 17 de Outubro]