Os ratos
A sua acção nociva
O sr. A. E. Shipley, socio da Sociedade Real de Londres (F. R. S.) acaba de publicar no «Times» de 9 de novembro (pag. 6, col. 3.ª) um artigo interessante ácerca dos ratos e dos seus costumes. Diz o referido sabio que de todos os generos em que se divide a classe dos mammiferos o genero Mus é o mais extenso, pois abrange umas 150 especies.
Diz mais que na Inglaterra ha cinco especies a saber: Mus decumanus, Mus rattus, Mus musculus, Mus sylvaticus e Mus minutus. – São muito interessantes as noticias que dá acerca das varias especies, seus habitos, sua origem, e maneira por que transmigraram. Como outros animaes omnivoros que se alimentam em grande parte de detritos e immundicies o rato transporta um grande numero de parasitas. No «Jornal de Biologia Ecconomica» (Jounal of Economic Biology) o auctor mencionou 30 especies differentes de bichinhos, piolhos, pulgas e outros insectos que vivem sobre os ratos, afóra 47 especies de parasitas internos. Desde o tempo dos Israelitas que os ratos foram assignalados como coexistindo com a peste. O bacillo da peste é transportado de rato para rato, e do rato para o homem, por meio da pulga. Para o vulgo uma pulga é uma pulga, mas, para o entomologista, ha muitas especies de pulgas, todas de differenciação muito difficil mas, em todo o caso, differentes. Felizmente ha em Inglaterra uma pessoa – o sr. Carlos Rothschild que é uma auctoridade de primeira ordem ácerca das Pulicidioe. A pulga mais vulgar dos ratos pardo e negro é, em Inglaterra, Ceratophyllus fasciatus, mas a pulga que tem principalmente disseminado a peste na India denomina-se Pulex cheopis. A pulga commum do genero humano, Pulex irritans, tambem se encontra algumas vezes nos ratos.
O interesse que agora despertam os ratos e as suas pulgas é devido á erupção de uma epizootia em Suffolk, que se assegura ser devida ao bacilo da peste. Se isto tem fundamento, posto não haja motivo para panico, são justificados o sobresalto [sic] e a anxiedade [sic]. É especialmente para lastimar que tenha havido este anno um grande augmento de ratos e ratinhos na Inglaterra oriental. Emquanto [sic] existir duvida sobre a natureza da doença dos roedores cumpre ás auctoridades tratal-a como peste, até que definitiva e peremptoriamente se tenha demonstrado que é outra doença. Não é talvez demasiado cedo para versar o assumpto, e cada dia que passa tem grande importancia. Deixar a empreza de destruir os Muridoe aos esforços locaes do governo é incorrer em gravissima responsabilidade. Taes esforços podem ser improficuos, por serem locaes.
Apenas se começa uma campanha contra os ratos estes espalham-se, abandonam os seus districtos e invadem outros. Por isso em vez de começar a campanha no proprio logar infectado, os exterminadores dos ratos devem fazer um circulo em volta do districto, a partir de pontos em que se não tenha encontrado reto algum contaminado, e depois marchar da peripheria para o centro. Deve tomar-se o maior cuidado em destruir as pulgas antes de ellas abandonarem os ratos mortos. Ratos e pulgas devem ser queimados e não enterrados. Ha actualmente em Londres muitos empregados com experiencia da peste. Deve-se-lhes dar auctoridade e dinheiro para providenciar sobre o assumpto. A nenhuma despeza e a nenhum encommodo convém fugir n’esta occasião. Tem-se feito tentativas para fechar certas areas com estacadas ou redes de arame. Este processo, porém, é inefficaz, por que os ratos são bem conhecidos mineiros (the rat is a well-known bur rower)[.] Nenhum rato deve beneficiar com a duvida; devem todos ser mortos sem compaixão (ruthlessly destroyed). Se a peste irromper n’este paiz todas as auctoridades que descurarem empregar cumulativa e officialmente os meios de obstar ao flagello, serão tidas como responsaveis d’elle pelos seus concidadãos.
A rata em geral, e a parda em especial, é muito prolifica, tendo muitas barrigadas cada anno d’oito a dez filhos, algumas vezes quatroze. Os ratos que infestam os jardins zoologicos, diz-se que nadam de noite no canal Regets [sic] Park. Os ratos pardos fazem enormes prejuizos ás medas de trigo e aos cereaes armazenados, e são inimigos figadaes dos gallinheiros, pombaes e coelheiras. Fazer o recenseamento dos ratos seria impossivel, mas admittindo que ha um rato por habitante das Ilhas Britannicas, isto é menos do que um rato por cada geira de terreno, o seu numero seria, pelo menos, de 40 milhões. Tem-se calculado que um rato faz por anno o prejuizo de 7 s. 6 d. Se isto é exacto o prejuizo annual na Grã-Bretanha e Irlanda excede a dez milhões de libras.
O artigo é muito mais extenso mas limitamos ao que fica dito os nossos apontamentos.
Lisboa, 12/XI/910.
Alfredo Ansur