Base de Dados CIUHCT

Divulgação Científica em Jornais



Texto da entrada (ID.1977)

Os ratos

A sua acção nociva

O sr. A. E. Shipley, socio da Sociedade Real de Londres (F. R. S.) acaba de publicar no «Times» de 9 de novembro (pag. 6, col. 3.ª) um artigo interessante ácerca dos ratos e dos seus costumes. Diz o referido sabio que de todos os generos em que se divide a classe dos mammiferos o genero Mus é o mais extenso, pois abrange umas 150 especies.

Diz mais que na Inglaterra ha cinco especies a saber: Mus decumanus, Mus rattus, Mus musculus, Mus sylvaticus e Mus minutus. – São muito interessantes as noticias que dá acerca das varias especies, seus habitos, sua origem, e maneira por que transmigraram. Como outros animaes omnivoros que se alimentam em grande parte de detritos e immundicies o rato transporta um grande numero de parasitas. No «Jornal de Biologia Ecconomica» (Jounal of Economic Biology) o auctor mencionou 30 especies differentes de bichinhos, piolhos, pulgas e outros insectos que vivem sobre os ratos, afóra 47 especies de parasitas internos. Desde o tempo dos Israelitas que os ratos foram assignalados como coexistindo com a peste. O bacillo da peste é transportado de rato para rato, e do rato para o homem, por meio da pulga. Para o vulgo uma pulga é uma pulga, mas, para o entomologista, ha muitas especies de pulgas, todas de differenciação muito difficil mas, em todo o caso, differentes. Felizmente ha em Inglaterra uma pessoa – o sr. Carlos Rothschild que é uma auctoridade de primeira ordem ácerca das Pulicidioe. A pulga mais vulgar dos ratos pardo e negro é, em Inglaterra, Ceratophyllus fasciatus, mas a pulga que tem principalmente disseminado a peste na India denomina-se Pulex cheopis. A pulga commum do genero humano, Pulex irritans, tambem se encontra algumas vezes nos ratos.

O interesse que agora despertam os ratos e as suas pulgas é devido á erupção de uma epizootia em Suffolk, que se assegura ser devida ao bacilo da peste. Se isto tem fundamento, posto não haja motivo para panico, são justificados o sobresalto [sic] e a anxiedade [sic]. É especialmente para lastimar que tenha havido este anno um grande augmento de ratos e ratinhos na Inglaterra oriental. Emquanto [sic] existir duvida sobre a natureza da doença dos roedores cumpre ás auctoridades tratal-a como peste, até que definitiva e peremptoriamente se tenha demonstrado que é outra doença. Não é talvez demasiado cedo para versar o assumpto, e cada dia que passa tem grande importancia. Deixar a empreza de destruir os Muridoe aos esforços locaes do governo é incorrer em gravissima responsabilidade. Taes esforços podem ser improficuos, por serem locaes.

Apenas se começa uma campanha contra os ratos estes espalham-se, abandonam os seus districtos e invadem outros. Por isso em vez de começar a campanha no proprio logar infectado, os exterminadores dos ratos devem fazer um circulo em volta do districto, a partir de pontos em que se não tenha encontrado reto algum contaminado, e depois marchar da peripheria para o centro. Deve tomar-se o maior cuidado em destruir as pulgas antes de ellas abandonarem os ratos mortos. Ratos e pulgas devem ser queimados e não enterrados. Ha actualmente em Londres muitos empregados com experiencia da peste. Deve-se-lhes dar auctoridade e dinheiro para providenciar sobre o assumpto. A nenhuma despeza e a nenhum encommodo convém fugir n’esta occasião. Tem-se feito tentativas para fechar certas areas com estacadas ou redes de arame. Este processo, porém, é inefficaz, por que os ratos são bem conhecidos mineiros (the rat is a well-known bur rower)[.] Nenhum rato deve beneficiar com a duvida; devem todos ser mortos sem compaixão (ruthlessly destroyed). Se a peste irromper n’este paiz todas as auctoridades que descurarem empregar cumulativa e officialmente os meios de obstar ao flagello, serão tidas como responsaveis d’elle pelos seus concidadãos.

A rata em geral, e a parda em especial, é muito prolifica, tendo muitas barrigadas cada anno d’oito a dez filhos, algumas vezes quatroze. Os ratos que infestam os jardins zoologicos, diz-se que nadam de noite no canal Regets [sic] Park. Os ratos pardos fazem enormes prejuizos ás medas de trigo e aos cereaes armazenados, e são inimigos figadaes dos gallinheiros, pombaes e coelheiras. Fazer o recenseamento dos ratos seria impossivel, mas admittindo que ha um rato por habitante das Ilhas Britannicas, isto é menos do que um rato por cada geira de terreno, o seu numero seria, pelo menos, de 40 milhões. Tem-se calculado que um rato faz por anno o prejuizo de 7 s. 6 d. Se isto é exacto o prejuizo annual na Grã-Bretanha e Irlanda excede a dez milhões de libras.

O artigo é muito mais extenso mas limitamos ao que fica dito os nossos apontamentos.

Lisboa, 12/XI/910.

Alfredo Ansur


Referência bibliográfica

Alfredo Ansur - "Os ratos" in Diário de Notícias de 14 de Novembro de 1910, nº. 16167, p. 5 (c. 6). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=1977.



Detalhes


Nome do Jornal


Mostrar detalhes do Jornal

Número

Ano Mês Dia Semana


Título(s) do Artigo


Título

Género de Artigo
Opinião

Nome do Autor Tipo de Autor


Página(s) Localização do Artigo na(s) página(s)


Tema

Outros
Palavras Chave


Notícia