Noções de hygiene infantil

Tenra vergontea, carecendo dos mais solicitos e assiduos cuidados para desenvolver-se convenientemente, tal é o organismo infantil, que Fossagrives denomina – «pequena crysalida do homem». – A pratica dos preceitos hygienicos, necessaria em todas epocas da vida, torna-se indispensavel na infancia, quando o organismo da creança, desenvolvendo-se em condições defeituosas, transforma esta n’um ente fraco, enfezado, rachitico, onde os germens das doenças, em geral, e especialmente a tuberculose, encontram um terreno favoravel ao seu desenvolvimento.

Alimentação da creança – O leite, aleitamento materno – Contra-indicações – A escolha da ama – Aleitamento artificial

A alimentação da creança deve ser, durante os primeiros mezes, exclusivamente constituida pelo leite. Este é um liquido onde se encontram dissolvidas: 1.º, materias salinas, constituidas principalmente por phosphatos, e chloreto de potassa soda e cal; 2.º substancias hydro-carbonadas, taes são o assucar de leite, ou «lactose», e a manteiga, que se encontra sob a forma de pequenos globulos, que se observam ao microscopio e que medem 0^m,001 a 0^m,002 de diametro; 3.º, substancias azotadas, sendo d’estas as principaes a albumina e a caseina, a ultima das quaes está apenas apparentemente dissolvida, pois filtrando o leite atravez de laminas porosas de argilla, a caseina não se encontra no liquido filtrado. Todos estes elementos existem no leite nas proporções necessarias á nutrição, constituindo este, portanto, um alimento completo.

Por este motivo e pela sua facil digestão é o leite o unico alimento que convém nas primeiras epocas da vida, em que as funcções digestivas são por assim dizer, rudimentares.

Não se conclua d’aqui que todas as especies de leite constituem alimento conveniente para a creança: é o leite da mulher, em geral, e particularmente o leite da mãe, que satisfaz plenamente ás condições de digestibilidade do novo ser. Constituido, a principio, pelo colostro, cuja acção purgativa determina a expulsão do mecanio, vae-se modificando gradualmente, á medida que se modificam as condições de digestibilidade da creança. – A escrofula, a tuberculose, a diabetes e outras doenças, que imprimem profundas modificações ao organismo, são outras tantas contra-indicações ao aleitamento materno. O mesmo succede com relação á epilepsia e outras perturbações nervosas graves, as doenças chronicas da pelle, as affecções morbidas dos seios ou as deformações d’estes.

Pelo que respeita á syphilis, as opiniões divergem, affirmando uns que ella póde transmittir se pelo leite, negando outras a transmissibilidade, por este liquido, d’este ou de qualquer outro principio morbido.

Seja como fôr, se a creança apresenta manifestações syphiliticas e a mãe tambem se acha infeccionada, julgamos conveniente ser esta quem amamente o filho, pois não seria licito que r [sic] creança fosse transmittir à ama a syphilis, por intermedio das placas mucosas que n’estes casos oostumam [sic] apparecer na boca: a mais insignificante esgarçadura do mamillo bastaria para poder dar-se a infecção. Além d’isso, os medicamentos ingeridos pela mãe, eliminando se pelo leite, vão actuar sobre o organismo da creança. Quando a syphilis é de origem paterna e a mãe se conserva indemne, dever-se-ha então recorrer ao aleitamento artificial.

A anemia, não sendo muito pronunciada, nem sempre constitue uma contra-indicação, tanto mais que póde modificar-se, durante o periodo da lactação, por um tratamento apropriado.

Finalmente, razões de ordem social, que nos abastemos de enumerar, obstam, muitas vezes, a que a mãe amamente o filho.

E. A.