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Texto da entrada (ID.2034)

Secção scientifica e artistica

O Relogio Moderno

I

Como ultimamente este jornal teve a amabilidade de publicar o artigo que enviei ácerca do relogio do dr. Carvalho Monteiro servirá este de complemento e traduso [sic] do jornal «La Nature» de 11 do corrente, auctor o sr. L. Roverchon.

Um relogio ordinario compõe-se de 150 peças, pouco mais ou menos. Nos relogios complicados, chronographos, de repetição etc. este numero eleva-se a cerca de 800. M. Levy chegou mesmo a distinguir, ultimamente, 975!

Entre estas peças ha algumas de tão delicadas e tenues que excede quanto pode imaginar-se.

Assim ha espiraes cuja groza (144 peças) pesa apenas 20 centigrammas.

O sr. Paulo Ditishein chegou a empregar n’um relogio ultraminusculo, uma espiral que pesava apenas um decimo de milligramma!

A precisão que podem hoje attingir estes pequenos mecanismos, graças á perfeição dos escapes, é tal que as suas irregularidades, calculam-se empregando exclusivamente, como unidade, a decima parte d’um segundo.

E não causa admiração alguma, achar um relogio em bom estado depois de ter trabalhado durante dez annos, isto é, depois do balancim ter pulsado mais de mil e quinhentos milhões de vezes e de cada um dos dentes da roda de escape ter percorrido, sobre os planos em rubis da ancora sem deixar vestigio apreciavel, cerca de 52 kilometros e meio.

Bastam estas cifras para demonstrar quão longe estamos do principio do seculo XVI, epocha a que se faz remontar a apparição dos primeiros relogios de algibeira, cuja invenção é attribuida pelos allemães a Pedro Heibein, de Nuremberg, ao passo que Pedro Dubois a reivindica – talvez com justo fundamento em favor d’um francez.

Advirta-se que esses primeiros relogios, reducção dos primeiros relogios dos coches, não nos pareceriam portateis, com as suas formas espessas, ovaes, octogonaes.

Se as suas caixas de ouro, prata ou cristal eram de lavor maravilhoso, os seus movimentos desporvidos [sic] de espiral, não podiam dar, mesmo com auxilio da «fusada», senão uma hora aproximativa.

É, com effeito a espiral – cuja invenção, disputada pelo inglez Hook, o francez Hautefenille e o hollandez Huyghens parece que só pertence de facto a este ultimo – que introduziu nos mechanismos alguma regularidade.

Todavia e ainda que a sua primeira apparição data [sic] de 1674 e se tenha realisado em Paris, só no fim do seculo XIX poude a espiral merecer verdadeiramente o qualificativo de regulador de relogios ordinarios.

Foi com effeito em 1874 que Lutz, de Neuchatel, inventou um processo de fabrico de espiraes em aço temperado, cujo monopolio tem até ha pouco pertencido quasi exclusivamente á Suissa.

D’antes, só os bellos relogios inglezes e os chronometros de marinha eram munidos de espiraes temperadas na sua forma. Os outros tinham de contentar-se com espiraes de aço martellado a frio, de qualidade muito secundaria.

Quasi no mesmo momento em que as espiraes de Lutz entravam na fabricação usual, o livre escape d’ancora, (cujo principio é devido a Graham, e em cujo aperfeiçoamento trabalharam Mudge na Inglaterra, Pouzail em Genebra e mais tarde sobre todos Leschot e os irmãos Léchaud[)] começou a generalisar-se.

Hoje, graças ao espiral tão maravilhosamente docil, ao escape d’ancora de tão admiravel precisão, graças ainda aos processos realisados nos balanceiros e á compensação d’estes, pode affirmar-se que o relogio de algibeira attingiu a perfeição pratica.

Os resultados comparados dos diversos observatorios chronometricos, garantem-nos esta certeza.

E os recentes trabalhos do sr. Paulo Ditisheim e do dr. Guillaume, ácerca da delicadeza das reacções barometricas, plenamente a confirmam.

Como se fabricam estes relogios dos quaes a Suissa, só á sua parte, vende pela somma de mais de 100 milhões de francos, annualmente, e cada um dos quaes exige, pelo menos, 600 operações differentes?

Alguns fabricantes dirigem-se a fabricas de productos não aperfeiçoados, ás quaes appresentam os seus planos e que lhes fornecem mouvements, isto é, machinas de relogio, tôscas, destinadas a ser acabadas no atelier ou que serão terminadas por obreiros que trabalham no proprio domicilio.

Este systema tende a desapparecer perante as grandes officinas, onde só entram materias primas em bruto, das quaes sahem machinas completamente terminadas nas suas competentes caixas.

Estas officinas fazem em ponto grande e, pela divisão multiplicada do trabalho o que fazia sosinho o relojoeiro antigo.

Mas a differença é esta, em vez de produzirem algumas duzias de relogios por anno, essas immensas colmeias, onde centos de operarios fazem mover innumeras machinas e instrumentos, lançam no mercado centenas de milhares de machinas de relogio.

ALFREDO ANSUR

[NOTA - A segunda parte deste artigo foi publicada na edição n.º 14095 do Diário de Notícias, de 24 de Fevereiro (p. 3, c. 3-4)]


Referência bibliográfica

Alfredo Ansur (tradutor) - "Secção scientifica e artistica / O Relogio Moderno" in Diário de Notícias de 19 de Fevereiro de 1905, nº. 14090, p. 5 (c. 1). Disponível em linha em http://bd-divulgacaocientificaemjornais.ciuhct.org/entrada.php?id=2034.



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