Nova machina extractora da borracha

Nos escriptorios da Companhia Agricola do Bango, realisaram-se hontem pelas 3 horas da tarde, as experiencias da nova machina extractora da borracha, da raiz da planta, experiencias que foram coroadas do melhor exito, dando magnificos resultados.

A extracção da borracha faz-se com dois apparelhos, o primeiro um cylindro completamente ôco, com o comprimento de 2 metros e dividido em dois compartimentos onde se introduz a casca tirada á raiz da planta da borracha.

Em cada um desses cylindros são mettidos tres rolos de ferro com o peso de 90 kilogrammas, imprimindo-lhes o movimento de rotação, por meio de duas manivellas, quatro homens, dois de cada lado do apparelho. Este é o primeiro trabalho para à [sic] trituração da casca. À proporção que se estabelece o movimento de rotação, a casca reduz-se a pó e sae por dois peneiros, colocados na parte exterior dos cylindros.

Depois de meia hora de movimento, a borracha é tirada, peneirada de novo e lavada até que a agua das ultimas lavagens fica perfeitamente limpida.

Em seguida a borracha é introduzida noutra machina denominada «lavadeira» onde é deitada agua fria, acabando de lavar e triturar a borracha.

Dentro desta machina, cujo movimento é tambem de rotação e applicado por dois homens, são lançadas 107 espheras de ferro, de varios diametros com o peso de 99 kilogrammas.

Decorridos dez minutos de movimento tira-se, por um peneiro, a agua já servida, para se repetir o mesmo trabalho.

Por fim, deita-se agua a ferver, para a coagulação da borracha, que retirada da machina é posta em celhas com agua quente, formando pequenas bolas, que depois são partidas em gomos, para seccar mais facilmente.

Cada um dos jogos da machina dá uma producção de trinta kilos por dez horas de trabalho. O novo apparelho é fabricado pela casa William F. Schmole & C.ª, de Anvers e foi um dos socios desta firma, o sr. Hoechle, quem o inventou.

A Companhia Agricola Bango é a agente entre nós dos fabricantes com privilegio em Portugal e colonias. A direcção da companhia mandou já uma destas machinas para a provincia de Angola, que ficou installada nas propriedades que a companhia possue no Bango. A machina foi propositadamente estudada para extrahir a borracha, que em grande abundancia possue o Congo Belga.

Os dois apparelhos são facilmente transportaveis e de rapida montagem, que se faz com uma chave de parafusos. Podem ser levados em zorras ou ás costas de carregadores para os locaes onde existe a materia prima.

Cada apparelho pode produzir por dia 30 kilogrammas de borracha e se pelos antigos processos primitivos, manuaes, se num anno obtinham 20 tonelladas, com o triturador e lavador Schmoele produzir-se-hão 80, sendo a qualidade superior.

Ás experiencias assistiram, por parte da direcção da Companhia do Bango, os srs. capitão de fragata Hypacio de Brion e João da Fonseca Cruz, e por parte do conselho fiscal o sr. dr. José Bernardino Gonçalves Teixeira, e os seguintes convidados: conselheiro Custodio Borja, Manuel Castanheira de Almeida, engenheiros Jorge Payne, Maximiliano Appolinario, Bandeira de Mello e J. Harker; Joaquim Pedro Judice Bicker, contra-almirante Hermenegildo Capello, africanista E. Stuck, conselheiro Petra Vianna, tenente-coronel Arthur de Mello, representantes da imprensa, etc.

Aos presentes foi offerecido um delicado «lunch», que deu occasião a brindes muito cordeaes ás prosperidades da companhia.

O apparelho que hontem vimos funccionar, compunha-se menos de «meio jogo» pois que completo comprehende o apparelho triturador dois cylindros com quatro compartimentos.