O proximo eclipse do sol
A physica solar e os eclipses
A theoria elementar dos eclipses do sol ou da lua é d’uma simplicidade infantil. Quando a lua passa pelo cone da sombra, que projecta a terra illuminada pelo sol, ha eclipse da lua.
Na noite de 14 para 15 de agosto, por exemplo, a lua que estava cheia, isto é na opposição, appareceu entre as 3 e as 5 da manhã chanfrada no rebordo; via-se, com um simples binoculo, muito bem, que esta apparencia era devida a uma sombra espessa, que invadia progressivamente o astro: esta sombra regular, limitada por um arco de circulo, não podia confundir-se com a escuridão momentanea, que produziam em certos momentos as nuvens correndo velozes no ceu tempestuoso.
Quando, pelo contrario, o nosso satellite se colloca entre o sol e a terra, o astro central fica occulto na totalidade ou em parte para os observadores situados d’uma estreita faixa da superficie terrestre: ha então eclipse de sol; no dia 30 em certas regiões, poder-se-ha assistir a um phenomeno d’esta natureza, e o espectaculo impressionará tanto mais quanto mais perto se estiver da zona de totalidade.
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O desenho acima [sic] incerto [sic], mostra que a zona privilegiada, onde o sol ficará inteiramente occulto pela lua durante mais de tres minutos, se estende numa faixa sobre a Hespanha e norte de Africa, desde Oviedo a Sfax[.] As curvas parallelas a esta faixa, que vão indicadas pelos numeros XI, X, IX, passam pelos pontos onde o eclipse parcial mais se accentua.
Um dos nossos desenhos mostra as phases maximas do eclipse comparativamente em Paris, Bordéos [sic] e Argel.
Taes phenomenos são imponentes e curiosos para todos, mas teem para os astronomos uma importancia especial. A sua observação, ou melhor o seu registo photographico dá o meio de estudar certos problemas curiosos. A astronomia mathematica conseguiu ha muito tempo medir as dimensões do sol, a sua distancia á terra, o seu peso, a sua densidade media; mas isso não basta para nos explicar essa irradiação poderosa e complexa de calor, de luz, de energia chimica e até electrica que nos envia o astro do dia, e á qual está indissoluvelmente ligada a vida dos animaes e das plantas. Quiz-se perscrutar a composição intima do sol, estudar a sua estructura, penetrar o mysterio dos phenomenos physicos e chimicos que se passam nas suas camadas superficiaes, e tudo isto apesar da enorme distancia de 150 milhões de kilometros, que separa o nosso pequeno planeta da enorme estrella em redor do [sic] qual ele gravita.
Visto por um pequeno oculo, o sol apparece nos com um contorno apparente circular e bem delimitado; mas na realidade, a camada que vemos assim, e que nos parece ser a superficie externa do astro, é apenas uma zona media que nos tapa as camadas mais profundas, e que, com o seu brilho luminoso nos dissimula as regiões mais exteriores.
Do interior do sol não sabemos nada, senão que reina ali, provavelmente, uma alta temperatura, e que é constituido (attendendo á densidade media) por vapores sob pressão. A primeira camada visivel recebeu o nome de photosphera (do grego phôtos, luz) por causa da luz intensa que d’ella emana; o brilho da sua superficie não é uniforme; vêem-se ali partes mais brilhantes separadas or espaços menos luminosos, que desenham uma especie de rêde. Este aspecto foi photographado.
As manchas do sol, de que tanto se tem falado, apparecem como excavações negras ou d’um vermelho carregado na photosphera, que se nos affigura como rasgada n’estes pontos. Outras regiões da photosphera distinguem-se pelo contrario pela intensidade do seu brilho luminoso.
De todas estas observações concluiu-se que a photosphera é constituida por nuvens que formam uma camada quasi ininterrupta. Estas nuvens luminosissimas seriam productos de vapores menos quentes que as das camadas mais profundas, e parcialmente condensadas.
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Durante os eclipses totaes, no momento em que a photosphera está inteiramente occulta, distingue-se na superficie da lua uma especie de linguetas vermelhas, que só attrahiram a attenção dos astronomos depois de 1842; julgou-se a principio que eram illusões de optica produzidas por montanhas ou por amfractuosidades do rebordo da lua.
Arago foi o primeiro que sustentou que estas protuberancias, como se lhes chama, eram objectos reaes, pertencentes ao sol e situados nas camadas exteriores da photosphera.
Sabe-se hoje, sem duvida, que a luz emittida pelas protuberancias, analysada por meio d’um prisma, dá um espectro formado de raios isolados, como os gazes incandescentes; pode-se até affirmar que as protuberancias conteem principalmente hydrogenio.
As protuberancias não são outra coisa senão enormes jactos de hydrogenio e de vapores metallicos, leves, verdadeiras erupções gazozas arremessando-se da photosphera com velocidades iniciaes que podem attingir 600 a 700 kilometros por segundo.
Tem-se visto durante alguns eclipses totaes as protuberancias estenderem-se até setecentos mil kilometros do rebordo do sol.
Hoje o progresso dos estudos expectrotroscopicos [sic] permittim [sic] observar em qualquer tempo as protuberancias sobre o sol; mas no momento dos eclipses, o estudo directo da camada d’onde elles jorram apresenta ainda um grande interesse. Esta camada exterior á photosphera, é colorida d’um rosado vivo, e recebeu o nome de chrosmophera (do grego «chrosmo» cor).
Para além ainda, e até uma distancia superior ao diametro do astro, estende-se a atmosphera solar, que é luminosa por si mesmo, mas cujo brilho, apenas egual ao da lua cheia, é demasiado fraco para que se possa estudar a sua irradiação fóra dos eclipses.
É só quando o disco inteiro do sol está ensombrado pela lua que se vê desenhar em redor d’este astro negro uma gloria, uma aureola luminosa, conhecida ha muito tempo pelo nome de «corôa solar».
A corôa é formada de gazes muito rarefeitos, ainda muito quentes (talvez 2:000 graus) e nos quaes parecem fluctuar particulas solidas ou liquidas; a sua composição, a sua estructura physica só são imperfeitamente conhecidas, visto como até o presente foi impossivel estudal-as fóra dos eclipses; é então sobre a corôa ou atmosphera solar que no dia 30 do corrente, a maior parte dos astronomos farão as suas investigações.